Aproximam-se as eleições
autárquicas. Acelera o regime de funcionamento do campo político. Aparecem os
primeiros cartazes, ou não vivêssemos na civilização da imagem. Nela, o cartaz,
meio de comunicação por excelência, ocupa um lugar especial enquanto elemento
gráfico.
Dos cartazes já colocados na
Palhaça, um do Partido Social Democrata e outro do movimento Unidos por
Oliveira do Bairro (UPOB) merecem a nossa reflexão. Nem um nem outro parecem
suficientemente conseguidos. Em nenhum deles as regras básicas de comunicação
parecem cumprir o seu objectivo essencial: uma descodificação da mensagem pelo
receptor, capaz de ir ao encontro daquilo que o emissor pretendeu transmitir.
Comecemos pelo cartaz do PSD, que
nos apresenta a seguinte frase: “A confiança em quem se conhece”. Ora quem a
população da Palhaça conhece à frente dos destinos da freguesia, nos últimos
oito anos, é Manuel Augusto Martins. A tendência é para se evocar o passado
recente e não o passado mais remoto, embora em qualquer dos casos só possamos
recordar partes do que já passou. Podemos recordar o passado mais antigo, mas a
luz que nele incide não alcança tudo, há uma parte que pertence já ao mundo das
trevas. Acontece que Manuel Augusto Martins é o candidato do UPOB à Junta de
Freguesia da Palhaça, depois de ter desempenhado essas funções ao serviço do
PSD.
O candidato do PSD – Manuel
Carvalho – também já foi Presidente de Junta e nem sequer está em causa a sua
dedicação ao serviço da freguesia. Acontece que a marcha do tempo é inexorável,
na medida em que há uma incessante mudança do presente em passado. Ao fim de
oito anos sem o protagonismo que teve enquanto gestor autárquico, deixou de
estar iluminado pelos holofotes da publicidade e, quando assim acontece, começa a tecer-se o inevitável e por vezes injusto manto do
esquecimento. “A confiança em quem se conhece” parece não surtir o efeito
desejado: remete mais para aquilo que o PSD hoje rejeita do que para aquilo que
lhe interessa promover.
Passemos ao cartaz do UPOB, onde
as coisas parecem ser ainda mais complicadas. O cartaz apresenta-nos o topónimo
Palhaça com o texto invertido. Já há quem fale, com algum desagrado, em
“Palhaça do avesso” e em “Palhaça de pernas para o ar”. E nestas coisas,
sabemos bem, o bairrismo conta muito, o bairrismo ainda é o que era.
O efeito visual deste cartaz até
é conseguido, pois permite chamar a atenção e provocar algum espanto. E também faz
passar a ideia positiva de que o UPOB quer virar a página, mudar as coisas para
melhor. Mas o problema não é esse. O problema é que um cartaz bem concebido – e,
nessa medida, bem conseguido – não é só o que consegue captar a atenção
daqueles a quem se destina: é também o que transmite a informação que se
pretende. E é precisamente aqui que o cartaz parece falhar. Vejamos porquê.
Em primeiro lugar, os eleitores
palhacenses não têm da sua terra uma imagem de pernas para o ar. Têm dela – e
os restantes munícipes do concelho também - a imagem de uma terra de gente
dinâmica, progressiva, que se desmultiplica em actividades e não regateia
esforços para a tornar cada vez mais apetecível. Uma terra com uma sala de
visitas – que é a Praça de S. Pedro – sempre embelezada e apreciada pelos
forasteiros, cada vez mais a fervilhar em actividades comercias e de
restauração; uma terra com duas feiras mensais que continuam a resistir aos
cânticos de sereia da modernidade que desagua nos supermercados, hipermercados
e outras superfícies comerciais; uma terra que conta com o envolvimento
empenhado da sua Igreja e da comunidade local e é capaz de nos brindar com a
belíssima representação da Paixão de Cristo; uma terra que preserva os seus correios,
o serviço local de saúde e agências bancárias, instala o pólo de leitura,
assegura o acolhimento dos mais novos e dos mais velhos nas suas instituições
de solidariedade social e possui uma zona industrial em expansão; uma terra que
conta com o dinamismo das suas associações (Grupo de Escuteiros, ADREP, Grupo
de Cantares) e que promove actividades tão variadas como teatro, quinzena
cultural, cortejo dos reis, marchas populares, festival da canção e outras
mais), uma terra destas não é uma terra de pernas para o ar. Manifestar intenção
de fazer melhor é louvável, mas esse desejo não pode suprimir o mérito do que
já foi feito e muito menos de quem o fez.
Em segundo lugar, transmitir a
ideia de que a Palhaça está de pernas para o ar e que o UPOB se propõe inverter
esse ciclo, pode suscitar, nos eleitores, uma reflexão sobre as duas seguintes
hipóteses:
Primeira hipótese: a Palhaça já estava de pernas para o ar
quando, há oito anos, Manuel Augusto Martins assumiu os destinos da freguesia.
A ser esta hipótese verdadeira, então forçoso é concluir que durante os últimos
oito anos do seu mandato o actual candidato do UPOB se mostrou incapaz de
inverter a situação.
Segunda hipótese: a Palhaça ficou
de pernas para o ar durante a gestão de Manuel Augusto Martins, o que, se fosse
verdade, em nada abonaria a favor da sua capacidade para gerir os destinos da
freguesia.
Dito isto, pode concluir-se que
nenhum dos cartazes aqui analisados difunde uma mensagem publicitária
inspiradora ou motivadora. Qualquer cartaz em que as pessoas não entendem o que
se pretende comunicar, ou em que o mesmo provoca o efeito contrário do
pretendido, será sempre um cartaz inútil.