segunda-feira, 29 de junho de 2009

Contra a instabilidade climatérica...fez-se MOUVA

Nem de propósito, uma manfifestação contra as condições climatéricas. Vale a pena apreciar toda a iniciativa na edição eletrónica do diário I, em http://www.ionline.pt/conteudos/home.html.
Pela Palhaça a manifestação foi outra...Mouva, mesmo sob a ameaça de uma dança de nuvens ao longo do dia. Apesar da ameaça de chuva de manhã, um "boicote" claro ao entusiasmo matinal para vendedores e organização, o Mouva provou que vive da iniciativa e vontade de vendedores e trausentes. A chuva passou, as nuvens foram-se passeando, a animação cancelada por segurança, mas o Mouva foi acontecendo ao longo do dia. A praça foi sendo local de passagem para satisfação dos vendedores que, contra todas as intempéries e ameaças, decidiram fazer da Praça de S.Pedro a sua sala de estar de domingo.


Um dia que se fez quente e agradável, agora com espaço renovado para as crianças que ganharam não um mas dois parques infantis segundo mandam as normas. Foi um prazer ver o parque repleto ao longo do dia.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

MO(U)VA vida na Palhaça


Programa
12h/15h - Ioga do riso (com Vanessa Correia, CITAC);
12h15 - Infantário da Praça: Actividades para crianças com histórias e desenho
11h/15h - Actuação da dupla BD (Alunos de violino e guitarra da Escola de Artes da Bairrada);
10h/16h - Performances interactivas (por actores do CITAC -Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra);
10h/16h - Exposição de fotografias: "Praças" (Última oportunidade)

terça-feira, 23 de junho de 2009

LENGA-LONGA: Portugal (também) é isto

Self-made coisa e tal
Fabricante de bandeira
Kit-Kat, Capital
Luna Park de fronteira
Falocrata à paisana
Pico pico saramico
Sanduíche americana,
Quem te deu tamanho bico?
Senta-te, não caias
Cala e come a tua mão
Menino, saia das saias
Homem não se quer chorão!
Ai não queres, adeus viola
Quem pode não sai de cima
Da foda não reza a escola
Muito perdoa quem rima
Muita carne de terceira,
Com molho tudo se engole
Pergunte à alternadeira
Se a moral não anda mole
Central talvez nuclear
Guerra sempre preventiva
Gasolina pró jantar
Que a gente em nada se priva
Era uma vez um paísà beira mar chamuscado
Porque Deus assim o quis
De cinza e negro pintado
Era uma vez uma terra
De lá vem um lá vão dois
Onde a carroça se enterra
Terão de passar os bois
Nem tanto ao mar
Nem tanto à terra
A gente ladra ao luar
Mas à luz do sol não ferra
Gira lá roda da sorte
Gosto de ouvir-te chiar
Pois do berço até à morte
Me deixarei embalar
Caluda, bolinha baixa
O Salazar é que era
O povo a toque de caixa
Nesses tempos quem me dera!
Futebol de canapé
Nossa Senhora da Bola
Tenho medo e tenho fé
Cerveja com muita gola
Oh Senhora dos Parolos
Que fazes numa azinheira?
Precisamos é de golos
E missa futeboleira!
Se é pobre é porque tem culpa
Se é preto, tirem-lhe a tosse
Se é puta que pague a multa
E se é puto antes não fosse
Se é bicha, jaula com ela
Se é bicho, atira a matar
Se é jovem não lhe dês trela
Se é cota não tem lugar
Se é doente já não presta
Se é carente compre um cão
Se é urgente não tem pressa
Se caiu, deixa no chão.
Rebeubéu pardais ao ninho
Portugal engole sapos
No sótão, só macaquinhos
Na cave, gatos-sapatos
Nem tanto ao mar
Nem tanto à terra
A noite ladra ao luar
Mas à luz do sol não ferra

Ouvir aqui: Ana Deus (voz) + Regina Guimarães (letra)

domingo, 21 de junho de 2009

Memória de Carlos Candal


Suscitava, e há-de continuar a suscitar, discussão. O que é revelador da saliente personalidade do ilustre aveirense que agora desaparece. Um homem truculento e ao mesmo tempo afectuoso no trato, que fracturava, avesso a consensos moles. Frontal e irreverente.

É assim, sem biombos, que me apetece falar do histórico militante socialista Carlos Candal, embora saiba que o post mortem continua ser o estado mais propício ao aguçar das virtudes e do reconhecimento público e ao branquear dos defeitos da nossa humana condição.

Homem exímio a manusear o látego da ironia, flagelava e era flagelado por opositores ou declarados adversários políticos. Nos anos de brasa da revolução de Abril, o MRPP chamava-lhe o “trinca boquilhas”. E quando passou a fumar charutos, era acusado de andar sempre com o símbolo fálico a bailar-lhe na boca. Ele, por sua vez, retrucava da mesma maneira: quando Mário Soares colocou o socialismo na gaveta e promoveu alianças à direita, apelidou-o de “bailarina política”. Assim mesmo. Vicente Jorge Silva chamou-lhe “republicano bolorento” mas não ficou sem resposta: de imediato foi apodado de “revolucionário reciclado”. E há bem pouco tempo, quando Manuel Alegre começou a entoar um canto desconforme com a maioria política do momento, Candal não teve pejo em afirmar que ele estava é a precisar de “um chuto”.

Eis o desassombro, a braveza física e moral de um homem que nunca hesitou em noivar a liberdade, mesmo no tempo em que outros se compraziam em cortejar a ditadura. Em 1969 e 1973, Aveiro foi palco de dois congressos republicanos. Candal, candidato a deputado pela oposição, assumiu importante papel na organização do primeiro.

O seu “Breve Manifesto Anti-Portas em Português Suave”, um libelo acusatório salpicado de bairrismo contra os políticos de Lisboa que se aprestavam para tomar de assalto a sua cidade – gente que, como costumava dizer Mário Sacramento, só começou a comer ovos moles em idades muito avançadas... – causou alguma indignação e fez estremecer certas almas bem pensantes. A verdadeira pedrada no charco de uma campanha sensaborona e da política liofilizada. Numa reacção hipócrita, Guterres retirou-lhe a confiança política e alguns jornalistas tentaram crucificá-lo, não resistindo a insultar como coiotes o velho leão ferido. Torquato Sepúlveda, por exemplo, chamou-lhe “cowboy” de um “western spaghetti”. Mas Candal resistiu. Foi até Bruxelas e refez a carreira, sempre apostado em pôr um pouco mais de sal ou picante na política.

Falei com ele apenas duas vezes. Uma na própria residência em Aveiro, situada a meio da Av. Dr. Lourenço Peixinho. Tinha ido lá solicitar parte do espólio de Homem Cristo, que sua esposa, a Dra. Isabel Cerqueira, prima de Zeca Afonso, conservava. A outra foi em Oliveira de Azeméis, pouco tempo depois, e num encontro meramente fortuito. Meteu-se comigo, naquele tom mordaz e jocoso que o caracterizava, concedendo-me a liberdade de lhe dizer: o Sr. Dr. tem a curva da prosperidade um pouco mais saliente do que no dia em que o conheci. Ao que ele respondeu, com aquela peculiar voz cavernosa e sem pestanejar, fazendo jus a um certo marialvismo lusitano a que muitos o colavam: deixe lá, as primas gostam...

Mais do que um homem de partido, Candal gostava de tomar partido. Esteve praticamente sempre do lado contrário ao dos seus correlegionários que assumiam o poder. Por isso o seduzia tanto a advocacia, a guerra de palavras, a luta, a tensão permanente.

Sem tiques de vedetismo ou ambições carreiristas, o advogado de província finou-se um dia destes. Consta que mal recuperou do acidente que o acometeu, em plena campanha para as europeias, terá pedido um charuto.
Oxalá que do alto dos seus charutos nos continue a inquietar, com a mesma atitude desafiadora que sempre teve perante a vida.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nostalgia - Coimbra, Palhaça

A APARIÇÃO (clique aqui, se lhe apetecer)


na varanda de uma casa da Alta,
com vista para a cidade abaixo,
parte descurada, feia e suja,
parte misteriosa,
ouvi, hoje, uma flauta de amolador.

estou quase certo de que «A Aparição» ocorreu... na Praça 8 de Maio, na Baixa:

não eram os pastores («ainda há pastores?»),
nem uma narco-alucinação ou crença chamada Virgem Maria,
nem o amolador (mas também era),
não eram as facas, as tesouras ou os canivetes a afiar (mas também eram).

era a nostalgia.
era a raridade.
era a música em fuga.
era o elogio do que está para desaparecer.
ou do que está para vir,
se quisermos.

estou em Coimbra
e recuei a uma certa Palhaça:
a Palhaça da infância,
quando e onde não sabia o que era a ganância.
quando e onde pensava que só havia ou gente boa ou gente má,
quando não sabia que, afinal, uma pessoa pode ser boa e má,
sem isso ser assim tão estranho (apenas humano).

o som desta flauta, ecoando pela cidade, tem personalidade,
tem estilo próprio,
é assim aqui,
era assim na infância,
é assim imortalizado n' «O Assobio (Canção do Avô)».

já nem sei se ainda passa por aí - Palhaça - algum amolador.
fazem falta. nem que seja para nos afiar, ou desafiar.

devia correr por aí à procura de todas as facas e tesouras guardadas em todas a gavetas frescas deste país, para as afiar...
ou... para não deixar morrer o fugaz «sonido» quase ido.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Charada

Ele esteve na Palhaça... ou é impressão minha?

sábado, 13 de junho de 2009

Que havemos de fazer com a liberdade, ou o que há-de a liberdade fazer de nós? A liberdade política é ganho irrecusável da civilização e da cultura, fruto arduamente acumulado da experiência e da reflexão humanas. Possível, além do mais, quando à consistência da vida sócio-económica e cultural se somou a maior disposição de si mesmo, juntando-se a lógica reivindicação de participação e decisão na coisa pública.Realidade esta não isenta do estímulo e ensaio que lhe foram proporcionados pelas comunidades cristãs, dos Actos dos Apóstolos à vida “consagrada” dos mosteiros e conventos (possibilidade de ascensão social em tempos muito estratificados, maior liberdade para contrair casamento ou tomar outra opção, autoridade feminina nas instituições e iniciativas religiosas, etc.).Como pretendeu Fukuyama, a história já teria atingido o seu objectivo, ao realizar as duas grandes motivações do seu processo, sintetizado com Hegel no desejo humano - em relação ao que cada um necessita para se manter e crescer - e no reconhecimento que esperamos dos outros em relação à nossa dignidade própria. Ambos - desejo e reconhecimento - se realizariam na democracia liberal, que, sendo o termo da evolução ideológica da humanidade e a forma final do governo humano, constituiria como que o fim da história (cf. Fukuyama, F. - O fim da história e o último homem. Lisboa: Gradiva, 1992, p. 13-14). No entanto, o rescaldo do século XX, certamente um dos mais trágicos e brutais da história humana, leva-nos a considerar que a acepção política da liberdade não basta. Apesar dos indesmentíveis ganhos conseguidos neste capítulo, ainda se fica mais pelo quantitativo e formal do que pelo qualitativo e realmente novo.Aliás, a desilusão ideológica recente retraiu a liberdade para o domínio do sentimento individual, entre o devaneio e a ambição. Podemos alargar o âmbito do que escreveu Bento XVI na sua Mensagem de 1 de Janeiro passado, Dia Mundial da Paz: “A própria crise recente demonstra como a actividade financeira seja às vezes guiada por lógicas puramente auto-referenciais e desprovidas de consideração pelo bem comum a longo prazo” (Mensagem, nº 10).Não será então melhor considerar a liberdade como dinamismo intrínseco a desenvolver responsavelmente, isto é, conjugado com a liberdade dos outros e do Outro, só assim nos adequando à realidade, ou seja, à verdade? [...]Se no século XIX tentámos traduzir politicamente a liberdade, no regime constitucional e representativo; se o século XX viu sucessivas ideologias reduzirem a liberdade a “pedagogias” opostas, que deixaram em saldo o relativismo pós-moderno… - Não estaremos na altura de considerar a liberdade como dinamismo e capacitação para alcançarmos, pelo acolhimento mútuo e interactivo, um patamar de realidade em que caibamos todos e nos reconheçamos na humanidade comum – essa mesma em que nós, os crentes, confessamos a incarnação de Deus, definitivamente aquém e sempre mais além?

D. Manuel Clemente

Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociaisna 5.ª Jornada da Pastoral da Cultura, Fátima, 05.06.2009

(Colaboração de HVTV)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Resultados das Eleições Europeias

Tarde ou não, aqui estão os resultados da Palhaça:


BE
40
4,15%

CDS-PP
133
13,80%

CDU-PCP-PEV
14
1,45%

MEP
11
1,14%

MMS
13
1,35%

MPT
5
0,52%

PCTP/MRPP
4
0,41%

PH
2
0,21%

PNR
0
0,00%

POUS
1
0,10%

PPM
2
0,21%

PS
92
9,54%

PPD/PSD
575
59,65%

Abstenção
1537
61,46%
63,92%

Votantes
964
38,54%
36,08%

Nulos
22
2,28%
1,17%

Brancos
50
5,19%
4,54%


Ver outros resultados em: http://sic.aeiou.pt/online/noticias/portugal2009/resultados

Salgueiro Maia, capitão de Abril (ou a homenagem que peca por tardia)

Aconteceu há vinte anos, era então Cavaco Silva primeiro-ministro de Portugal. Tal como hoje, havia um governo de maioria absoluta, que era autista e confundia autoridade com autoritarismo. Cavaco Silva desdenhava da imprensa, proclamava aos quatro ventos que não lia jornais, que nunca tinha dúvidas e que raramente se enganava. Em dia de greve geral, uma das maiores de que há memória na democracia portuguesa, atreveu-se a negar para as televisões o que era óbvio aos olhos de todos: que não tinha dado pela greve, pois logo pela manhã, ao sair de casa, tomara tranquilamente o pequeno-almoço na pastelaria do costume...

Será mesmo verdade que o poder absoluto corrompe absolutamente? Se não corrompe, pelo menos cega. E o pior cego não é o que não vê, mas o que não quer ver. Cavaco recusou-se a ver a greve geral, tal como Sócrates se recusou a ver a manifestação pública de cem mil professores. O desdém e o desprezo absoluto, como se os grevistas, num caso, e os professores, no outro, não existissem. A mesma vontade deliberada de os silenciar, de os reduzir ao nada, de domesticar as consciências. Só através do voto se aperceberam, um e outro, que afinal eles existem.

Em 1989, do alto da sua maioria absoluta, Cavaco Silva recusou uma pensão a Salgueiro Maia, talvez o mais puro e lídimo capitão de Abril. O escândalo tornou-se maior quando veio a público que essa recusa coincidiu com a atribuição, pelo seu executivo, de idêntica pensão a dois inspectores da extinta PIDE. Há gestos que dizem tudo: Cavaco Silva, que talvez nunca tivesse chegado a primeiro-ministro ou a Presidente da República se não existisse democracia em Portugal, ignorou o homem que saiu do ventre de uma chaimite, para erguer o corpo em haste de coragem e de megafone em punho anunciar Abril, exigindo a rendição de Marcelo Caetano no quartel do Carmo. E pareceu ignorar, também, que a PIDE negava a liberdade e a democracia, esquecendo as palavras avisadas de Hannah Arendt: todos os despotismos se apoiam na polícia secreta.

Ao contrário de tanta gente que a polícia política perseguiu e prendeu por cometer o crime de querer viver em liberdade, os torcionários tiveram rédea livre para viver num qualquer recanto perdido da democracia. Alguns foram mesmo agraciados com pensões pelo regime a que se opuseram ferozmente. Um dos dois a quem o executivo de Cavaco Silva não recusou a pensão por “serviços relevante prestados ao país” esteve entrincheirado na Rua António Maria Cardoso, a sede da polícia política, e terá estado envolvido nos disparos contra os manifestantes que causaram os primeiros mortos da revolução. Estranha dualidade de critérios...

Entretanto, porque morrem cedo aqueles que os deuses amam, Salgueiro Maia viria a falecer em 3 de Abril de 1992. Choraram-no, então, os que nunca o mereceram. Os que sempre lhe recusaram promoções. Os que o arrumaram na prateleira da rotina militar. Os que consentiram e o condenaram ao desterro açoriano. Os que têm sempre à mão o lenço nacional para enxugar as lagrimetas de ocasião.

Cavaco Silva tenta agora reparar a gritante injustiça. Deposita hoje, 10 de Junho de 2009, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, uma coroa de flores junto à estátua do capitão de Abril. Mas o Presidente da República perdeu a oportunidade soberana de homenagear, no tempo certo, aquele que em vida sofreu a ingratidão de ver recusada a mesma pensão, pelo regime democrático que ajudou a construir, atribuída a dois algozes desse mesmo regime.

Conseguirá, com esse gesto, limpar a nódoa que ainda mancha o sudário de generosidade e coragem que envolve o capitão Salgueiro Maia? A democracia aprende-se, aperfeiçoa-se e exercita-se. Cavaco Silva, como toda a gente, terá evoluído, não será a mesma pessoa de há vinte anos, já reconhece que também se engana e que tem dúvidas.

Por mim, acredito que o seu gesto, embora tardio, é sincero. Não é fácil estar frente a frente com o passado, olhos nos olhos, quando não se tem a consciência tranquila. Saber assumir os erros só revela a grandeza do gesto. Por isso eu, que tanto me indignei com Cavaco Silva há vinte anos, estou disposto a perdoar-lhe. Escrevi este texto porque não esqueço. Porque sigo a divisa: perdoa, mas não esqueças.

«Direita ganha, mas Europa perde»

««1. Muita coisa estava em jogo nestas eleições europeias. O desencanto crescente dos eleitores com a Europa e com as elites políticas que os governam e que a governam. A medida da revolta e da incerteza provocada pela crise económica e financeira e pelas suas pesadas consequências sociais. A crise foi o princípio e o fim de todas as campanhas, foi ela que as "nacionalizou" e que ajudou a apagar a bandeira europeia. A oportunidade para os partidos dos extremos e as correntes populistas conquistar espaço na carta política nacional e europeia. Com os resultados disponíveis nos 27 países da União Europeia, a primeira conclusão possível é que o centro-direita foi, de uma forma geral, o vencedor destas eleições. Esta vitória, que permitirá ao Partido Popular Europeu (PPE) manter a posição confortável de maior partido do Parlamento Europeu, é tanto mais relevante quanto 21 dos 27 governos europeus são liderados por partidos conservadores. A noite correu particularmente bem para os governos dos dois países centrais da integração europeia. Na França, Nicolas Sarkozy não pode, de modo nenhum, queixar-se dos resultados. Na Alemanha, Angela Merkel, mesmo perdendo alguma coisa em relação às últimas europeias, conquistou uma confortável posição de partida para as eleições de Setembro. Nos dois casos, qualquer dissabor foi largamente compensado pela sorte dos dois principais rivais do centro-esquerda. O PS de Martine Aubry confirmou amargamente nas urnas que não consegue afirmar-se como alternativa à UMP do Presidente. Sofreu a suprema humilhação de empatar com a Europe-Ecologie de Daniel Cohn-Bendit. Na Alemanha, o SPD, que é o partido júnior da "grande coligação", não também conseguiu afirmar-se como uma alternativa capaz de desafiar a chanceler. Perdeu pouco, é verdade, mas os cerca de 20 por cento que obteve são largamente insuficientes. A noite eleitoral também correu bem a Sílvio Berlusconi e à sua "Casa das Liberdades". Nenhum escândalo, e foram vários, parece conseguir desmoralizá-lo aos olhos dos eleitores italianos. Deixou muito longe os Democratas de Prodi. O seu discurso radical contra os imigrantes e contra a insegurança continua a dar frutos.

2. Houve, naturalmente, governos conservadores penalizados e partidos sociais-democratas na oposição premiados. Os sociais-democratas suecos e dinamarqueses ganharam as eleições. São partidos de centro-esquerda tradicionalmente fortes. O PASOK grego ficou muito à frente dos conservadores da Nova Democracia que governam desde 2007. Mas isso não impede a segunda conclusão: que a crise foi mais adversa para os partidos de centro-esquerda no poder. Foi essa a regra em Londres, Madrid ou Lisboa, mas também em Budapeste ou em Viena. Nem todas as derrotas têm a mesma dimensão. No Reino Unido, os resultados de Gordon Brown arriscam-se a ser o prego que faltava para o seu enterro político. Mas, se chegou a haver a convicção de que esta crise, ao pôr fim ao domínio da ideologia liberal, seria uma oportunidade para o centro-esquerda, os resultados destas estas eleições não o demonstraram.Parecem revelar outra coisa: que o medo e a incerteza podem ser mais facilmente aproveitados pelo discurso anti-imigrantes, anti-Europa e anti-sistema. Na Holanda, na Áustria, em Budapeste nas suas versões mais xenófobas e radicais. Noutros países em versões mais tradicionais.

3. A Europa é também um grande derrotado das eleições europeias. Não apenas por ter estado em boa medida ausente das campanhas eleitorais, mas porque uma maioria de eleitores decidiu não ir votar. Desde 1979, nas primeiras eleições directas para o PE (quando a Europa era apenas a Nove), que os eleitores se vêm afastando cada vez mais das urnas, de cada vez que são chamados a elegê-lo. Desta vez, a abstenção parece ter atingido um valor recorde.Na França ou em Portugal esse valor foi mesmo o pior de sempre. A média europeia de afluência às urnas não ultrapassa os 40 por cento. O desinteresse (ou o protesto) parece ser ainda maior nos países da Europa Central e de Leste, que entraram em 2004, que foram duramente afectados pela crise e cujos sistemas políticos são mais frágeis e mais voláteis. Na leitura dos números, não é fácil distinguir entre o que resultou da decepção em relação à Europa e o que representa a desilusão bastante generalizada com as elites políticas nacionais. O receio do futuro, a percepção de que Bruxelas teve um fraco papel na reacção à crise, a ausência de um discurso europeu que faça sentido para os tempos de hoje, em que tudo está em mudança, podem ajudar a explicar muita coisa. Não inibem os líderes europeus de tirar também dos resultados nacionais algumas conclusões europeias».

[Artigo de opinião de Teresa de Sousa, in Público]

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Campanha Lateral

Perguntei-lhes onde ficava, afinal, a campa da campanha eleitoral.
Tinha flores no regaço para lá levar,
E uma leve esperança de avistar uma democratix fénix.

«As previsões do Banco das Urnas de Portugal dizem que não acaba tão cedo», cantam, em uníssono, os jornalistas.

O que é uma campanha eleitoral, senão uma apanha de postos?

Tudo a postos? A maratona vai prosseguir:
«toma, toma, leva, leva, apanha, apanha»?

Beijo aqui, puxão de cabelo e abraço ali.
A Europa? Mal a ouvi.

Lá ao fundo, um acampamento junto às urnas.
São os carreiristas partidaristas devotos.
Para a contagem de votos.


Gritam:
«São números, senhores, sois números...»

(Oops, fugiu-lhes, à boca das urnas, a boca para a verdade)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aos democratas

De que vale a liberdade, se não crio?
Mais: de que vale a liberdade, se não cuido?

PC

Vem aí o «Festim»...


E passa por Oliveira do Bairro.



+ Infos aqui

terça-feira, 2 de junho de 2009

Movimento Pela Igualdade

«A igualdade no acesso ao casamento civil é uma questão de justiça que merece o apoio de todas as pessoas que se opõem à homofobia e à discriminação. Partindo da sociedade civil, a luta pelo acesso ao casamento para casais de pessoas do mesmo sexo em Portugal conta neste momento com um crescente apoio político e social. Nós, cidadãos e cidadãs que acreditamos na igualdade de direitos, de dignidade e reconhecimento para todas e todos nós, para as/os nossas/os familiares, amigas/os, e colegas, juntamos as nossas vozes para manifestarmos o nosso apoio à igualdade. Exigimos esta mudança necessária, justa e urgente porque sabemos que a actual situação de desigualdade fractura a sociedade entre pessoas incluídas e pessoas excluídas, entre pessoas privilegiadas e pessoas marginalizadas; Porque sabemos que esta alteração legal é uma questão de direitos fundamentais e humanos, e de respeito pela dignidade de todas as pessoas; Porque sabemos que é no reconhecimento pleno da vida conjugal e familiar dos casais do mesmo sexo que se joga o respeito colectivo por todas as pessoas, independentemente da orientação sexual, e pelas famílias com mães e pais LGBT, que já são hoje parte da diversidade da nossa sociedade; Porque sabemos que a igualdade no acesso ao casamento civil por casais do mesmo sexo não afectará nem a liberdade religiosa nem o acesso ao casamento civil por parte de casais de sexo diferente; Porque sabemos que a igualdade nada retira a ninguém, mas antes alarga os mesmos direitos a mais pessoas, acrescentando dignidade, respeito, reconhecimento e liberdade. Em 2009 celebra-se o 40º aniversário da revolta de Stonewall, data simbólica do início do movimento dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros. O movimento LGBT trouxe para as democracias - e como antes o haviam feito os movimentos das mulheres e dos/as negros/as - o imperativo da luta contra a discriminação e, especificamente, do reconhecimento da orientação sexual e da identidade de género como categorias segundo as quais ninguém pode ser privilegiado ou discriminado. Hoje esta luta é de toda a cidadania, de todos e todas nós, homens e mulheres que recusamos o preconceito e que desejamos reparar séculos de repressão, violência, sofrimento e dor. O reconhecimento da plena igualdade foi já assegurado em várias democracias, como os Países Baixos, a Bélgica, o Canadá, a Espanha, a África do Sul, a Noruega, a Suécia e em vários estados dos EUA. Entre nós, temos agora uma oportunidade para pôr fim a uma das últimas discriminações injustificadas inscritas na nossa lei. Cabe-nos garantir que Portugal se coloque na linha da frente da luta pelos direitos fundamentais e pela igualdade. O acesso ao casamento civil por parte de casais do mesmo sexo, em condições de plena igualdade com os casais de sexo diferente, não trará apenas justiça, igualdade e dignidade às vidas de mulheres e de homens LGBT. Dignificará também a nossa democracia e cada um e cada uma de nós enquanto cidadãos e cidadãs solidários/as – e será um passo fundamental na luta contra a discriminação e em direcção à igualdade».

http://www.petitiononline.com/mpi/petition.html

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Criança

No dia mundial da criança e para aprendermos a olhar os desenhos das nossas e aquilo que, diante nós, "desenham" as crianças, não só com lápis...

Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros (1893-1970)

(Colaboração de HVTV)