sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

“YES, WEEKEND“

Espigueiros do Lindoso. Fotografia J. Braga.

JF no Sec. XXI …………..



Não querendo sequer usar este artigo e o próprio Blog, para fazer qualquer exercício político, gostaria que ao lerem este apontamento o vissem como uma visão meramente pessoal, passível de ser aproveitado por quem de direito e nunca como crítica destrutiva aos Homens e Mulheres da nossa freguesia que tem dado com um enorme esforço pessoal o seu contributo para a construção da nossa Freguesia.

Obviamente que a área de intervenção de qualquer uma das Juntas Freguesias do nosso País varia de localidade para localidadee até pelo seu próprio enquadramento quer seja ele rural ou urbano. No entanto e nos tempos que correm e com a escassez de recursos que estes órgãos se encontram as tarefas que lhe estão confiadas são cada vez mais semelhantes. Mas comecemos por…..

O conteúdo funcional

Organização e funcionamento dos seus serviços, bem como no da gestão corrente
Planeamento da respectiva actividade e no da gestão financeira
Participação no ordenamento do território e urbanismo
Gestão e manutenção e equipamentos integrados no respectivo património
Manutenção das relações com outros órgãos autárquicos

A nossa realidade

Do que me apraz conhecer e da minha realidade paroquial, a actividade da Junta local resume-se a simples actos administrativos de interlocução com o cidadão da sua freguesia, atribuição de subsídios às Associações (ainda que minúsculos dado o seu escasso orçamento), manutenção dos espaços e equipamentos que lhe estejam afectos (Cemitérios/Feiras/Limpezas de valetas).
Organização, ainda que pontual, de eventos de participação geral.

O passado recente

Todos sabemos que o actual edifício da Junta de Freguesia, foi construído não só com dinheiros públicos mas muito à custa do esforço da sua população.
Não foi há muito tempo que existia uma dita “Comissão de melhoramentos”, que para alguns serviu de arma de arremesso político/partidário.
As obras eram quase como a Bandeira do sucesso de um mandato.
É certo que no nosso caso, hoje todos nos orgulhamos do resultado da obra do LARGO da Palhaça transformado em Praça S. Pedro.
Mas será que esta cultura de serviço se resume só a isto?

A análise


Dos poucos políticos locais que conheço e dado até que estamos em ano de eleições, todos tem uma enorme dor de cabeça por a Obra X não estar pronta ou o concurso Y não estar ainda lançado. Creio que esta visão é redutora da actividade ao serviço do cidadão e acaba por ser influenciada pelo passado com a emblemática política do betão e do alcatrão.
A nossa Junta tem feito um esforço em modernizar-se e adaptar-se a estes novos tempos, mas sinto que tem esmorecido, eventualmente por falta do carinho de quem deve….

A proposta

A mudança de paradigma da função que os nossos governantes locais detêm, é a chave para o aumento da qualidade de vida dos seus habitantes.
As pessoas têm que se sentir bem num lugar onde são promovidas actividades para elas e para os seus.
Atrevo-me até a registar e reforçar as propostas que constam aqui neste Blog, na barra lateral esquerda.
Ou ainda actividades de promoção do comércio tradicional da nossa freguesia. O apoio e divulgação de Sistemas de Incentivo como o modcom.


É certo que como na nossa casa temos de ir mantendo o que temos e até de vez em quando fazendo lá uma obrazita, mas deixemo-nos de coisas, hoje o que se espera de uma Junta é que esta interaja com o comércio, com a indústria com a população que lhe confiou esse mandato.
A acção social pode e deve ser um dos pilares da actividade deste órgão, promovendo não só actividades mas apoiando institucionalmente aqueles que mais necessitam.
Façam um exercício de memória e verifiquem se não houve VIDA e movimento em todas aquelas actividades sociais e/ou de formação que foram desenvolvidas na última década na nossa freguesia.



Julgo que esta nossa Freguesia tem massa crítica e capacidade para Construir ideias e agendar o futuro.
Este local (Blog) é a plataforma ideal para dar o 1º passo para uma reflexão estratégica para aquele que é o nosso cantinho.
Fica mais um desafio.
Sérgio Pelicano

NOTA: Foto da autoria de Telmo Pereira in http://fotosdapalhaca.blogspot.com (espero que não se chateie pelo assalto.

GRUPO DE CANTARES RAÍZES DA NOSSA TERRA APRESENTA-SE NO PRÓXIMO DOMINGO NA PALHAÇA

Da notícia do Jornal da Bairrada

A apresentação do Grupo de Cantares Raízes da Nossa Terra tem apresentação marcada para o próximo domingo, dia 1 de Março, na zona desportiva e recreativa da Palhaça às 15h00. O espectáculo, onde se fará a bênção do Grupo, tem entrada livre, contará com a presença do Grupo de Cantares do Silveiro, convidado a apadrinhar o grupo Palhacense e a jovem cantora Eveline, conhecida pela sua participação na Operação Triunfo, madrinha do agrupamento. No final do espectáculo haverá lanche e convívio para todos os convidados e amigos que se juntarem nesta tarde de música popular.

O Grupo de Cantares Raízes da Nossa Terra surge integrado numa das associações mais dinâmicas da freguesia e do concelho, a ADREP. Com ela assegura a logística com que um grupo em inicio de carreira tem de lidar, desde os meios de deslocação até ao local para ensaios, passando pelo investimento em equipamento de som para poder apresentar-se em palco. “Foi um convite que aceitámos de muito bom grado”, explica Jorge Vagueiro, um dos fundadores e responsáveis do Grupo, “a ADREP abordou-nos e achámos que tínhamos ambos a ganhar com esta integração, nós porque precisamos de apoios que vão muito além de financiamento e a ADREP porque sendo uma associação cultural e recreativa acaba por cumprir e reforçar connosco os propósitos que justificam dois dos seus âmbitos enquanto associação”.

Grupo de Cantares Raízes da Nossa Terra

Na génese deste grupo está a vontade transformada em acção de dois casais, com provas dadas no empenho e na divulgação da freguesia através do folclore. Jorge Vagueiro e Maria da Conceição juntamente com Jaime Geraldo e Alegria Caniçais, são os fundadores que assumem os destinos do novo Grupo de Cantares da Palhaça. Desde Abril de 2008 que a ideia começou a tomar forma à medida que foram fazendo convites a elementos que hoje constituem o Grupo e trouxeram outros amigos. São dezanove elementos, na sua grande maioria da Palhaça, mas quase tantos vindos das redondezas: Salgueiro, Ílhavo, Verba, Nariz, Amoreira da Gândara, Póvoa do Valado e Gafanha da Encarnação. A direcção musical está a cargo do jovem Palhancense, Pedro Daniel. Nesta fase inicial vão apresentar-se com um reportório feito com recolha da música popular e tradicional. Não faltam acordeões, cavaquinhos, adufe, violino, violas, pandeiretas e outros que cabem na palma da mão. Neste grupo as gerações misturam-se com uma presença em força da juventude.

As razões que levaram à criação deste grupo são explicadas pelos fundadores, “Aquilo que nos levou pensar criar este grupo foi um recuperar de memória, queremos recuperar uma boa ideia que outros tiveram e que pode voltar a existir enquanto Grupo e enquanto manifestação do nosso concelho. A isto somámos o facto de estarmos disponíveis, termos experiência e o gosto pela música.” Depois dos Cantares de Bustos, do Silveiro e do Grupo dos Moinhos, o concelho ganha mais um grupo de música tradicional para levar e divulgar o nome de Oliveira do Bairro e a cultura popular além concelho.

O Grupo Cantares Raízes da Nossa Terra espera uma agenda cheia para os próximos tempos, “gostávamos que as comissões de festas e os agentes musicais nos contemplassem nas suas propostas. Somos um grupo com capacidade para integrar qualquer programa de festas ou outro evento onde música popular possa rimar com boa disposição”. Já a Palhaça, e de acordo com os mesmos responsáveis, “a freguesia ganha “com a prata da casa” e a capacidade de acolhimento que nos caracteriza, uma mais-valia para divulgar ainda mais a nossa terra. Vamos, com todo o gosto, marcar presença sempre que sejamos solicitados no palco da sua terra”.

Para breve, e porque na história da freguesia há um Grupo de Cantares que se perdeu no tempo, prometem incluir no repertório alguns dos temas interpretados outrora interpretados por esse grupo, bem como originais logo que os consigam. Os ensaios acontecem todas as quartas-feiras no salão da ADREP e à população deixam um convite: apareça, será muito bem-vindo”.

Contactos para espectáculos: 234 752 007 / 96 6515640 / 234 751 386 / 96106615
DESAFIO: seria interessante se alguém conseguisse fazer um registo vídeo/audio do evento para depois partilharmos aqui no blog!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Vou à Palhaça!

Estou aqui ...
e vou para aqui ...
... digo: Vou à Palhaça!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Coisas de que ainda me lembro – conclusão (IV)

Aqui fui crescendo, Palhaça, alimentando-me da tua seiva. Deste-me a conhecer um léxico próprio, que chamava “camoecas” às bebedeiras, “alveitar” ao veterinário caseiro, “apaijar” a aturar, “burra” à bicicleta”, “bernicoques” aos maneirismos, “choninha” aos sonsos, “corrilhas” às rugas da cara, “enjorcar” a inventar, “endrominar” a mentir, “moinante” ao que não quer trabalhar, “zangarilhar” ao que tremia ou oscilava para os lados. E outras coisas mais, como um “trancanaz” de broa (um grande pedaço), ou um prato cheio “ao caramulo”, por alusão à serra que te vigia e contempla a nascente.

Tudo mudou, Palhaça. Já ninguém te acredita se disseres que os sapos podem cegar uma pessoa, esguichando para os olhos a urina venenosa. Aliás, já não há sapos de boca cosida a anunciar feitiçarias. Vão rir-se de ti se disseres que os cabelos de mulher, mergulhados na água, se transformam em cobras. Já ninguém manda miúdos à farmácia comprar pó de Maio, electricidade em pó, ou “pòzinhos de alembradura”. Já ninguém acredita em ti, se disseres que é pecado apontar o dedo ao céu e que o Senhor ralha...

Já não há cântaros à cabeça nem bilhas de barro a encher ou a quebrar-se na fonte. Desapareceu o ranger da nora sob o peso dos alcatruzes. Ninguém convida os carteiros a matar a sede, ou para dois dedos de conversa, na frescura das adegas, em horas de calor de fornalha (escorropichavam-se sempre dois copos, pois era mau agoiro ficar-se manco). Mal se sente o cheiro que sobrava da fermentação rebelde do mosto, corre pouco o bagaço no alambique. Já não se prova o vinho novo, a onze de Novembro. “Pelo São Martinho, fura-se o vinho” – rezava o adágio popular, que tinha uma outra variante: “Pelo São Martinho, vai à adega e prova o vinho”. O provérbio era levado a preceito, num corrupio de adega em adega, já com as faces a denotar a exaltação do vinho novo. Assim se cumpriam os oito mandamentos da lei de Baco: “o primeiro bebe-se inteiro; o segundo até ao fundo; o terceiro como o primeiro e o quarto como o segundo; o quinto bebe-se todo; o sexto do mesmo modo; o sétimo bebe-se cheio e o oitavo duas vezes meio”.

Em terra de vindimas e adegas nem sempre fartas, com agricultores redondos de alegria quando os pipos estalavam prenhes de vinho, todos conheciam os Dez Mandamentos do Vinho:

1.º - Amarás o vinho de Portugal, água não lhe deitarás para que não te faça mal;
2.º - Não jurarás pela folha da laranjeira, que é ofensa que fazes à sua prima parreira;
3.º - Guardarás pão e vinho na algibeira e com ele beberás quando te der na goteira;
4.º - Honrarás o odre de vinho, o chapéu lhe tirarás se o encontrares no caminho;
5.º - Não matarás, só se for cabra ou bode, a carne lhe comerás e da pele farás um odre;
6.º - Não entornarás, só se for bilha grossa, a boca lhe apararás para que verter se não possa;
7.º - Não furtarás, só se for para beber, porque, se te fores confessar, sempre te hão-de absolver;
8.º - Não levantarás odre deitado, antes te deitarás do outro lado;
9.º - Não desejarás beber por vasilha pequena, desta que bota a espuma fora e lhe fica a cor morena;
10.º - Não cobiçarás a salada do pepino: é muito fresca no verão e muito contrária ao vinho (1).

Quase não se ouve o cuco, ou o canto vespertino e mavioso do rouxinol a trinar entre os salgueirais. Verdelhões, poupas e tentilhões, calhandras, toutinegras e ferreirinhas, quase tudo levou sumiço, a golpes de adubos químicos, pesticidas e herbicidas. Já não se destrava a língua aos gaios, que eram os nossos papagaios caseiros. Onde, a massa a levedar na gamela, com a cruz traçada para proteger do mau olhado? Onde, os teus cabanais para secar milhos e pastos? Quantos restam, para proteger do sol a pique em tardes esbraseadas, ou para encontros furtivos, quando os simples arremedos de namoro eram rigorosamente vigiados? Tinha razão o Cesário (2), quando, montado na bicicleta, se cruzava com um cabanal situado ali para os lados do Bebe-e-Vai-te e costumava dizer: Ah!, se este cabanal falasse...

Não há duas maneiras de te amar, Palhaça, assim como não há duas maneiras de amar a liberdade. Quero-te mais aldeia do que vila – sim, que ganhaste, até agora, em ser vila? – quero-te mais vila que cidade. Não deites fora os ares plácidos e lavados que bordaram o teu rosto de menina. Se puderes, conserva campos de cultivo, o verde-amarelo e o verde-escuro de algumas vinhas e pinhais, umas tantas fontes e carreiros. Não deixes que as silvas cerquem a enxertia. Resiste às investidas galopantes do eucalipto. Evita que os teus cafés virem espaços onde se trocam letras e influências, esgrimem cifrões e taxas de juro. Renega a construção em altura, ao menos no teu largo primitivo. Não coqueteies com arquitectos ou engenheiros a perda da tua identidade e do teu carácter: nada pode substituir a beleza de um céu encaixilhado no teu coreto singelo, encimado pela sentinela cívica que é o nosso padroeiro.

Agora é tudo tão rápido, Palhaça. Foram-se os abraços e beijos das escarpeladelas, sempre que alguém mais afortunado encontrava uma espiga vermelha. Desapareceram os bailes da “mi-careme”, tolerados na terceira semana da Quaresma para aliviar os rigores e a abstinência que ela nos impunha. Vou deixar-te aqui, onde cresci e apesar de tudo fui feliz, mesmo sem ter conhecido a tua Banda Filarmónica - regida por Adelino Ferreira Pinhal - ou a tua Troupe Dramática; mesmo sem ter assistido a festividades em honra do apóstolo Santo André, já no estertor da monarquia, com jantar de bacalhau com batatas às 4 da tarde e sobremesa de castanhas e nozes. O vinho, esse, era tirado do cântaro de 20 litros, servindo de copo a medida de 5 litros (3). Malhavam-lhe bem, os teus homens de antanho. As minhas festas são já as do Mártir S. Sebastião e de Nossa Senhora da Memória. Ajoelhei à passagem dos teus andores e integrei as tuas procissões. Lembro-me bem: numa delas - era dia de comunhão solene - fiz o percurso com as mãos em prece, mas ao chegar à zona dos cafés, apinhada de gente, deu-me a vergonha e coloquei-as atrás das costas. Sei que me perdoas esse vacilar duma fé que parecia indestrutível.
Deixo-te agora (está a custar, sabes?). É preciso voltar a página. Talvez saudades do futuro. Talvez. Hoje, pelo menos, já não morre ninguém à sacholada, por causa da mudança dos marcos, ou do simples desvio de um veio de água. Entre aquilo que de melhor e pior já foste, e o que de melhor e pior possas ainda vir a ser, mon coeur balance.

(1) Alma Popular, 29.01.1937.
(2) Cesário Martins Calafate. Tem nome de rua na fonte de S. Domingos.
(3) O Nauta, n.º 259, 25.11.1909

Coisas de que ainda me lembro (III)

Dizem que amigos são os da infância. Que ao caminhar-se para a velhice escasseia o tu-cá-tu-lá das farras e cumplicidades. Entre os que tive e ainda conservo, há um com quem nunca mais falei: o Arrais (1). Morava em frente à Escola e trauteava canções a torto e a direito. Uma delas, muito curiosa, versava sobre pessoas da nossa terra e respectivas profissões. Está incompleta e não sei quem poderá ajudar a recuperá-la por inteiro. Começava assim:

O doutor é Presidente, (2)
Arquitecto, o Manuel Vicente, (3)
O Justino é carpinteiro,
O Mandato faz caixões, (4)
O Zé Feijão é barbeiro, (5)
Faz a barba a dois tostões.

O Camilo assa leitões, (6)
A Aida coze enguias, (7)
O Artur tira fotografias (...) (8)

O Arrais cantarolava uma outra, muito engraçada, de sátira social às sogras, de que também retenho algumas passagens:

Certa noite à média luz,
P’ra jantar fui convidado,
Em casa de minha sogra, (bis)
Era dia de feriado...

Era muito minha amiga,
Fez tudo p’ra me agradar,
É por isso que hoje me lembro, (bis)
Daquele famoso jantar...

Comi canja de galinha,
E arroz de cabidela,
Cebolas à cafreal, (bis)
Com rabinho de vitela...

Fricassé de amendoim,
Com miolos de toupeira,
Uma lagosta a suar, (bis)
Com conhaque da Malveira...

Fumei depois um havano,
E já no fim do jantar,
Comi fruta para um ano, (bis)
Mas faltava terminar...

Bebi café de alcatrão,
Comi torta e fiquei torto,
E depois duma soneca, (bis)
Quando acordei estava morto!

Também me lembro de, na década de 1960, a PIDE - polícia política do Estado Novo - fazer das suas na Palhaça. Fechou tudo quanto era entrada e saída da aldeia e avançou para o Café Capri. Encontrou o que queria, a denúncia não era falsa. Para apanhar o denunciado – que se disse, depois, ser de Salgueiro - partiu tudo o que encontrou pela frente. À saída, enquanto era arrastado e espancado pela polícia, com gente da terra a assistir, uns no largo e outros à janela das próprias casas, o detido gritava, a plenos pulmões: Ó povo da Palhaça! Acudam-me, que eu sou democrata e eles são da PIDE! Ninguém acudiu, ninguém esboçou um gesto de revolta. Quando tudo passou, só se ouvia murmurar: era gente muito educada. Partiram vidros e cadeiras, mas perguntaram quanto era e pagaram tudo...

A PIDE, que não brincava em serviço, incomodou também pessoas da Palhaça, que chegaram a estar presas. Histórias por contar, a merecer que se apanhe o fio à meada. Naquele tempo, não era preciso muito para se ir bater com os costados na cadeia. Um dos detidos foi César Barreto, dono do café que funcionava onde está hoje o Ponto Final. Em Março de 1951, o Presidente da Junta responde a um pedido de esclarecimento do Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro: “sou a responder que de facto o Snr. César Augusto Barreto, desta freguesia, foi preso pela então PVDE, por hostilidades à Casa do Povo”(9). Esta detenção terá ocorrido até 1945 e nunca depois dessa data. Isto porque foi nesse ano que a PVDE [Polícia de Vigilância e Defesa do Estado] passou a chamar-se PIDE [Polícia Internacional de Defesa do Estado].

Outros nomes devem acrescentar-se ao de César Barreto. Aqui vos deixo, para memória futura, os de José Colchete (Areeiro), Fabiano (Albergue), Silvério Cura (Vila Nova) e Manuel Tomé (Roque). Foram todos presos ao mesmo tempo, e como se tratava de gente séria e honrada, a freguesia ficou envolta num manto de profunda tristeza. Era tempo de Páscoa, a anunciar promessas de videiras a abrir pequeninos olhos verdes e viçosos; era o tempo em que os soalhos das salas onde se beijava o Senhor se esfregavam à mão com sabão amarelo, e onde havia sempre, sobre a mesa, um cesto com rendinha branca que servia para transportar as ofertas, às vezes uma simples maçã ou laranja com uma moeda de cinco tostões em cima, que se dizia ser para o sermão.

No salão da velha Casa do Povo, onde mais tarde se realizaram bailes, vimos nascer a televisão a preto e branco. Lá, e no café do Sr. César Barreto – feito na cafeteira e com máquina a petróleo – moravam as duas únicas televisões que a Palhaça se orgulhava de ter. Os sábados à noite eram verdadeiros dias de festa. Que saudades do convívio semanal com o Rintintin e a Lassie, mas sobretudo com o Bonanza: dos quatro heróis desta série de culto, o bom gigante dos murros demolidores, Hoss de seu nome, era o meu favorito. E havia ainda o Mascarilha, a cavalgar na pradaria com o fiel amigo índio, o Tonto. Às vezes, a seguir às barrigadas de western, sucediam-se as barrigadas de ameixas, pela calada da noite, no interior dos muros da Escola, que ficava ali mesmo ao lado.

(1) António Martins Pereira Arrais, filho de Augusto e Rosa Arrais. Morava ao lado do edifício das Escolas Primárias, na estrada que da Palhaça sai para Sosa.
(2) O Presidente de Junta era o médico Manuel Ferreira Rebolo, formado na Universidade de Coimbra em 1935.
(3) Manuel Ferreira Vicente Júnior construtor civil, que construiu o edifício das Escolas Primárias.
(4) Manuel Mandato. Apenas construía caixões pequenos, para os "anjinhos".
(5) José do Nascimento Marques Moura.
(6) Camilo Jacinto, casado com Mabília Cerveira da Silva e pai de António da Silva Jacinto (Camilo), Joaquim Cerveira da Silva, Fernando, Raul e Mabília (Bila).
(7) Conhecida por Aida Feijoa. Vivia, à época, numa casa situada ao lado (para nascente) do actual café Ponto Final. Irmã de Joaquim (alfaiate e com casa de pasto aberta aos dias de feira) e José Feijão.
(8) Artur Lemos Silva, também conhecido por Artur Calcinhas. Chegou a integrar (era "caixa", como então se dizia) a Banda da Mamarrosa.
(9) Ofício n.º 13/51, de 8 de Março de 1951, endereçado pelo Presidente de Junta de Freguesia da Palhaça ao Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

[Efemérides] Entrudo, Cultura & Quejandos

0) «Que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram. No Carnaval desmascaram-se» (Virgílio Ferreira)

1) Sobre o Carnaval na Palhaça, de ontem e hoje, o que vos apraz dizer?

2) Passam, hoje, 22 anos sobre a morte de José Afonso, cantautor que, qual andarilho, andou e deambulou entre a música tradicional portuguesa (Beira Baixa, Alentejo, etc.) e a música de outras geografias (países africanos, Brasil, Cuba, etc), entre a convenção e o risco, o país e o mundo; um artista cuja obra (estética, cívica, poética e etnográfica) teve sempre subjacente a ideia que ele alinhavou como «contos
velhos, rumos novos»
(tradição e contemporaneidade, em manta de retalhos, em suma); cidadão inegavelmente empenhado, destemido, e, também por isso, controverso.

Para os interessados, segue abaixo um compêndio da vasta obra de Afonso (todos os álbuns, letras e alguns vídeos disponíveis, desde os tempos dos fados de Coimbra à época da multiculturalidade e da doença), armazém-acervo organizado e de circulação sem obstáculos, em formato de site .


3) Em época de Entrudo, fica a letra de «Entrudo», canção popular da Beira Baixa, popularizada por Zeca Afonso:

Ó entrudo Ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
as mocinhas ao solheiro

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu'eu estou bem
Que no monte é qu'eu estou bem

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu'eu estou bem

Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira

Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira



4) A encerrar a saga sobre (des)máscaras, eis um vídeo com imagens dos Caretos de Podence, Trás-Os-Montes, acompanhadas da música da criativa e ousada Stealing Orchestra:

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Coisas de que ainda me lembro (II)

Revejo-te Palhaça, e quase não sei quem és. A mais antiga memória que de ti guardo é talvez a do pacato ambiente da tua hoje embelezada sala de visitas. O largo em terra batida, o coreto enegrecido e exposto à incúria dos que deviam tratar-te com esmero. A chiadeira arrastada dos carros de bois, as bosteiras quentes que os animais largavam na estrada esburacada e que um ou outro veículo mais ronceiro calcava, salpicando as paredes das casas vizinhas.

Aqui cresci e aprendi a reconhecer a natureza lírica das tuas fontes, a saborear a frescura dos tanques de água fresca, a rebolar-me no coradouro dos Carregais: lugar ameno, ladeado de vergueiros e regatos mansos, circundado por manchas de pinhais a bordar o horizonte, onde, pelo Natal, ia apanhar tufos de musgo verde-claro para o presépio. Local idílico de paragem obrigatória no regresso a casa, mal terminava a missa dominical na igreja de Vila Nova.

Aqui percorri as tuas ruas breves, sem nome ou com nomes improváveis; calcorreei as tuas vinhas à procura de ninhos e rebusco; saboreei o tempo das amoras; devassei o interior dos teus campos de milho a armar costelos; aprendi nomes de pássaros, alguns não dicionarizados, que conhecia pelo tamanho e a plumagem. Uns “caíam” nos costelos, outros não: sombrias (as mais apetecidas) boeiras, taralhões, cagachins, rêchêchês, vale-de-abóboras, landriscas, felosas, pardais, melros, calhandras, codornizes (nunca soube porquê, mas as que se apanhavam era quase sempre nos campos semeados de azevém), piscos, narcejas (es)torninhos, sarrazinas, pintarroxos e carriças.

Muito antes disso, deste-me a conhecer, inadvertidamente, a violência da morte dos animais: bovinos a tombar com fragor no matadouro do Sr. José Marques, que ficava ao fundo do talho, rios de sangue a escorrer pelo chão de cimento, a seguir à estocada, de um só golpe, com um ferro de dois gumes a que chamavam choupa; porcos sangrados ao alvorecer, nos rigores do frio e no tempo das salgadeiras, uma grande algazarra de gente e azáfama de alguidares, e eu na cama, tolhido de medo, com os dois indicadores espetados por longos minutos nos ouvidos, à espera que o estertor do animal esvaído em sangue calasse de vez os guinchos lancinantes; carneiros imolados pelo Zé Cabreiro, a céu aberto, nas vésperas da Páscoa, num espaço onde se situa hoje o snack-bar S. Pedro. Parecia pedir-lhes desculpa, pois afagava-os mansamente – talvez à procura do ponto mais vulnerável – antes de os abater, abandonando-os já sem vida, com olhos redondos e abertos de espanto. Há um filme que me restitui invariavelmente este passado e estas memórias dos cordeiros que me ensinaram em pequeno a dizer serem de Deus. É o Silence of de Lambs, traduzido em português por O Silêncio dos Inocentes, e que começa precisamente com o sacrifício de cordeiros num matadouro.

Compreenderás agora, Palhaça, porque não costumo estar presente no ritual antropológico que em tua honra se celebra todos os anos no largo das Escolas: a matança do porco à moda antiga, com muita música à mistura, néons, padarias e instituições bancárias a espreitar. A goela hiante do tempo tudo devora à sua passagem; devagar ou mais depressa, a vida é perda: vamos perdendo tudo, aos poucos. Sei que me desculpas a ausência em cenário tão artificial e diferente do antigo. Ausência não pelo cenário, mas pelo espectáculo que encerra. Sabes que tento honrar as tuas tradições por outras formas, e isso me basta.

Prefiro lembrar o som inconfundível do repicar dos teus sinos ou o toque das trindades. Ou a obrigação instituída de ficar em jejum três horas antes de comungar. Em tempo de comunhões – fiz todas: a primeira, a segunda, a terceira e a quarta, mais a profissão de fé – abalava do teu centro hoje nevrálgico com minha Mãe, às cinco ou seis da manhã, calcorreava a rua de Vila Nova no mais opaco e espesso silêncio – ainda ouço, às vezes, os passos apressados que ela me devolvia – entrava na igreja, assistia à missa, fazia a genuflexão – joelhos nus contra o lajeado frio situado em frente do altar, lugar reservado aos homens, as mulheres ficavam na retaguarda – enfim, cumpria regras que ajudavam a definir a tua identidade. Respeitava-te, pois. À saída da igreja lá estava a recompensa: numas bancas improvisadas, meia pada de pão, sem nada dentro, e uns tremoços, para combater o jejum e não deixar que o estômago continuasse colado às costas.

E também me lembro de, pela Páscoa, cumprir outro preceito : ia confessar-me e logo a seguir tinha que passar pela sacristia, para “desarriscar” o nome. Era uma das tuas muitas formas de nos controlar, avisando-nos que só está bem integrado num meio quem lhe aceita as regras e as limitações.

Aqui te deixo por agora, após relembrar pedaços soltos de um tempo em que a garotada se sentia agasalhada de ternura quando o dia fechava sem qualquer tareia de verga, cinto, cordas ou adival. Miúdos que também sucumbiam, muito mais do que hoje, às doença e à miséria e não propriamente por gostarem de viajar até ao céu. Um tempo em que homens e mulheres suavam camarinhas nas terras de pão, ou enchiam açafates de canseiras, substituindo-se, quando era preciso, aos animais de tracção à frente de charruas e arados.

Encerro esta espécie de balada de uma infância antiga, a um tempo difícil mas feliz, povoada de medos do escuro, de ir ao alpendre mal iluminado procurar achas para a fogueira, ou à adega encher a pucheira de vinho tirado ao torno. Medo, também, de corujas e mochos de piar agoirento, ou de lobisomens que se dizia aparecerem nas encruzilhadas, podendo assumir diversas formas, como pipas a saltar e a rolar sozinhas.

Melhor que tudo isso era brincar à bilharda ou ao pião, ou até ajudar em pequenas tarefas como tocar o boi em volta do poço de rega, ou reunir uns ramos de gilbardeira que serviam de vassoura para colocar junto ao borralho, onde sabia tão bem adormecer, em tempos de rigorosa invernia, à sonolência da lareira.

Foi aqui, onde crescemos juntos, que tudo aconteceu. Eras então aldeia pequena, perdida nas brumas do passado. Como eu, largaste os calções, engravataste-te, cresceste de forma um tanto desajeitada, às vezes pões moderno onde devia ser antigo e antigo onde devia ser moderno. Dores de crescimento, presumo.
Foi aqui. Aqui te darei outras lembranças, para então concluir e regressar ao presente.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Coisas de que ainda me lembro – introdução (I)

Tenho seguido, com curiosidade e particular agrado, esta espécie de romagem ao passado que gente mais nova e dinâmica, com ponto de encontro marcado no Palhaça Cívica, resolveu empreender. Bem hajam por isso, sobretudo por trazerem à cena gente de carne e osso, que uma vez desaparecida do nosso convívio tem permanecido no limbo – bem sei que já não existe limbo... – do esquecimento. É um meritório exercício de memória e de retorno à infância que não esconde algumas saudades daquilo que já não há.

Diz bem o Sérgio Pelicano: “Façamos de conta que todos vivemos tempos de felicidade na Palhaça. Façamos de conta que todos queremos (re)viver esses momentos.” Sejamos então claros: nem todos viveram no passado – refiro-me a muitos dos que neste cantinho têm sido evocados – tempos de felicidade. Há traços característicos dessa época que não podem deixar saudades. Pobreza e miséria eram coisas que abundavam e cresciam como cogumelos. Quase toda a gente vivia curvada ao peso da terra, num tempo em que a agricultura era vista como a arte de empobrecer alegremente.

Do passado que tem sido evocado, há alusão a algumas pessoas com um traço comum, uma espécie de paisagem humana com tonalidades sem contraste: o da miséria extrema, não apenas física mas também, num ou noutro caso, moral. Confesso-vos que a princípio senti alguma relutância em acrescentar mais nomes a esses que também conheci. Porquê? Talvez por me parecer doloroso recordar a via sacra que foi a sua vida terrena. Talvez por escrupuloso respeito por essa gente sem eira nem beira, desprovida das mais elementares rações de afecto, seres humanos para quem a vida foi madrasta e até cruel, sobre os quais ouvi, por uma ou outra vez, juízos menos benevolentes, coisa que me desagrada, por não gostar que se escarneça da miséria. Gente a quem faltou sempre qualquer coisa em pequena: amparo ou berço, escola ou amor.

Após breve hesitação pensei melhor: não, esta gente não foi propriamente marginalizada pelas pessoas da nossa terra. No meio da desgraça teve sempre algum amparo, uma mão amiga, uma côdea de broa ou um caldo para aquecer o estômago. Há exemplos até, muito exaltantes e de dimensão humana inquestionável, de quem lhes tenha dado verdadeira protecção, a troco de nada e de coisa nenhuma. Pelo simples gosto de praticar o bem, apenas isso. Pura dádiva aos outros, pois dar é dar-se. E daí concluí: esta gente merece ser lembrada como qualquer outra. Respeitosamente, como o tem sido até agora. Sem ser preciso apagar registos antigos. Para o bem e para o mal, foi gente da nossa gente. Pobre, às vezes muito pobre, mas séria e digna.

Juntar à morte física uma segunda morte, a do esquecimento e do anonimato destas pessoas, seria, isso sim, algo chocante. “Eu estive aqui e ninguém contará a minha história”, gravou alguém, em apelo dramático, na superfície de uma pedra do campo de extermínio nazi de Bergen Belsen.

Decido então acrescentar alguns pormenores a pessoas que têm desfilado nos últimos textos, gente que também quis ser feliz, teve sonhos, anseios e ambições. Fecho este primeiro texto com elas, é a minha singela homenagem. Pena que só hoje consiga carregar nos pedais da memória e puxar alguns fios soltos de remotas e às vezes delidas lembranças. Então aí vai.

Conheci bem a Sofia e o Zé Pequeno. De ambos retenho algumas recordações. Ela cumprimentava-me sempre (ou eu a ela) quando nos cruzávamos na rua. Raramente parava. Quando o fazia, naquele seu jeito muito peculiar de arrastar a perna, dirigia-se a mim, de forma repentina, e dizia: olá Carlos!, e pespegava-me dois beijos. Era sempre assim quando decilitrava em demasia. Mas nunca foi inconveniente, ou faltou ao respeito a quem quer que fosse, que eu saiba.

O Zé Pequeno, esse, mantive com ele longas e demoradas conversas, quase sempre junto à taberna dos meus tios, na esquina do largo de S. Pedro. Era de uma educação esmerada, valores que lhe tinham sido inculcados na Casa Pia. Orgulhava-se de ter sido um “ganso”, contou-me algumas histórias desse seu tempo juvenil, que infelizmente não retive. Mas do que não me esqueço é da enorme resistência que se desprendia daquele corpo aparentemente tão frágil. Vi-o algumas vezes com sacos de batatas às costas, até o camião ficar carregado, sem nunca desfalecer. A ele e ao Pompeu, também franzino mas resistente, ambos de boina basca na cabeça. Ao Pompeu, já em fase decadente, vi-o algumas vezes correr os miúdos à pedrada. Era a resposta que dava aos que, abeirando-se dele e logo fugindo, gritavam: pum, pum! Do Zé Pequeno guardo ainda a memória de o ver fumar “mata-ratos”, ao mesmo tempo que desenhava, com traço firme e preciso, balizas e guarda-redes a voar para o esférico. Era o publicista de serviço, quando se tratava de anunciar jogos de futebol entre a Palhaça e qualquer outra equipa. Como não havia fotocopiadoras, o Zé Pequeno lá tinha que executar dois ou três esboços muito idênticos, com assinalável qualidade estética, normalmente em papel pardo. Os anúncios eram afixados nas tabernas ou mercearias mais visitadas da freguesia.

Conheci também a mãe do Pompeu, a Maria Zé Caixas. E o António dos Pardais, que vivia isolado e cercado de silêncios. Dele disse a Dra. Dulce Vieira, em prosa da mais fina sensibilidade: "As ovelhas eram suas irmãs, suas amigas as pombas, os gorjeios dos pardais, a música de fundo de uma existência viúva de alegrias"(1). Recordo o Arlindo Gamelas, proveniente não sei bem de que ex-colónia de África, que vivia de esmolas e sempre que me encontrava esboçava um sorriso de dentes bastos e me chamava “menino”, mesmo quando já era crescidote. Lembro, finalmente, a Maria Pita dos meus medos de infância. Morava na Chousa e ao que parece não fazia mal a ninguém, mas os miúdos temiam-na, atribuindo-lhe dotes de bruxaria. Era de tez morena, vestia saias até ao chão e usava, em vez de brincos, alfinetes de segurança a baloiçar-lhe nas orelhas.

(1) Freguesia da Palhaça. Contribuição para a sua Monografia. Publicação do Centro Paroquial da Palhaça, 1977, pp. 58-59.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A minha resposta ao desafio



Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que é hora do jantar...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Amanhã vou trabalhar...

Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos de vencer!

-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...

Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, e é esta a direcção!

-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter...

Movimento Perpétuo Associativo. Música Deolinda. Composição: Pedro da Silva Martins

Eu estou do lado do Sim. Claro!

O DESAFIO……………


Com tantas manifestações de Nostalgia dos tempos da Palhaça que já lá vão.
Aproveitando o espírito de Mário Crespo e do seu penúltimo artigo no JN, pois aqui vai.

Façamos de conta que todos vivemos tempos de felicidade na Palhaça.
Façamos de conta, que todos queremos (Re)viver esses momentos.
Façamos de conta, que alguns Jovens da Palhaça transformam os seus jantares anuais e fundam uma espécie de “Os naturais da Palhaça”.
Façamos de conta que o seu objectivo é apenas recordar o passado e passar a mensagem desses tempos aos que virão no futuro.
Façamos de conta, que este ano teremos mais uma “Quinzena Cultural” e que a suposta agremiação é desafiada a preparar um dia/noite.
Façamos de conta, que todos estes artigos aqui publicados poderiam ser compilados e apresentados.
Façamos de conta, que Carlos Braga até preparava uma nova Obra para esta ocasião e a apresentava ao som de MikeOldfield meticulosamente escolhido por Paulo Carvalho.
Façamos de conta, que alguém poderia subir ao púlpito e cantar o “Primavera, Primavera” que era presença habitual nos dias da Comunidade….Penso que não faltaria
Façamos de conta, que um perito informático, ou um simples curioso, criava uma apresentação com uma retrospectiva histórica (recente) da Vida da Palhaça.
Façamos de conta, que era lançado o desafio para duas ou três modas dos velhinhos “Coreto”.Será que o Russo viria a Portugal?
Façamos de conta, que os Lip Stick se juntavam de novo e conseguiam dar duas ou três para a caixa.
Façamos de conta, que o Paulo Lourenço teria gosto por organizar uma volta à Palhaça em Pasteleiras (quem não as tiver pode ir noutra qualquer).
Façamos de conta que o Sr. Gentil, que apesar de residir em Nariz traz a Palhaça no coração e na alma, monta a sua barraca do Bingo (a feijões claro).
Façamos de conta que a Catarina Pereira, organiza todos os seus Boletins de “O Coreto”, as suas Histórias e outros jornais que sejam originários nesta Freguesia.
Façamos de Conta que no largo há um pau ensebado para os Mourões ou outros subirem para apanhar o Bacalhau e a garrafa de Porto e que lá de cima se poderia avistar todo o percurso da corrida de cântaros. Iria uma vez mais o prémio para Chousa?
Façamos de conta que neste local também há regueifas para o jogo da Bicicleta e da Argola
Façamos de conta que tudo isto e muito mais ainda seria possível. Não seria uma forma de mobilizar os habitantes da nossa terra?
Quem estaria disponível para abraçar este desafio?

Sérgio Pelicano

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Reconhecendo-me na maioria das vossas lembranças, ainda me lembro…

Da ida do grupo de cantares a França e eu a ficar para trás…
Do cheiro a café em casa do Padre Manuel Oliveira em S. Romão
Das suas duas maçãs e copo de água antes da missa da manhã
Dos sermões (e não só) do meu Pai, por fugir sistematicamente durante as bodas dos casamentos De ir para o Colégio à Boleia
Das idas à Sexta-Feira à noite às bruxas
Dos copos à volta da forja do Samagaio
Do Andebol e do Saudoso Osvaldo Guedes
De ir tocar o Sino com o Ti Silvério e mais tarde com o 115 (Zé)
D o meu avô Latoeiro…
Da minha Avó das Histórias
Do Atletismo que nunca fui primeiro
Da Banda LipStick que morreu à nascença
De andar com o João a fugir do dito Tatá (Não tenho a certeza do seu nome)
Do café Leitão a ver a F1 a beber Fosters
De querer andar sempre com os mais velhos
Das minhas irmãs quererem ir ao Baile e eu servir de recurso
Do Voley no Adro
Das Marchas e da fruta
Dos bailes depois do Cortejo de Reis
Da passagem de ano da Adrep por cima da actual peixaria,
Dos vidros de carro que se partiram no adro da Igreja
Do Padre Blinquete ralhar comigo por estar a jogar a bola contra mesma
Da Loja/Taberna do Sr. Braga junto às bombas na Palhaça
Da Loja do Ti Carvalho no Areeiro
Das “falocas” de Carnaval do kiosk
Das Sessões de pancadaria nos finais de cada Baile de Sábado
Do Raio que caiu em cima do Acampamento de escuteiros,para as Bandas de Paranho de Arca (Eu não estava lá)
Do Carlos Paião me adormecer em minha casa
Das idas para o apartamento do “Rola” na Vagueira numa Toyota Dyna de cabine com nove amigos lá dentro onde só deveriam ir três
Da construção do Campo dos Escuteiros
Da aposta que fiz com a Rosa Maria em vir da Vagueira a pé em idade de primária….sendo apanhado depois junto ao Parque da Orbitur
Do primeiro Hambúrguer saboreado no Sagitário, com o Nelson, Miguel e o Mário
Da minha primeira Bicicleta com um selim enorme
De ter sido obrigado a negar o direito de voto a um eleitor por não constar dos cadernos eleitorais (As eleições estão aí, consultem previamente os Cadernos eleitorais na JF)
Das praxes que fizemos aos amigos que entravam no Ensino Superior
Das festas particulares que haviam em casa de cada um
Da Festa do Rock…
Dos torneios de Futebol no Campo onde actualmente é a feira e Futura escola
Das provas de perícia com os minis…O Capão sempre muito habilidoso
De ir com a sineta na Páscoa e desistir a meio, por ver toda gente a divertir-se e eu a apanhar seca (14/15 anos)
Da ATL que inaugurei com o Pedro Carvalho

Este texto não tem qualquer ordem cronológica. Foi escrito ao sabor das lembranças

Sérgio Pelicano (nascido em 1975)

Do que me lembro...

dos baloiços da creche e da canja da Marcelina...
das sestas obrigatórias, das camas trípticas e das mantas aos quadrados...
de ver os bonecos animados enquanto esperava pelos meus pais ao final da tarde no salão grande...
da Fátima e da Henriqueta, das pegas em croché, dos cestos de rafia, da cola branca e da casa de brincar...
do ramo onde baloiçava, naquela árvore junto à Igreja...
de ouvir um sermão do Padre Manuel por me pendurar no dito ramo...
de ir ao Leitão com os meus pais, de coleccionar as caricas do chão, de escrever e pintar...
do piano no andar de cima, dos Ministars na sala de trás, da registadora antiga e do sotão...
do António Sala a cantar o Aleluia no Largo S. Pedro...
da Festa de Agosto, do Bingo e da Quermesse, dos jogos tradicionais, dos Roconorte...
do cheiro dos verdes espalhados pelo chão à espera da procissão, da banda do Troviscal...
dos livros pretos, azuis e castanhos do coro, do piano da Igreja...
do Pajov e da catequese...
da Viappia e das Belas Artes...
de correr por entre os feirantes no Largo das Escolas no final das aulas, do 2 cavalos da Dona Ana...
de jogar Andebol na Adrep e de ir matar a sede à fonte do Bebe-e-vai-te...
das marchas e das discussões na escola, dos ensaios das marchas com o Sr. Julião, da preparação dos arcos e das roupas...
das aulas de solfejo ao sábado de manhã com o Dr. Fernando, do professor Fardilha, das festas de Natal, de tocar flauta na visita do Cavaco Silva...
dos ensaios do rancho ao sábado à noite, das actuações, dos amigos, da excitação de dançar o mais rápido possível, da K7 a tocar na sala...
da bicicleta preta da minha avó, dos cabanais, do tetris do Nuno, da carreta...
do cheiro dos correios velhos...
do início da sessão da RTP2 às 3 da tarde, do Agora Escolha, da Ana dos Cabelos Ruivos, do Justiceiro e do Macgyver, do 1,2,3...
dos bailes ao sábado à noite, do barulho e da animação, de chorar por não poder ir...
do Festival da Canção, da Cândida Branca Flor e do Carlos Paião, das músicas da Susana e da Vitória...
do frango de churrasco religioso ao almoço de domingo...

Andreia Tavares (nascida em 1979)

Do que me lembro...

Da professora Ana e do seu 2 cavalos a chegar ao largo das escolas, enquanto a Maria José nos empurrava para dentro da sala,
Dechegar à Palhaça, ao cair da noite, encolhida no único canto feito à medida da minha pessoa, numa Toyota amarela fatigada de tão carregada da viagem que nos trouxe definitivamente de Aljezur,
De sair da Palhaça numa madrugada límpida, de malas aviadas para Turim, e do soslaio para o Santo da Praça me ter dado um aceno, eu juro que o vi nessa manhã!
De ser dia de feira e uma série de feirantes utilizarem a retrete de casa da minha avó para aliviarem vontades,
De passar domingos sentada no parapeito da entrada da casa dos meus avós na praça de S. Pedro,
Dos cafés de domingo no Leitão, com mesa para 10 ou mais, do burburinho, dos planos para a tarde, das prendas surpresa de aniversário, dos segredos que todos ouviam e quase todos fingiam não saber,
Das procissões da festas, e de ano após ano, adiar a vontade de me vestir de anjo,
De um ataque de riso tão grande que me deu empoleirada num camião TIR a assistir, com o Salvador ao colo, a uma tourada recente, num dos festejos do padroeiro,
De ir com a minha avó Maria a casa do irmão dela, o Tatá, e de passar a boa meia hora a tremer dos pés á cabeça com medo da sua bengala, ou lá o que era aquilo. Muitos domingos tinham como ritual uma visita de bicicleta a casa dele para tornar o espaço menos sujo e de lhe levar algum agasalho
Das festas de verão e da minha avó a controlar-me na janela do 1º andar. De me encher de perguntas e de me explicar sempre, cuidadosamente, onde me deixava a chave. Como se naquela praça houvessem ladrões de casas velhas onde os bens eram fotos antigas, guardadas em caixas e uma televisão a preto e branco.
Dos passeios de bicicleta com as amigas, sem destino e com as sandes na mochila a tiracolo.
Das idas para a missa e dos regressos da catequese, sempre com ávidas discussões sobre todas as dúvidas existenciais que aos 15 anos vem com as borbulhas.
Do par de dias da Páscoa, um desfilar de modas e encontros que terminava quase sempre nos carrinhos de choque da feira de Março.
Dos Chupas da Ti Quitas e dos tremoços do Ti Remolo. De ser peixeira emprestada ao Cortejo dos Reis.
Da primeira edição do Boletim O CORETO e do prazer que foi andar de bicicleta, um sábado inteiro, a percorrer todas as ruas da freguesia falando com as pessoas.
Dos luares frequentes observados no Benavente, onde o céu é maior e as estrelas brilham sem obstáculos lá no alto da escuridão.
Lembro-me da primeira vez que se riram de mim a bandeiras despregadas na redacção da SIC, em Lisboa, quando alguém pergunta "Onde é que esteve o Paulo Portas ontem?" e alguém responde do outro lado "Na Palhaça.", perante o gozo da pergunta que se seguiu – "Mas quem é que é da Palhaça?". Levantei-me com o meu 1,53 e com toda a convicção do momento ousei quase gritar "SOU EU, E DAÍ?"
Dos ensaios das primeiras marchas da Palhaça. Da emoção de começar a avistar as parceiras de programa no encontro na Praça.
Das magnólias nos jardins, das salas que nunca vêem a luz do dia excepto na Páscoa, de janelas que nunca se abrem viradas à estrada, da fonte de S. Domingos sem cimento, da igreja de Vila Nova a cheirar a mofo.
Lembro-me de escorrer um rio de água pelas entranhas, de olhar para o coreto antes de voar direcção a Coimbra, e de ter enviado o recado mental ao meu Santo predilecto: "quando regressar trago um Salvador para te inventar nomes e prestar continência. Que ele possa ser feliz nas tuas redondezas."

Catarina Pereira (nascida 1979)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Amarcord/ Lembro-me...

do som da flauta do amolador que, muito raramente, passava ali no Areeiro,
do aviso sonoro da ronda pela aldeia da carrinha da Family Frost, ao domingo,
das piadas sobre o nome dos habitantes da Palhaça, chegado a Coimbra,
de bater à porta da vizinha, com o T., no regresso da escola primária, para fugir em seguida,
do escondido salão de jogos do Caribe e do Escondidinho,
da aldeia da Palhaça,
do prazer que tinha em circular, descalço, pelos regos (onde corria água), ladeados de um labirinto de milho alto, ou de fazer carreiros, também descalço, sobre o milho, a secar na eira,
(vagamente) de um concerto da Cândida Branca Flor na Palhaça,
da desilusão, aos 6 anos, do «aborto» precoce e inusitado do grupo infantil do Rancho,
dos mistérios da Casa das Silvas e de um enigma «twin-peakeano» chamado Estrada Larga,
da vigília nocturna pré-pascal e das maratonas pascais,
do medo que tinha do comandante de trânsito «Tatá», mais conhecido por D. Manuel I (dizia ele que era rei),
do calvário ou das evasões que eram as longas e desidratantes procissões, acompanhadas, pelo menos, de boa música de Filarmónica,
da obsessão teen pelos Nirvana (não posso deixar de a associar à Palhaça, a minha Aberdeen, na altura),
das andas que o mecânico vizinho José fez para eu, pequeno, andar mais alto,
do odor a mijo das latrinas da escola primária,
do canto das Janeiras no gélido Dezembro,
das reuniões anárquicas dos Escuteiros e das aventuras radicais e de (des)orientação nos acampamentos,
do susto que apanhei, criança, ao encontrar uma tombada e ébria Sofia, no bréu,
do inofensivo e simpático Zé Pequeno,
das bombas de Carnaval estoiradas nas aulas de catequese,
do meu colega de casa Pompeu,
de não poder votar nas «minhas» primeiras eleições, aos 18 anos, por não constar da lista de eleitores,
do prazer de ouvir bradar connosco a senhora da casa pré-fabricada por detrás do recreio da escola, por roubarmos umas nésperas,
da apanha das batatas, por categorias (podres, ratadas, miúdas e graúdas), e das vindimas,
de cantar «A Gaivota» nas celebrações escolares do 25 de Abril,
da ansiedade na espera do autocarro da AVIC, para ir a Aveiro,
de não ser tão nostálgico como neste preciso instante...


(nascido em 1983)

Do que também me lembro…















do pau de sebo nas festas do padroeiro
das corridas de cântaros nas mesmas festas
do ano em que Marco Paulo foi corrido à tomatada
do Tatá e do Fôdio, do Bento e do Fosquinhas
(estes últimos vindos das Quintãs, se não estou em erro)
do Ti Remolgo dos tremoços e do louco da comunhão
da estridente corneta metálica anunciando a sardinha e o chicharro
(chicharro a que chamávamos curiosamente «charro»),
de acorrer antes da mãe à mota do vendedor que vinha da Costa Nova
com as caixas do peixe atreladas na traseira
de levar a irmã mais nova à creche de bicicleta
de andar de bicicleta pelos campos com os amigos
de chamar «bicla» à bicicleta
de um roubo nocturno a uma certa vinha
das laranjas suspensas das árvores, brilhando
de tomar banho no Souto do Rio,
das pedras redondas do leito do rio
e das árvores frondosas das suas margens
de ir a pé para a escola
dos veios do soalho da sala de aulas e das carteiras verdes
das lutas com globos de plátano no largo da escola
dos longos Invernos e das enormes férias grandes
de gostar de apanhar chuva na cara enquanto vinha da escola
das aulas de solfejo no antigo edifício da Junta de Freguesia
das aulas de guitarra com o professor Mário Fontes no coreto
de cantar as músicas do grupo pop-rock O Coreto:
«Poluição, não, não, não» e «No meio do mar»
(esta, uma versão de um tema dos Status Quo)
da missa campal no cemitério em Dia de Todos os Santos
da solenidade proveniente do silêncio lacrimoso, das velas crepitando
e do céu de Novembro carregado de cinza
da visita nocturna às campas iluminadas
do tépido e envolvente odor a cera derretida e aos pavios afogados nela
das ruas pejadas de bosta
da estrumeira da casa do vizinho
do cheiro a urina que emanava de algumas camas,
quando acompanhava os meus pais na comunhão aos doentes
das retretes de madeira de alguns quintais,
da sua tampa redonda de madeira encaixada
e do odor único da merda nessas circunstâncias
dos cortejos de angariação de fundos para o Centro de Saúde
da vez em que a RTP veio à Palhaça cobrir um evento do género
(não me lembro de muito, mas sei que tinha um barrete de campino
por pertencer a um rancho folclórico improvisado, o do Areeiro)


















Paulo Carvalho (nascido em 1970)

Do que me lembro …

das oliveiras na minha rua
do Café Leitão
da escola velha do Albergue
de beber água na Fonte da Palhaça (agora fonte do Areeiro)
do Café Drinks
dos torneios de sueca na ADREP
da rua principal da Palhaça em paralelos
das partidas e chegadas das provas de ciclismo
da minha rua em saibro
do Marco Paulo no Largo S. Pedro
do grupo musical Coreto
do Largo das Escolas em saibro
das garraiadas no largo da feira do gado
de embrulhar rifas para as quermesses
da casa das lãs na casa do Sr. Samagaio
de tocar o sino na torre
de jogar à bola no adro
do Pompeu e da Sofia
do Padre Manuel de Oliveira
do rancho infantil da Casa do Povo
da gravação da K7 do Grupo de Cantares Populares
das idas ao Santoinho
da períci automóvel no campo de futebol
do campo de futebol 5 das pinhas
da vinda do Primeiro-Ministro Cavaco Silva
da cabine de telefone em frente às bombas
das vacas na rua a caminho da ordenha
do largo S. Pedro cheio de carros do baile

Austrália

O koala Sam foi um dos únicos bichos a sobreviver aos terríveis incêndios na Austrália. A fotografia faz parte da série desta semana do Telegraph.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Escola da Vida


Escola da vida: Os alunos (Vídeo I) from Expresso on Vimeo.

No Expresso on-line surgiu esta reportagem "Escola da Vida: os alunos". Dá-nos uma outra perspectiva sobre o país que envelhece. O Carlos Braga, de uma forma brilhante, já escreveu aqui, sobre os idosos. Fica o bom exemplo do Concelho da Batalha.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cartão de Cidadão

800 mil portugueses já aderiram ao novo documento de identificação

«Dois anos depois de ter sido lançado, o Cartão de Cidadão já foi solicitado por mais de 800 mil pessoas em todo o país, registando maior procura nos Açores, Porto e Lisboa.

O Cartão de Cidadão começou a ser emitido a 14 de Fevereiro de 2007 na ilha do Faial, Açores, numa cerimónia que contou com a presença do primeiro-ministro, José Sócrates, tendo sido progressivamente alargado às restantes ilhas do arquipélago.

No Continente, a emissão começou em Julho no concelho de Castelo de Vide, distrito de Portalegre, seguindo-se Mourão, no distrito de Évora, e Vila Flor, no distrito de Bragança.
Segundo dados da Agência para a Modernização Administrativa (AMA) fornecidos à Agência Lusa, até ao dia 1 de Fevereiro foram solicitados 885.556 Cartões de Cidadão, dos quais foram emitidos 741.750.

Quanto à procura do Cartão de Cidadão nos diferentes distritos do Continente e nas Regiões Autónomas, em valores absolutos destacam-se a Região Autónoma dos Açores (64.832) e os Distritos do Porto (63.125) e de Lisboa (53.750).

Já no que se refere à percentagem da população residente, os dados da AMA destacam a Região Autónoma dos Açores com 26,8 por cento da população com o Cartão de Cidadão e os Distritos de Portalegre (13,7 por cento), Bragança (13,0 por cento), Vila Real (11,7 por cento), Évora (11,5 por cento) e Beja (10,7 por cento).


[Pormenores sobre o Cartão de Cidadão]

O Cartão de Cidadão integra-se na estratégia de modernização e simplificação administrativa e enquadra-se na política comunitária de identificação electrónica e de protecção de dados pessoais.

Com um formato semelhante ao dos cartões de crédito e Multibanco, o novo documento de identificação inclui na frente a fotografia, assinatura, sexo, altura, data de nascimento e nacionalidade do titular.

No verso consta a filiação, os vários números de identificação e uma zona de leitura óptica, que permitirá o seu uso como documento de viagem no espaço Schengen.
O cartão é dotado ainda de um chip com dois certificados digitais que permitem a autenticação electrónica segura do cidadão e a assinatura digital qualificada sobre documentos electrónicos».



Fonte: Lusa / SOL



O que é e para que serve o Cartão de Cidadão?

O Cartão de Cidadão é um documento físico e electrónico, fácil de usar, que permite a identificação dos cidadãos através de diversos canais de comunicação (presenciais ou não presenciais – como por telefone por exemplo) com a Administração Pública e Entidades Privadas. Suportando assim interacções presenciais físicas e electrónicas, assim como interacções não presenciais, garantindo, equivalência ao nível da segurança e de valor legal com os meios tradicionais de identificação presencial. O cartão destina-se a facilitar a vida aos cidadãos quando se dirigem aos serviços públicos, presencialmente, pelo telefone ou pela Internet.

O Cartão de Cidadão apresenta-se como um verdadeiro certificado de cidadania, assumindo a forma dupla de um documento físico que identifica visual e presencialmente o cidadão (tal como o Bilhete de Identidade), e um documento digital que permite ao cidadão identificar-se e autenticar-se electronicamente nos actos em que intervenha perante entidades públicas e privadas (através de um PIN pessoal).

Tecnologicamente, o Cartão de Cidadão encontra-se alinhado com os standards internacionais relevantes, em especial ao nível do espaço da União Europeia. Assume a forma de um smartcard, um cartão com microchip incorporado com capacidades de armazenamento de informação e de processamento criptográfico, que assegura os mais elevados padrões de segurança na protecção da confidencialidade e integridade da informação pessoal do cidadão, no respeito pela legislação nacional e as normas europeias correspondentes.


Fonte: http://www.cartaodecidadao.pt/

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

World Press Photo - Mais uma foto de guerra?

O World Press Photo é considerado um dos mais importantes prémios de reconhecimento do trabalho dos repórteres fotográficos em todo o mundo.
O americano Anthony Suau é o vencedor do Prémio World Press Photo 2008, por uma fotografia que ilustra a crise do subprime nos Estados Unidos, regista um polícia a revistar uma casa abandonada no Ohio, nos EUA. Este trabalho foi publicado na revista Time. Estas fotografias dizem mais do que aquilo que mostram.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Cáritas: A perspectiva de Eugénio Fonseca sobre a crise (& Práticas de Combate)


Uma entrevista interessante, não facciosa e realista, a uma pessoa empenhada socialmente e inteirada das fragilidades do país real, com a mais valia de ter a experiência no campo:


Entrevista PÚBLICO/Rádio Renascença/RTP2

“Falta vontade política para erradicar a pobreza”, lamenta presidente da Cáritas Portugal
06.02.2009 - 20h33 Bárbara Wong (PÚBLICO) e Raquel Abecasis (Rádio Renascença)
Eugénio Fonseca é presidente da Cáritas Portugal e membro da direcção da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) diz que quem antes dava donativos está agora a pedir ajuda. São os novos pobres, as pessoas que viviam do seu trabalho e, de repente foram despedidas. O responsável acredita que haverá empresas que se estão a aproveitar da crise, mas espera que a sua responsabilidade social seja a de não fechar as portas e manter os postos de trabalho. Para já, são as instituições de solidariedade social que estão a apoiar as famílias, informa. “Mas a crise não se resolve só com essas medidas”, o Estado tem de intervir mais, nomeadamente no acompanhamento das pessoas que pedem o subsídio de desemprego, defende.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Idosos: Vozes (cada vez mais) anoitecidas

“Idosos descartáveis” – assim titulou Armor Pires Mota a sua oportuna crónica no Jornal da Bairrada do passado dia 4 de Fevereiro. O mesmo título, embora na interrogativa, colou o escritor Arsénio Mota, da vizinha vila de Bustos, a um post do seu blog em Junho de 2008. Aproveito a embalagem para escrever também sobre um tema que merece séria reflexão.

Lamentavelmente, o abandono dos idosos, a negligência e até os maus tratos a que tantas vezes são sujeitos, devem merecer a nossa melhor atenção e também o nosso mais veemente repúdio.
Para mistificar a realidade, a chamada sociedade pós-moderna transforma, em passes de mágica falaciosa, os idosos em “seniores”, como se a velhice fosse coisa sem sentido, não arrastasse consigo algumas moléstias, como a dependência, o desamparo e a solidão, não prenunciasse o aproximar da morte, ou não suprimisse progressivamente os prazeres que a vida realmente vivida proporciona.

Os eufemismos funcionam, na sociedade actual, como escudo protector e como arte de dissimulação. Exemplos? Tudo se faz para suavizar a nossos olhos a velhice dos outros. Os velhos, além de “seniores”, encerram um paradoxo: a sociedade que exibe a longevidade como valor supremo é a mesma que os trata como um fardo e um problema. Estamos cercados de idosos mas quase não os vemos. Encaixotados em lares de gosto duvidoso, duram tempo demais e dão cabo do erário público. Deixou de fazer sentido a ideia segundo a qual por cada velho que morre é uma biblioteca que desaparece.

Este artifício retórico dos “seniores” podia ser evitado. Bastava que os que a ele recorrem tivessem a percepção do valor e dos benefícios da idade avançada que outras sociedades – países africanos e asiáticos, por exemplo – lhes reconhecem. Se nessas sociedades os velhos são descritos como “aqueles que ganharam sabedoria”, na cultura ocidental esses valores encontram-se em erosão acelerada. O envelhecimento é visto como uma “perturbação” e não como uma oportunidade de utilizar recursos adquiridos ao longo da vida; os idosos representam um fardo, esquecendo-se o apoio que muitas vezes alguns deles ainda podem prestar à família e mesmo à comunidade.

Não é só a sociedade que está em crise. É também a solidariedade, e os valores morais. E por isso falham cada vez mais as respostas do Estado e o modelo tradicional de obrigações filiais. Todos os anos, pelo Natal, assistimos ao espectáculo indecoroso de gente que interna os seus pais ou avós nos hospitais e os deixa por lá, sem a menor ponta de remorso ou o menor estremecimento de desconforto. Entretanto, os idosos têm “alta”, o hospital contacta, mas as famílias não aparecem. Despachado o fardo incómodo, demandam outras paragens onde vão passar o Natal e o Ano Novo, libertos de preocupações, mas atolados no egoísmo e na desumanidade, agindo como se os seus familiares fossem seres desprovidos de direitos.

Estamos a falar de crimes sem castigo. Quem faz isto, ou coloca os seus idosos em lares clandestinos de vão de escada, devia ser acusado de crime de abandono. A indiferença pelos direitos do nosso semelhante é uma forma de cumplicidade no atentado a esses mesmos direitos.

Enquanto as coisas continuarem como estão, estes actos ignóbeis tendem a transformar-se em rotina no quotidiano. A pressa, a ligeireza e o desinteresse (que é desconsideração) pelos outros, são a imagem de marca do nosso tempo. Na sociedade em que o ter se substituiu ao ser, em que cada um já não vale pelo que é mas por aquilo que ostenta, ou pela imagem muitas vezes falsa que retoca e de si dá aos outros, quem assim nos fala não é o ser humano dotado de afectos. É o homem-máquina, um corpo sem alma, um rolo compressor que tudo cilindra à sua passagem.

Dizia Cícero – orador romano que nasceu e viveu antes de Cristo – que a velhice todos a buscam alcançar, mas quando a alcançam, deploram-na. Para ser possível suportar mais facilmente o envelhecimento só parece existir um caminho: devolver a vez e a voz aos idosos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Around the world

Por falar em emigrantes.Vale a pena passar pelo blog do Dennis que saiu da Palhaça há mais de 20 anos porque o destino quis que fosse para a Austrália. Começou por viver em Sidney, depois passou por vários países na Europa, rumou até à América Latina num voluntariado, e agora está para os lados do Canadá. A última passagem pela Palhaça foi no verão de 2006. O Dennis é um homem do mundo. É daquelas pessoas que faz falta em qualquer sítio. Digo isto porque o conheço bem e porque adoro a maneira como ele vê o mundo. Vale a pena espreitar a sua arte, seja fotográfica, pintura ou desenho aqui.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Visão Global: Emigrantes e Imigrantes



No dia em que foi divulgado na comunicação social o veto de Cavaco Silva ao fim do voto por correspondência dos emigrantes, convida-se, «a pedido de várias famílias», directamente, os emigrantes (actualmente espalhados por países como França, Inglaterra, Holanda, América Latina, EUA, etc.) e os imigrantes a viverem/que viveram na Palhaça (da Rússia, Ucrânia, China e países africanos, entre outros) a colaborarem e a partilharem, neste blog, fotografias, vídeos, notícias, opiniões, «estórias», memórias, etc... encurtando distâncias.

Apela-se, ainda, a quem tiver contactos de emigrantes e imigrantes que julgue ainda desconhecerem o paradeiro deste «canto», que envie (os que puder) para o mail palhacacivica@gmail.com.

Cumprimentos palhacenses.
Dois atletas da ADREP - Soraia Ruas e Jorge Batista, conseguiram duas medalhas de prata no Campeonato Nacional de Juniores de Pista Coberta. A Soraia Ruas, que vive em Àguas Boas, além do feito de conseguir uma medalha, num escalão superior, conseguiu os mínimos, por uma margem folgada para o Campeonato do Mundo de Juvenis, na Sérvia em Julho. Desejamos boa sorte à Soraia na viagem até à Sérvia. Podemos acompanhar o Atletismo da ADREP aqui e aqui.

Nota: 1) Fotografia da prova de atletismo, outubro de 1976, que deu origem à ADREP.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Figuras da nossa terra: o António “Camilo”

Descobri este vídeo no blog Notícias de Bustos. A primeira parte mostra um imitador de figuras conhecidas da opinião pública. A seguir aparece aquilo que realmente interessa: o nosso conterrâneo António da Silva Jacinto, popularizado como o “Camilo”.



E porquê Bustos a trazer para a ribalta o Camilo? Porque a vila vizinha se preocupa em não deixar apagar os registos antigos, e sabe prestar homenagem, mesmo que singela, àqueles que de algum modo ajudaram a dignificar o nome da sua terra. Expliquemo-nos: ao contrário da Palhaça, Bustos é berço de tradições futebolísticas. Antes da União Desportiva de Bustos chegou a ter dois grupos desportivos: Os Canecas e Os Gavetas. Estes últimos evoluíam no espaço onde hoje se desenrola a actual feira do Sobreiro.

Na Palhaça, o pontapé na bola nunca assentou arraiais. Em 1958 tentou criar-se um grupo de futebol e por isso se iniciaram trabalhos de terraplanagem para um campo de jogos. Coisa modestíssima, pois o espaço, na zona onde actualmente se situa a ADREP, era mais quadrado que outra coisa. Foi até criada uma comissão provisória para dirigir os destinos da colectividade, da qual faziam parte, entre outros, o professor primário Henrique Pinto Basto Esteves (que residia em Águas Boas), Mário Marques da Silva (com a profissão de latoeiro e ex-Presidente de Junta) e Anísio Correia da Silva (com a profissão de sapateiro e durante muitos anos o correspondente na Palhaça do Jornal da Bairrada) (1).

É desses idos de 1958 e seguintes que guardo gratas lembranças do homem que procurava manter invioláveis as redes da Palhaça e que os de Bustos conheciam por “Keeper Gato”, popularizado pela sua elegância na baliza, os seus voos e elasticidade. Esse homem era o Camilo. Admirava-o como a um herói, e nele depositava fundadas esperanças de garantir as vitória para a equipa da Palhaça. Mais nele do que em qualquer outro, embora no grupo despontassem alguns talentos como o Alcides, ou o Zé Magalhães, prematuramente falecido.

Coloquei-me muitas vezes atrás da sua baliza, para melhor o admirar. E ainda me lembro bem: nos momentos de aflição, quando um adversário aparecia isolado à sua frente, com a bola dominada, o Keeper Gato, prenunciando o pior, gritava a plenos pulmões: atenção Nuno, há perigo! (referia-se a Nuno Brás, popular comentador desportivo radiofónico, que costumava utilizar essa expressão).

Às vezes a bola acabava por beijar as redes e anichar-se no fundo da baliza. Enquanto ele a retirava para lá da linha fatal, cabisbaixo e desolado, eu via o meu herói lendário tornar-se mais frágil, de carne e osso como todos os humanos. Mas logo a seguir voltava a fazer defesas de espantar e eu recolocava-o novamente no pedestal a que tinha direito.

A valia futebolística do Camilo despertou bem cedo a cobiça dos de Bustos. Contrataram-no (desconhecem-se os montantes envolvidos no negócio...) e começou por alinhar nos júniores, mas creio que também nos seniores, nos anos sessenta do século passado. A sua passagem deixou marcas, o seu talento fechava as redes do Bustos a sete chaves, por isso agora o evocam. Mas o Camilo tinha outros talentos, como o de praticar alguns truques de ilusionismo. Até que, já em fase mais avançada da vida, se tornou exímio na arte de driblar e atrair as câmaras de televisão...

A propósito do vídeo, onde o vemos com manifesto deleite a mandar uns “bitaites” sobre a política, Óscar Santos exarou o seguinte e certeiro comentário: “ O Keeper Gato é uma figura impagável e incontornável no nosso concelho: onde sabe que aparece a TV ou os jornais, lá está ele para a fotografia; e não é só nos congressos partidários que ele se gruda aos repórteres. Não há figura política nacional, incluindo Presidentes da República, ao lado da qual ele não apareça no retrato. Parece que ele tem uma grande colecção de fotos e de recortes dos jornais, onde aparece ao lado dos famosos, sobretudo do mundo da política”.

O Camilo tem de facto fotografias e recortes de imprensa onde aparece ao lado de gente famosa. E até tem este vídeo, que gravei e lhe ofereci com muito prazer, coisa pouca para retribuir as façanhas do herói das balizas que alimentou o meu imaginário infantil. Recordo agora uma foto que me mostrou, onde o podemos ver mergulhado num dos mais belos caudais da história recente da democracia portuguesa: uma gigantesca manifestação de um 1.º de Maio em Lisboa, logo a seguir ao 25 de Abril, festa genuinamente popular ainda não marcada pela divisão do movimento sindical. Lá aparece o Camilo, no meio daquela imensa mole humana, a exibir com garbo um cartaz onde pode ler-se: Palhaça Presente!

Também se empenhou bastante em angariar fundos para a sua terra, metendo os pés a caminho e sabendo insinuar-se nos corredores e gabinetes do poder. Já perdi a conta aos relatos que me fez de uma incursão à Gulbenkian, tentando arranjar dinheiro e material didáctico para a então Telescola, que chegou por essa altura a funcionar nas instalações do Centro Paroquial. Por detrás daquele seu ar rústico e aldeão, de falinhas mansas envoltas em enternecedora simplicidade (que tanto agrada aos poderosos enquanto gesto servil de curvatura à sua “superioridade” imaculada...) estava um verdadeiro predador, capaz de tudo para ter êxito na espinhosa missão de garantir um subsídio que pudesse dar um empurrão aos melhoramentos da Palhaça. Mostrou-se tão hábil e astuto nessas tarefas como antes mantinha invioláveis as redes das balizas que lhe eram confiadas.

O Camilo é ainda hoje um conversador nato. Falem-lhe nestas coisas e vão ver como a conversa flui sem se dar conta do passar do tempo. Que o diga um amigo meu, homem dado ao cultivo das letras e antigo professor na Universidade de Coimbra. Quando o encontrava no café, a conversa esticava e lá se ia a hora do almoço ou do jantar. Chegava a casa a desoras, e para aplacar o desagrado da mulher defendia-se do seguinte modo: o que é que queres? Sabes que sou um especialista em Camilo...

A mim, que não sou grande espingarda na arte da demagogia política, e que também pouco venero o poder ilusório das câmaras dessa ladra do tempo que é a televisão, pouco se me dá que o Camilo ande agora a fazer concorrência ao celebrado emplastro do Futebol Clube do Porto. Ou que tenha enveredado pela mania de enfileirar ao lado dos que se julgam – pobres deles! – poderosos deste mundo. Continuo a guardar no coração um cantinho onde caberá sempre o Keeper Gato da minha meninice. Os seus voos entre os postes são eternos, porque não são deste reino.

Atenção Nuno, há perigo!...

(1) Jornal da Bairrada, n.º 188, 05.07.1958.