segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Cáritas: A perspectiva de Eugénio Fonseca sobre a crise (& Práticas de Combate)


Uma entrevista interessante, não facciosa e realista, a uma pessoa empenhada socialmente e inteirada das fragilidades do país real, com a mais valia de ter a experiência no campo:


Entrevista PÚBLICO/Rádio Renascença/RTP2

“Falta vontade política para erradicar a pobreza”, lamenta presidente da Cáritas Portugal
06.02.2009 - 20h33 Bárbara Wong (PÚBLICO) e Raquel Abecasis (Rádio Renascença)
Eugénio Fonseca é presidente da Cáritas Portugal e membro da direcção da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) diz que quem antes dava donativos está agora a pedir ajuda. São os novos pobres, as pessoas que viviam do seu trabalho e, de repente foram despedidas. O responsável acredita que haverá empresas que se estão a aproveitar da crise, mas espera que a sua responsabilidade social seja a de não fechar as portas e manter os postos de trabalho. Para já, são as instituições de solidariedade social que estão a apoiar as famílias, informa. “Mas a crise não se resolve só com essas medidas”, o Estado tem de intervir mais, nomeadamente no acompanhamento das pessoas que pedem o subsídio de desemprego, defende.

3 comentários:

Carlos Braga disse...

Palavras acertadas, as do presidente da Caritas. Nos tempos que correm é a própria organização da sociedade que está em causa, bem como os seus fundamentos e valores. Alastram novas formas de pobreza e exclusão social. Vivemos em "sociedades de risco", onde o Estado se vê obrigado a proteger empresas e sectores produtivos ameaçados. Multiplicam-se vulnerabilidades, vivemos no reino da incerteza e do medo do futuro.
Os novos pobres, ou mesmo excluídos, são os "normais inúteis" de que falava Donzelet: ou porque são puramente excedentários face às necessidades do mercado, ou tão só porque os seus níveis de qualificação não estão em sintonia com os interesses e a lógica desse mesmo mercado. Os novos pobres e excluídos são o resultado de uma política de liberalização do mercado e de maximização dos lucros, que se coloca à margem dos problemas sociais daí resultantes.
Se há ou não vontade política para combater a pobreza não sei. Mas parece-me que qualquer política digna desse nome pressupõe que se actue ao nível da prevenção, da protecção social e da integração. Trata-se de um fenómeno complexo, que não se resolve com o uso exclusivo de medidas legislativas. A formação de redes de parcerias, a planificação de políticas sectoriais, o seu acompanhamento e avaliação, a cobertura adequada do país em equipamentos e serviços ou as iniciativas de desenvolvimento local, podem ser um bom caminho. Já lá não vamos com meros discursos de circunstância. As palavras estão gastas e a severidade da pobreza reclama que se garantam patamares básicos de cidadania.

Pedro Carvalho disse...

Apreciei a lucidez com que o Presidente da Caritas tratou o assunto. De facto vivemos num estado de emergência social. Acho que a solução para os problemas não passa de todo só pelo Estado. Tenho esperança que com arte e engenho possamos minimizar os efeitos da crise e valores como a solidariedade e comunhão renasçam no nosso País. Apesar de tudo estou preocupado.

Anónimo disse...

Penso que o que está em cima da mesa é a questão da globalização, isto no que se refere à competitividae e/ou inicitativa privada. O estado quando intervém no sector privado está sempre a favorecer alguém em detrimento doutrem, mas concordo que deva intervir em nome do interesse social em algumas situações. Considero que a actual crise está sòmente no seu início e vai, a curto prazo, ditar medidas proteccionistas de qualquer governo, incluindo o Português. Ora sendo Portugal um país que depende fortemente das suas exportações, esta crise vai ter reflexos, temo eu, para Portugal muito mais acentuados do que para outros países nossos parceiros. Assim, e tal como diz o Dr. Carlos Braga, no que se refere às redes de parcerias e políticas sectoriais, vai haver necessidade de se passar aos actos com medidas concretas. E um muitos casos, com medidas proteccionistas para defesa dos interesses de Portugal e dos portugueses. O consumidor informado pode ajudar MUITO a sair desta crise.
Continuem o bom trabalho.