quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mutilação genital feminina em inquérito guiniense!

A Assembleia Nacional Popular (ANP) da República da Giné-Bissau está a promover um inquérito sobre a mutilação genital feminina, também chamada excisão feminina! Não fiques indiferente. Clica na ligação e vota. Se bem que votar, neste caso... Para que constasse, tive necessidade de acrescentar o seguinte comentário: «Votei contra, porque a excisão feminina me repugna, embora o meu voto não tenha raízes apenas numa sensibilidade pessoal, mas em critérios transubjectivos - universais. Estou, assim, paradoxalmente, também contra esta votação. Ela pressupõe que a existência da prática da excisão feminina possa depender da vontade de uma maioria. Ora, esta prática não é referendável, uma vez que o que está em causa é a dignidade humana, a integridade física e psicológica da mulher. O meu voto contra a excisão é a favor do reconhecimento de que o mesmo é um crime contra a humanidade e não a participação numa votação relativista que abre campo a arbitrariedades.»

Paulo Carvalho

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Desafio: «A Minha Feira»

(«Feira da Palhaça» em fotografia, arq. Museu S. Pedro da Palhaça)


As origens remotas da Feira da Palhaça





O desafio

A Feira da Ladra, em Lisboa.
A Feira de São Mateus, em Viseu.
As Feiras Populares (e os poços da morte).
As Feiras Medievais (a inglesa Scarborough Fair, p.e.).
As feiras sem regras.
As feiras de artesanato.
As feiras profissionais.
As feiras amadoras.
As feiras de Comércio Justo.
A Feira de Bustos.
A Feira da Palhaça.

Eis uma minúscula lista de feiras que estimularam e inspiraram conversas corriqueiras do presente e do passado, evocações, a História, A Etnografia, as Artes, o cidadão, o consumidor, o comerciante, os fabricantes.


Hoje, dia de «número redondo» para os palhacenses - 29 - lança-se um desafio, uma provocação, aos palhacenses e/ou a todos os leitores deste blog: sugere-se a partilha aqui, hoje ou qualquer dia, de um olhar ou vários sobre a Feira da Palhaça - um vídeo, uma música, uma poesia, uma crónica, uma fotografia, uma legenda, uma montagem, etc.


Avanço com uma tentativa de apelo aos sentidos:

Um miúdo, traquina, um «pateta feliz», atravessa , a correr, a feira da Palhaça, do hoje e do ontem, de uma ponta à outra, e grita: «A imaginação ao poder!», slogan roubado às inspiradas palavras de ordem do Maio de 1968. A mensagem é para todos os que passam ou passaram por uma feira que os afecta/ou, positiva e/ou negativamente, de algum modo.

A feira da criatividade e/ou da memória ou do registo é vossa: plural, gratuita e de livre acesso.
Ponham-se à vontade: montem a vossa tenda, a vossa banca, se o desejarem. Para o fazerem, só têm que picar o ponto no portal do Gmail: [palhacacivica (utilizador)/ viladapalhaca (palavra-passe).

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Educação & Inclusão Social

Numa época em que a Educação passa pela agenda mediática e da cidania por razões várias - Estatuto da Carreira Docente, Estatuto do Aluno, elogios exteriores à política de reforma educativa portuguesa, casos de indisciplina de alunos e de agressão aos/dos professores, propostas de Educação Sexual nas escolas, as falhas e as virtudes da escola democrática, filmes como «A Turma», o «braço de ferro» entre o Ministério da Educação e uma massa considerável de professores independentes e sindicalizados, a propósito da avaliação -, há uma considerável consenso de que um dos principais problemas estruturais da sociedade portuguesa é, de facto, a Educação.


Porque considero que a escola pode ser um reflexo e uma espécie de reprodução do que é a sociedade «lá fora» - a família, os adultos, os líderes de opinião, as referências, etc. - ou antecipa e afecta o futuro dos educandos e cidadãos, e por conseguinte o destino de uma sociedade, sugiro a leitura de dois textos sobre como programas de inclusão social e de educação cívica e para uma sexualidade responsável, via escolar, poderão/poderiam evitar a marginalidade e vidas amargas de crianças, jovens e adultos mais vulneráveis (que estão mais perto de nós do que pensamos), ostracizados familiar e socialmente, muitas vezes insconsciente e irracionamente.

Boa notícia:

ME lança avaliação externa sobre a implementação do novo diploma da Educação Especial

in Portal do ME, 22 de Jan de 2009
O Ministério da Educação (ME) convidou uma equipa de especialistas na área da Educação Especial a concretizar um projecto de avaliação da implementação do Decreto-Lei n.º 3/2008, que define os apoios especializados a prestar nos diversos níveis de ensino para dar respostas adequadas aos alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente.



(...)

Os especialistas que integram o projecto assumem, como objectivo central da sua concretização, a obtenção dos seguintes resultados:
Influenciar o pensamento dos diferentes agentes educativos acerca da educação especial;
Melhorar o Manual de Apoio à Prática em Educação Especial;
Preparar instrumentos com base na CIF para a avaliação e intervenção;
Apresentar recomendações à tutela que permitam a tomada de decisões no domínio das políticas educativas.


(para ler notícia na íntegra, clique sobre o título da notícia)


Má notícia:


Homofobia em meio escolar é causa de abandono precoce e de tentativas suicidas
in Público, 27.01.2009 - 09h07 Andreia Sanches


Em dois anos, a Rede ex aequo - Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Simpatizantes recebeu 92 denúncias de discriminação relacionadas com a orientação sexual e a identidade de género. Alunos do ensino secundário e superior são os autores da maioria dos relatos que dão conta de agressões verbais, físicas ou psicológicas. Alguns sentiram-nas na pele. Outros decidiram divulgar situações a que assistiram."Foram os PIORES anos da minha vida", escreve um dos queixosos sobre o tempo que passou na escola. Como outros, este jovem de 15 anos, que se identifica como transexual, acabou por mudar de estabelecimento de ensino por causa dos ataques de que era alvo. Seis acabaram mesmo por deixar de estudar. E oito confessam que tentaram o suicídio.

"Quando me intimidavam com discriminações verbais, sentia-me rebaixado. Talvez por me sentir tão inferior, pensei muitas vezes que o suicídio seria a melhor forma de acabar com a situação", relatou um rapaz de 18 anos, que se identifica como homossexual. Vive em Santarém. O Relatório sobre homofobia e transfobia do Observatório de Educação da ex aequo tem base em queixas que entre Outubro de 2006 e Outubro de 2008 lhe chegaram através de um formulário disponível on-line (www.rea.pt/observatorio.html).

(para ler notícia na íntegra, clique sobre o título da notícia)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TV Cidadão

Numa época em que a democracia representativa anda pelas ruas da amargura, um programa televisivo (antes, rubrica confinada a meia dúzia de minutos) como o «Nós Por Cá» (SIC, 19H) - goste-se ou não do estilo - surge como um balão de oxigénio para o cidadão ignorado pelo poder, um livro de reclamações muitas vezes de acesso interdito a quem vive no «país real», país esse que José Sócrates e outros políticos-de-bancada (da direita à esquerda) não auscultam ou auscultam pouco, senão em período eleitoral e/ou em acções de propaganda e/ou em inaugurações.

Pela mediatização e pela publicitação dos «pontos negros» de um país frágil, um mero programa televisivo parece ter mais impacto - real - sobre o poder local e municipal do que as denúncias de anomalias ou burocracias que o cidadão comum faz junto das supostas entidades responsáveis por tais atropelos. Há, por vezes, efectivas resoluções de problemas, depois da divulgação de imagens comprometedoras. Infelizmente, «nós por cá» temos alguns agentes políticos a despertarem para acção apenas a posteriori da pressão mediática.

Apesar de ser também uma manobra televisiva de fidelização de públicos (quando é útil para o exercício da cidadania e para a resolução de problemas, a questão estratégica não me causa urticária, admito), louvo o mérito do programa ( apresentado por Conceição Lino) de fazer o cidadão comum (re)equacionar os seus direitos e deveres, ter uma voz mais activa, e de questionar o país que temos cuidado ou descuidado. Além do mais, é possível assistir ainda a mini-entrevistas sobre «o estado da Nação» (Medina Carreira ou Mário Zambujal já passaram por lá, mas também cidadãos anónimos, como bombeiros, cabeleireiros, etc.). Nesse sentido, estamos perante um programa menos elitista e mais transversal, mais «construtivo» do que «destrutivo».

Familiar ao «Nós Por Cá» nos propósitos, o programa «Sociedade Civil», na «RTP2» (transmitido, diariamente, a um horário vedado ao comum cidadão-trabalhador preso aos horários tradicionais de labuta), aborda também assuntos de cidadania, embora com maior profundidade, com mais pluralidade de vozes e mais debate.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Sobre As Políticas Sociais no Município de O. do Bairro (II)

Abaixo segue a resposta de Laura Sofia Pires, vereadora da Acção Social da CM de Oliveira do Bairro, ao repto nº2 e último, lançado neste blog nos primeiros dias de vida:

P: Caso a resposta seja afirmativa, será possível aceder a esses dados, de forma transparente, e saber que planos de acção estão previstos, para 2009, pela Câmara Municipal, pela Junta de Freguesia e pelas Instituições (incluindo a igreja) para combater a pobreza na vila?

R: Quanto à consulta de dados, todos os que a Câmara recolhe e analisa são públicos. Quanto às outras entidades – Segurança Social e Centro de Emprego – há publicação de números e estatísticas oficiais. Deixo-lhe a seguinte indicação:Mais importante do que conhecer os números, é conhecer os nomes por trás dos números. E falo dos nomes de todos quanto são beneficiários de apoios seja de instituições como a Câmara, as IPSS’s, os Grupos Caritas, a Saúde ou outros.Porque demos conta de que há pessoas que ocultam dados importantes referentes a apoios prestados por outras entidades quando nos pedem apoio, estamos a tratar de implementar o chamado Atendimento Social Integrado no concelho.Sucintamente, este atendimento vai criar 1 único processo (informatizado) no concelho para cada indivíduo. Quando eu – Laura Pires – me dirijo ao serviço Câmara e digo que quero apoio para medicamentos, vai ser possível à técnica municipal confirmar que eu não recebo esse apoio de mais nenhuma entidade. Quando eu Laura vou ao Centro de Saúde e peço qualquer tipo de apoio para consultas isso é registado nesta plataforma on-line (de acesso reservado a técnicos), dado que pode ser consultado por qualquer das entidades que trabalham na área social.O problema deste modelo prende-se com cuidados ao nível da protecção de dados pessoais. Uma vez ultrapassada esta questão, estaremos em condições de o implementar e – assim creio – ajudar melhor cada indivíduo que realmente necessita, possuindo dados sempre actuais e fidedignos, evitando fraudes ou erros.

Sobre As Políticas Sociais no Município de O. do Bairro (I)

Lançado o repto ao poder local e municipal e a instituições de solidariedade social, a propósito das políticas e acções avançadas para combater a pobreza real ou iminente no concelho/na vila, o «Palhaça Cívica», recebeu uma resposta de Laura Sofia Pires, vereadora da Acção Social da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro. Recuperamos, abaixo, uma das perguntas (P) e tornamos públicos os esclarecimentos (R):


P: (...) Questiona-se a Junta de Freguesia da Palhaça, a Câmara Municipal de Oliveira do Bairro e/ou as instituições de solidariedade (como a Cáritas) sobre a existência ou não de um levantamento do número de pobres, indivíduos ou agregados familiares em risco de pobreza e/ou de desempregados da Palhaça, bem como do número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção, do subsídio de desemprego e de pensões de reforma.


R: Há um documento que se chama Diagnóstico Social que “permite o conhecimento e a compreensão da realidade social através da identificação de necessidades, de detecção de problemas prioritários e respectiva causalidade, bem como dos recursos e constrangimentos locais” – DL 115/2006, de 14 de Junho, artigo 35.º.

Em Oliveira do Bairro temos esse documento desde 2004, o qual sofreu actualizações por áreas temáticas em 2006 e em 2007. Este documento é construído por todas a entidades que fazem parte do CLAS – Conselho Local de Acção Social (uma espécie de Assembleia Geral onde têm assento todos os “sócios” que trabalham na área social, saúde, emprego, segurança) – que fornecem dados à técnica dinamizadora (da Câmara Municipal) Dr.ª Ana Bastos, socióloga.

Realizámos também workshops temáticos nas áreas definidas como prioritárias: emergência social, envelhecimento e dependência, necessidades educativas especiais, infância e juventude, Educação Formação, Incapacidade e Deficiência.

Dos textos elaborados por áreas para actualização, destes workshops e reuniões temáticas, resulta o novo Diagnóstico Social do Concelho, em fase final de elaboração e que deverá ser apreciado e votado em Janeiro de 2009 em CLAS. Nesse documento há um diagnóstico dos problemas e há também indicação de medidas concretas a adoptar por todos para resolver os problemas encontrados.

Portanto, o levantamento que refere existe quer quanto a desempregados, quer quanto a beneficiários de Rendimento Social de Inserção, quer quanto a beneficiários do subsídio de desemprego.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Futebol, a quanto obrigas

Ora cá estamos nós a pré-falar do Mundial de Futebol 2018. O país está a começar a ficar em êxtase. Está escrito nas estrelas que isto vai mesmo em frente. Reparem que esta questão foi falada há uns meses e só agora é que teve algum desenvolvimento. Os Senhores da Bola quiseram aproveitar o efeito Cristiano Ronaldo. È mais fácil falar ao País quando andamos anestesiados com alguma coisa. O terreno fica mais fértil pensamos menos. Nada disto foi por acaso.

Não sinto o País preparado para receber o Mundial. Dizem que é só em 2018. Só faltam 9 anos! Este tipo de projectos, num País como o nosso, é o prolongamento natural de um país que está à deriva, que quer viver permanente em festa e que se recusa a aprender com os erros e com as dificuldades porque passamos diariamente. Não nos esqueçamos que no momento que estamos a começar a discutir, a pré-candidatura, há jogadores de futebol que não recebem os salários e muitos clubes em pré-falência. Ainda não ouvi a Federação Portuguesa de Futebol a dizer quanto custa. Entendo que seria necessário fazer antes de avançar e se comprometer: estudar o assunto, avaliar vantagens e desvantagens. O fio condutor dos comentários a favor é um: FESTA. Também não percebi o papel do Governo, por um lado o secretário de estado do desporto envia uma carta a dar força à candidatura, por outro temos o ministro das finanças e até o Primeiro-Ministro a meter água na fervura. Isto de jogar nos dois campos traz-nos sempre custos. Obviamente se repararem os diários desportivos, os mesmos das telenovelas futebolistas, se encarregarão de fazer páginas de apoio ao Mundial.

Até parece que já nos esquecemos do Euro 2004. Eu não me esqueci até porque passo todos os dias no Estádio Municipal de Aveiro. Dos 10 estádios 5 estádios não servem para quase nada (Loulé, Aveiro, Leiria, Boavista, Coimbra), completamente vazios. Aveiro manifestamente ficou a perder, e muito. Houve festa em Aveiro, houve. Houve gente a ganhar dinheiro, houve. A economia local animou, animou. Mas, mais cedo ou mais tarde teríamos uma factura para pagar. As facturas em Aveiro não se pagaram e ficámos a saber das dificuldades dos fornecedores da Câmara para receberem.
Criou-se um equipamento com custos elevados de manutenção. A capacidade de uso desportivo foi sobredimensionada.

A candidatura ao Mundial está aí. Eu até sou um Ibérico convicto mas neste caso sou frontalmente contra.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Espectáculo de Percussão (Aqui Ao Lado): Projecto «CRASSH»

PLAYIN' LIKE STOMP [projecto residente da Escola de Artes da Bairrada], de sexta a domingo, 23 a 25 de Janeiro, no Estaleiro Teatral, em Aveiro











«CRASSH é o resultado do trabalho de 13 Jovens percussionistas (dos 12 aos 20 anos) sob a criação e orientação de Bruno Estima. Este trabalho foi reconhecido com o 1º lugar no concurso "TETRA- projectos com pernas para andar" organizado pela D'Orfeu – Águeda em 2007 e recentemente é um dos dois nomeados no concurso nacional "Jovens Criadores '08" organizado pelo IPJ.


O espectáculo apela a um grande leque de audiências, atraindo apaixonados pela percussão, música, comédia, dança, teatro e a arte de representar, por si própria.


A sua mistura única de variadas formas de arte, tem atraído um vasto leque de públicos. É um espectáculo universal para todas as idades, onde não existem quaisquer barreiras linguísticas e culturais. A interacção com o público é um dos elementos mais explorados, tornando o público, por alguns momentos, co-artista.


As expressões físicas e sonoras ligam-se na perfeição criando um espectáculo total, surpreendente e cativante. Servidos por uma energia contagiante, uma representação energética e um humor a toda a prova, os CRASSH provam que a arte não tem barreiras nem limites. Para eles, a beleza e a música são uma constante quotidiana, presente em tudo.


Das botas aos baldes, das caixas de fósforos aos capacetes e vassouras, dos lava-loiça às revistas, tudo é motivo e base para o movimento e para o som».


(Comunicado de Imprensa da «Efémero - Companhia de Teatro de Aveiro»)



+ INFO: O projecto CRASSH, em parceria com a Efémero - Companhia de Teatro de Aveiro, apresenta o espectáculo de percussão "Playin' Like Stomp" com a direcção artística de Bruno Estima, nos dias 23 e 24 de Janeiro às 21.30h e dia 25 de Janeiro de 2009 às 16h, no Estaleiro Teatral, em Aveiro (a um passo do Hospital). O preço dos bilhetes é único, no valor de 5 euros, e as reservas podem ser feitas para o número de telefone 234 38 65 24 ou para o email efemero@mail.telepac.pt



terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Chegou a hora de dizer...


Gostei mesmo destas duas fotografias.

Obama e os perigos do realismo


Depois de oito anos de terror e fanatismo bushiano-islâmico, os Estados Unidos da América e o mundo tinham razões para acreditar que o que vinha aí seria melhor (pior do que uma administração Bush, só duas administrações Bush; e como não havia hipótese de uma terceira…). Quanto a expectativas, o caminho para o próximo presidente estava assim, de certo modo, facilitado. Mas quando o presidente eleito é um afro-americano, goste-se ou não do indivíduo, o momento torna-se especial. Tratando-se de Obama, torna-se extraordinário: o mundo reconcilia-se com a superpotência, recuperando a ideia romântica que sempre teve da América; louva a capacidade de regeneração da democracia americana; chega a acreditar que, dado o actual contexto de crise económica global, este é o melhor presidente possível.

Acorrem então as vozes da sensatez, lembrando que o senhor é apenas um homem e que não há Messias que possa salvar o mundo, no estado em que este está. Algumas vozes vão mais longe e advertem que o homem é só fogo de vista. Desde a sua eleição até hoje, ainda que por razões secretas diferentes, assisti a uma aparentemente estranha convergência de vozes da direita e da esquerda em relação a isto. De um lado e doutro se diz que há naquela «retórica de pastor» algo que os faz desconfiar. Essas vozes têm algo em comum: o auto-intitulado «realismo». O realismo dos que não se deixam enganar por sereias que conduzirão os caídos que se levantaram a um tombo ainda maior.

De facto, ser «realista», nas actuais circunstâncias, em que grassa o pessimismo e o desespero, afigura-se, até, uma atitude corajosa. Perante os que desistem ou seguem os fantasmas que o aconselham à retirada e à preservação da vida, o realista surge como o soldado da linha da frente que não baixa os braços e avança, um herói. Mas sê-lo-á? O realismo, historicamente falando, sempre encarnou a manutenção do status quo. A verdade é que o realismo não quer mudar, quer a realidade (social, política, económica, ambiental) tal qual é. «Sempre houve pobres; nunca sanaremos as injustiças; pode lá agora o planeta colapsar!», diz o realista. Acontece que não é possível manter o mundo como está – as circunstâncias empurram-nos noutra direcção. Aliás, foi o realismo (a realpolitik, a anarquia económica, etc.) conduziu o mundo à actual situação, um beco de difícil saída, a uma espécie de suicídio colectivo. Pelo que não nos resta senão a procura de novos paradigmas, como o do cuidado, o da criatividade e – porque não – o da esperança.

O que as vozes «realistas», não dizendo, querem dizer, é: «Cuidado! Não se deixem galvanizar pela esperança que este tal de Obama traz! Nada de ilusões estapafúrdias e perigosas! Por este andar, ainda caminhamos para uma nova ordem mundial! É isso que querem?» Mais coisa menos coisa, dizia-se o mesmo de Martin Luther King, o pastor, e agora os Estados Unidos da América elegeram um afro-americano para presidente... Que azar!

Sim, talvez (ainda é muito cedo para o dizer) Obama não tenha a envergadura política e moral de um Kennedy, de um Gandhi ou de um Mandela – pessoas que me fazem reconhecer que valeu a pena ter existido uma humanidade sobre a terra –, mas que aprendeu alguma coisa com eles, disso eu não tenho dúvidas. Claro que estes homens correram riscos que lhes custaram a prisão ou a vida. Transportar a esperança implica riscos avultados. E, apesar dos perigos, algo mudou – para melhor. É, portanto, na esperança que aposto e não no realismo.

Paulo Carvalho

domingo, 18 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

NO IMENSO ADEUS AO ADELINO BAPTISTA (Crónica de uma morte inesperada)

14 de Janeiro, oito da manhã. Encontrei o Adelino – era assim que gostava de o tratar – na estação de Oiã, em amena cavaqueira com o Amílcar Mota. Há meses que não conversávamos. Começou logo por dizer que tinha encontrado, finalmente, o testamento de Manuel de Oliveira a doar os terrenos para a feira, e que ia a Coimbra fazer umas pesquisas, na esperança de encontrar novos documentos. Entretanto, chegou o comboio e entrámos em carruagens diferentes. Ele mais à frente, com o Amílcar; eu na última, cumprindo velhas rotinas com amigos que viajam todos os dias a partir de Aveiro.

O fio da conversa cortou-se ali. Mas, tal como a Nau Catrineta, ele tinha sempre muito que contar. Por isso o convidei para um café mal chegámos a Coimbra. Acedeu de imediato. Falámos, como quase sempre, de livros e jornais da região, de documentos e outras coisas do Museu. O que vinha à baila era sempre aquilo de que gostávamos, embora nem sempre gostássemos das mesmas coisas, ou pensássemos da mesma maneira.

Começou por dizer da vontade em se reformar, daqui a pouco mais de dois anos. Acalentava a esperança de se dedicar mais à Família e aos problemas do Museu. A seguir, falámos sobre o destino a dar ao edifício das Escolas, uma vez desactivado. Depois, mostrou-se entusiasmado com um novo scanner e prometeu digitalizar-me algumas fotografias de procissões antigas de Santa Joana, outras de um congresso da oposição democrática em Aveiro e, creio, também algumas alusivas à campanha presidencial que envolveu Arlindo Vicente e Humberto Delgado. Sentindo-o tão disponível, ousei colocar-lhe uma questão que andava “embrulhada” há uns tempos: a cedência de umas pautas de música que estão na posse do Museu – teriam pertencido a Manuel Simões Alberto, da vizinha freguesia de Nariz e autor da primeira monografia histórica da Palhaça – e que se podem vir a revelar de grande utilidade para a conclusão de um trabalho, sobre literatura popular na freguesia, a que o Paulo Carvalho deitou mãos e ao qual pacientemente se tem dedicado.

Sorriu, e com aquele olhar de rio manso que sempre lhe conhecemos, lá foi dizendo, sem ponta de amargura, que tivera um pequeno desaguisado com o Paulo Carvalho, por causa das ditas pautas. Mas que tudo estava ultrapassado, pois a amizade entre ambos era incomparavelmente maior do que alguns desentendimentos pontuais. Teríamos as pautas digitalizadas, apenas com uma condição: que o Paulo se deslocasse ao Museu para as seleccionar, pois ele não percebia nada de música.

Aprazámos encontro no Museu, num dos próximos sábados à tarde. Prometi levar-lhe também umas colecções incompletas de jornais que andam lá por casa a ocupar espaço em demasia: o Litoral, o Ilhavense, o Companha, o Correio do Vouga, e outras publicações ainda mais avulsas. A conversa durou pouco mais de meia hora. Despedimo-nos, felizes e gratificados pelo convívio, sem que nenhum de nós imaginasse que seria o último. Eram nove e vinte e oito da manhã.

À tarde, no regresso a casa e já depois de termos passado a Mealhada, aparece à minha frente, aturdido, o Amílcar. Acabara de receber a notícia de que o Baptista – como quase todos lhe chamavam – tinha morrido. Ao que parece de maneira fulminante, em Aveiro, nas proximidades do centro comercial Oita. De repente, tudo deixava de fazer sentido. Lá estava o rasgão da morte a mostra-nos que os projectos e sonhos que se constroem não têm, afinal, a importância que lhes atribuímos.

Quando parte alguém que se ama ou de quem se gosta é sempre uma infinita tristeza. A vida não passa de um caminho para a morte, mas nenhuma idade é boa para morrer. E as circunstâncias em que a morte chega quase sempre nos parecem impróprias. O Adelino Baptista desapareceu do nosso convívio há uns dias apenas. Evoco agora os últimos fragmentos da sua vida para suavizar o espanto e a dor, mas também convencido de que sem essa vida a vida cultural dos últimos trinta anos da Palhaça teria sido bem mais pobre e apagada.

Deixou-nos com a delicadeza habitual, de mansinho, sem avisar, depois de prestar inestimáveis serviços à cultura da sua terra e de ter reservado para a minha companhia um dos últimos cafés que saboreou. Sensível e atento, disponível para os outros, foi por certo semear esperanças e acender entusiasmos noutras paragens, divulgar documentos da sua Palhaça nas alamedas da eternidade.

Choca-me a ironia do destino que a 14 de Janeiro o aproximou de mim como há largos meses não acontecia, para poucas horas depois o ceifar impiedosamente, quando carregava ainda no bornal tantos projectos, tantos sonhos por cumprir. Falámos muito, mas ainda tanto ficou por dizer…
Quisera eu acreditar que esta morte não é morte, porque a eternidade, mais do que uma circunstância, é um lugar. Vem serenidade, vem, para que a vida recomece, devagarinho, a recuperar algum sentido.

A cadeira e a lua

Comecei com uma cadeira e fiquei-me na rua com a Lua.

O Baptista acolheu todos num espaço grande que depressa ficou pequeno. Era uma aventura sem horário, e sem retorno. Jamais ficarei indiferente depois de ter subido ao sino com ele, e termos partilhado umas migalhas. A vista é soberba, sente-se a paz do alto da Nossa "aldeia". Tenho saudades.

Acabei a cadeira, mas nunca cheguei à Lua.
Sim, porque até a Lua tem histórias para contar e deleitar.
Não te preocupes bom amigo.
Obrigado pelo teu tempo.
Será eterno em mim.

Nuno

A vida e a morte dentro de nós

Estamos habituados a celebrar a vida e nunca a morte, porque esta é sempre uma hora de dor para as pessoas mais próximas. Mas não devemos celebrar a vida só quando ela se inicia. Apesar da mágoa da morte de um amigo, devemos tentar celebrar a vida que teve e que partilhou.
Lembrarei sempre a calma, a ponderação, a humildade, o sentido de dar e de ouvir do Baptista. Mesmo quando calado, a ouvir as nossas conversas sem sentido (e para quem sabe, não são nada poucas), sabíamos ter ao lado um amigo para todas as horas. Penso que sentia que também nós tínhamos por ele um carinho igual. Ainda bem que o sentia.
Foi o Baptista que nos proporcionou projectos, viagens, aventuras e novas experiências. Teve paciência com as tropelias que íamos fazendo, acreditou em nós, deu-nos sem pedir. Com o Baptista conseguimos acreditar sempre que conseguiríamos fazer coisas novas.
Devemos-lhe parte do nosso crescimento e todas estas memórias ficarão dentro de nós.
Obrigado Baptista, pela amizade e pela parte da tua vida que connosco partilhaste ao longo de todos estes anos.
Miguel Neta

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Hora negra

Nesta hora negra em que o Adelino Baptista nos deixou de forma abrupta, lembremo-nos da lição do seu entusiasmo em tudo aquilo em que se empenhava...



Em sua homenagem fica aqui esta belíssima música de Arvo Pärt.

Paulo Carvalho

Sobre A Faixa de Gaza

Ao Paulo Rocha e à Marlene Carvalho

Quando em 2005, o maestro e pianista Daniel Barenboim tocou em Ramala com a sua orquestra de jovens músicos árabes e judeus ele não tinha ilusões: «A música não traz a paz a este território; mas, quando se ouve música, estamos atentos ao outro, ao que ele diz, à sua diferença, e isso, sim, é o princípio da paz. O conhecimento do outro é o princípio da paz.» Obviamente, que depois do conhecimento, haverá um longo caminho a percorrer, mas antes do contacto e do conhecimento só haverá medo e ódio entre as partes – porque são tomadas entre si como partes inimigas, abstractas, precisamente, e não como indivíduos humanos, com um rosto, família e uma história. A propósito vale a pena ler este artigo (http://www.pamolson.org/ArtIsrRamallah.htm), sobretudo o capítulo Violins and Kalashnikovs.

Paulo Carvalho

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mexa-se pela sua Saúde

Deixei de ver bicicletas na Palhaça (é um exagero, claro!). Quando passava em vários locais da freguesia, lojas, adro, fábricas ou terras de cultivo, via um amontoado de bicicletas. Agora vejo carros. Em pouco tempo adquirimos hábitos francamente sedentários. Normalizámos a vida a motor. Preocupa-me esta mudança repentina para a vida sedentária. Não será difícil perceber que para haver mudança é necessário sensibilizar as pessoas, educando-as para a necessidade urgente de adopção de hábitos de vida mais activos, como forma de transmissão de conhecimentos para a prevenção da saúde e bem-estar de toda a família. Apesar dos contributos e vantagens numa prática regular de actividade física serem do conhecimento geral da população, isso não impede que Portugal continue a apresentar um índice de participação desportiva bastante baixo e inferior à média da União Europeia.

Um dos maiores desafios, na prevenção das doenças que surgem pela inactividade física e alimentação desajustada, é conseguir que as pessoas no seu dia-a-dia assumam hábitos saudáveis. A generalização dessas práticas exige a recuperação de atitudes, comportamentos, gostos e gestos que no fundo deveriam ser adquiridos ao longo da vida e que se foram perdendo. Não me parece difícil (re)adquirir hábitos antigos.

Diariamente temos muitos exemplos fáceis para ser-se activo: ir às compras de bicicleta ou a pé, carregar o lixo até ao contentor também pode fazer-se a pé, realizar passeios nos caminhos de saibro, subir e descer escadas, andar/correr nas ruas asfaltadas da freguesia, etc.
Para aqueles que quiserem realizar uma actividade desportiva mais formal também pode fazê-lo nas instalações desportivas da ADREP. Encontram campo de futebol 7 relvado, polidesportivo descoberto onde pode jogar ténis, pavilhão coberto, ginásio, piscina e corredor de atletismo. No caso de gostar de andar de bicicleta btt/estrada existem vários grupos da Palhaça a mexerem-se ao Sábado e Domingo.

Deixo esta frase em jeito de pensamento: “Desfrutamos de um dos estilos de vida mais luxuosos da Terra: abundância de alimentos, trabalho automatizado, prazer sem esforço. Mas é exactamente este estilo de vida que nos está a matar.” (National Geographic Portugal, 2004).

sábado, 10 de janeiro de 2009

Auto dos Reis Magos e Cortejo de Pastoras

A tradição volta a cumprir-se. Vamos ter novamente cortejo dos Reis na Palhaça. É uma festividade que continua a ter lugar também em outras freguesias do nosso concelho – Bustos e Mamarrosa – assim como, ainda há bem pouco tempo, em localidades próximas da cidade de Aveiro: S. Bernardo, Angeja, Cacia e Fermelã.

Embora a representação do auto dos Reis seja a mais comum, há casos em que se realiza apenas o cortejo das Pastoras. Na Palhaça, a primeira vez que se realizou o auto dos Reis Magos foi no dia 6 de Janeiro de 1925, num tempo em que a I República se encontrava já agonizante e em vésperas de ser derrubada. Essa novidade foi anunciada na imprensa da época como “espalhafatosa cerimónia dos Reis”, à qual não faltaram as pastoras com as suas ofertas.(1)

O Auto dos Reis é uma festividade religiosa que não dispensa o seu lado profano. Por isso se encontra tão entranhado na cultura popular. Curioso é saber-se que em séculos recuados a igreja oficial os tenha combatido e mesmo proibido, em obediência ao espírito de Trento, cujo concílio se iniciou em 1545. Empenhada em lutar contra a degradação dos costumes e o avanço do protestantismo, não admira que a hierarquia eclesiástica tenha feito a vida negra aos vários Autos de feição popular, onde se contam, além do dos Reis, o do Natal, o da Paixão e o da Primavera. Apesar de todos celebrarem o nascimento do Deus cristão, o Tribunal do Santo Ofício não se coibia de atear fogo aos folhetos que os transcreviam.(2)

Anos de chumbo esses, em que os pecados se redimiam através da purificação pelo fogo, tão do agrado dos inquisidores da época. Mas ainda bem que esses Autos chegaram até nós, apesar do combate que lhes moveram. Apenas não se sabe se intactos ou se aquilo a que assistimos hoje não são apenas “restos” do que foi possível recuperar dessas representações de outrora, a que se terão acrescentado alguns “enxertos” saídos da retorta da imaginação popular.

Pode dizer-se que a tradição de representar estes dois autos (ou cortejos) dos Reis e das Pastoras, uma vez que remonta a tempos imemoriais, só recentemente foi recuperada na nossa freguesia. O mérito vai todo para Manuel Simões da Silva, o saudoso Manuel Tomé: um exímio contador de histórias – pícaras ou com laivos moralizantes - um fazedor de amigos e também um amante da natureza. A mata que deixou, ali bem perto da sua casa e da fonte do Bebe-e-Vai-te, era bem o espelho do seu amor à natureza, com quem invariavelmente todos aprendem. Ele sabia da poda das árvores e dos enxertos, do plantar em tempo certo, da preferência emotiva por certas flores e arbustos. Tudo o que era beleza natural derramava-se-lhe na alma. Para além de tudo isso, era ensaiador de teatro – no qual participou também como actor - e gostava de escrever nos jornais.

Diz-nos António Capão que a representação dos Magos na aldeia “nasceu de um conjunto de esforços seus”, em resultado da insatisfação que sentia ao assistir a estas representações em povoações vizinhas, ao verificar que “não correspondiam às suas aspirações de verosimilhança com os factos históricos do nascimento de Cristo”.(3)

A Palhaça pode orgulhar-se, aliás, de possuir dois valiosos documentos alusivos a estes autos, ambos fixados em livro. O acima referido, registo de inegável valor etnográfico, e um outro, da autoria de António Capão, no qual se refere ser o auto dos Reis Magos “uma peça de teatro representada ao ar livre” e em que “o palco onde corre a cena é a aldeia inteira”(4). Ambos os trabalhos são merecedores do nosso mais vivo aplauso e da nossa gratidão.

Resta acrescentar que, para lá destes dois nomes, muitos outros continuam gravados na memória dos mais idosos e são dignos do nosso apreço, pelo contributo que ao longo dos anos foram dando para o brilho desta festividade. Entre os já desaparecidos, avultam os nomes de José Teixeira (José Cabreiro), o inesquecível Herodes; José do Nascimento Marques Moura, António Julião, Guilherme Barreto, Isidoro Amaral e o sempre impecável e aprumado doutor da lei António Lourenço.

No domingo, dia 11 de Janeiro, tudo aponta para que as festividades tenham o brilho do costume nesta terra que tem por orago S. Pedro. Estão de volta o velho Semião, o Anjo Anunciador, os Reis do Oriente – os “ilustres estrangeiros”, como lhes chama o astucioso Herodes, para os lisonjear - o escravo Cingo, os Doutores da Lei e outras personagens deste Auto que ainda encanta e resiste enquanto festa com lugar reservado nas comunidades cristãs.

(1) O Democrata, 17.01.1925
(2) Expresso [Revista], 06.01.1990, p. 58
(3) Manuel Simões da Silva, Auto dos Reis Magos da Palhaça. Edição do Museu S. Pedro da Palhaça, 1998, p. 15.
(4) António Capão, “As Janeiras, as Pastoras e os Reis”, in Aveiro e o seu Distrito, n.º 2, 3 e 4. Publicação semestral da Junta Distrital de Aveiro.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Há Reis na Palhaça


A ADREP e a Comissão Fabriqueira da Paróquia de S. Pedro da Palhaça organizam, no próximo Domingo, o tradicional Cortejo de Reis Magos. O Cortejo reúne-se na Rotunda do Areeiro, pelas 12:00 horas.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

domingo, 4 de janeiro de 2009

Do Largo, da Rotunda, da Memória

Ao Pedro Carvalho

Há terras que se orgulham dos seus largos. Gostam tanto deles que nem o rolo compressor do progresso se atreve a roubar-lhes o encanto primitivo. São relicários da memória que é preciso conservar a todo o custo.

Mas há outras terras em que esses lugares de afecto se transformam, de um momento para o outro, num corpo sem alma. Ora lhe esventram as raízes e encurtam o espaço, ora lhe derrubam os muros circundantes ou arrancam as árvores frondosas, subtraindo-nos a frescura da sua sombra. Quando tal acontece, varrem-se os lugares de memória, apagam-se alguns trilhos que davam sentido à nossa existência. É certo que existir é ir perdendo, mas isso dói.

Como no belo conto de Manuel da Fonseca, o largo é um espaço que remete para as recordações da infância, para a solidão ou o companheirismo. O largo já não é, seguramente, o centro do mundo, o lugar onde quase tudo acontecia. Mas de cada vez que lhe alteram a fisionomia – agora até tem rotunda como apêndice - mais se torna um vulgar e descaracterizado cruzamento de estradas, igual a tantos outros.

Ter um largo é raro privilégio. Ter dois ou três, como acontece na Palhaça, é já uma bênção. Uma terra com largo tem outros horizontes, convida a parar, impele ao convívio, torna-se mais acolhedora para quem a visita.

É estranho, mas às vezes até parece que a Palhaça se envergonha dos seus largos: o de S. Pedro, o das escolas e o da feira do gado. É assim que gosto de lhes chamar. Todos são, para mim, lugares de remotíssimas lembranças, pois todos me recordam belos caudais da história antiga da nossa terra. Ao primeiro, que já foi murado, teve portões de ferro e barracões fixos, e onde os miúdos iam “achar” a seguir às feiras, resolveram crismá-lo, pomposamente, de Praça! Nem se deram conta que as praças são normalmente quadradas, ou nalguns casos rectangulares, e que o largo da feira... tem forma triangular! Como se tivessem vergonha de dizer, simplesmente... o largo.

Com a mudança da feira para a periferia, o largo foi ajardinado e adquiriu a dignidade de sala de visitas da freguesia. Apesar das alterações, houve o bom senso de deixar intactos o coreto e os três fontanários. Está bonito, com alguns registos antigos, caldeando tradição e inovação.

A seguir, foi a vez do largo das escolas sofrer alterações. Aqui, não é a rotunda que entristece: é o derrube dos muros e das árvores, coisa que talvez pudesse ser evitada. Acaso não teria sido possível continuar a estacionar no interior do recinto respeitando mais a sua individualidade? Assim, como agora se nos apresenta, é uma caricatura do que já foi.

Podem até achá-lo mais bonito e funcional, gostos não se discutem. Mas é como se lhe tivessem vestido um fato novo, no interior do qual existe um corpo sem a memória antiga das cores e dos cheiros, sem o registo das traquinices cúmplices dos tempos em que íamos à escola, amputado do espaço onde se desenrolaram feiras, festas, romarias e folguedos, onde se jogava à bola e ao pião e onde os menos afortunados, de pé descalço, esgalhavam os dedos nas raízes salientes das árvores ou se cortavam nos vidros partidos, ou nos cacos de louça da última feira. Enfim, um lugar despido das alegrias e cansaços dos que com ele se cruzavam diariamente, à frente do carro de bois – ou com os bois a caminhar sozinhos até às terras de pão e semeadura, enquanto os donos ficavam para trás, a emborcar o traçado ou o tinto carrascão na taberna da Ti Angelina.

Agora é a vez do antigo largo da feira do gado ser intervencionado. Algumas árvores já foram abatidas. Ao que parece, tinha de ser. Nada temos contra os melhoramentos em curso, bem pelo contrário. Uma coisa é tropeçar nas armadilhas do passado e deixar tudo como está, sem atender ao sinal dos tempos, atitude própria dos fundamentalistas da tradição, ao ponto de não se importarem com o regresso a um estilo de vida em que se vivia sem água canalizada, sem estradas alcatroadas ou sem telefone; outra, bem diferente, é banir o que a tradição tem de melhor, não incorporando isso – quando tal é possível – no novo espaço renovado.

Entendamo-nos: o mundo progride a velocidade estonteante. Isso obriga-nos a inovar, a ser originais na forma de resolver as coisas. O que se pede é que, sem prejuízo do futuro, se atenda à importância das representações (imagens) mentais que os cidadãos têm da sua terra. Não é fácil assistir ao quebrar dos últimos elos de ligação às origens. Nem assistir, mesmo em nome do progresso, à falta de respeito pelo passado que nos identifica, e ao qual devemos ser fiéis.

Costuma dizer Eduardo Lourenço que somos um povo em incessante despedida. É isso que sentimos quando se apagam vestígios que chegaram até nós, que de algum modo acalentaram a nossa existência e de repente têm morte anunciada, irreversível.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pergunta o cidadão/consumidor português: «O que vai mudar em 2009?»

«Alterações: Mais informação disponível para o cidadão e mais procedimentos administrativos passíveis de serem realizados sem sair de casa, a partir da Internet, são algumas das novidades que vão mudar e facilitar a vida aos portugueses em 2009. Desde as burocracias a avisos por via sms.

A partir de amanhã já será possível saber os preços praticados em todas as bombas de gasolina do continente, com uma visita ao site da Direcção-Geral de Energia e Geologia. É pelo menos este o projecto do Ministério da Economia, anunciado em Dezembro. Mas esta é apenas uma das pequenas mudanças que se vão fazer ao longo de 2009: receber avisos no telemóvel sobre os prazos de renovação da carta de condução e inspecção ou obter uma certidão permanente de registo predial na internet são outras. As mudanças têm como objectivo simplificar e desburocratizar os procedimentos. Se tudo correr como previsto, 2009 será um ano com menos tempo ao balcão dos serviços públicos»
(in DN, hoje)


Algumas alterações legislativas previstas para 2009:

- Combustíveis: painéis nas auto-estradas/ site para comparar preços;
- Avisos por sms para renovar a carta;
- Facilidades no registo predial;
- Classificação das habitações alugáveis ou compráveis, de acordo com a certificação energética das mesmas;
- Mais mediação familiar;
- Informações sobre listas de espera afixadas em locais acessíveis e na Internet;
- Alterações de política de alfândega.


Ler a notícia desenvolvida aqui: http://dn.sapo.pt/2009/01/02/sociedade/o_vai_mudar_2009.html