A Assembleia Nacional Popular (ANP) da República da Giné-Bissau está a promover um inquérito sobre a mutilação genital feminina, também chamada excisão feminina! Não fiques indiferente. Clica na ligação e vota. Se bem que votar, neste caso... Para que constasse, tive necessidade de acrescentar o seguinte comentário: «Votei contra, porque a excisão feminina me repugna, embora o meu voto não tenha raízes apenas numa sensibilidade pessoal, mas em critérios transubjectivos - universais. Estou, assim, paradoxalmente, também contra esta votação. Ela pressupõe que a existência da prática da excisão feminina possa depender da vontade de uma maioria. Ora, esta prática não é referendável, uma vez que o que está em causa é a dignidade humana, a integridade física e psicológica da mulher. O meu voto contra a excisão é a favor do reconhecimento de que o mesmo é um crime contra a humanidade e não a participação numa votação relativista que abre campo a arbitrariedades.»
Paulo Carvalho
1 comentário:
A excisão feminina é um caso paradigmático de como as tradições/identidades - por mais ancestrais e enraizadas que sejam numa dada cultura -têm que ser permanentemente questionadas e discutidas, sem tabus. Um «porque é tradição, é aceitável» não serve de argumento para atrocidades deste género, sendo, aliás, uma conivência danosa ou meramente uma tradição - também muito popular, mesmo em países como Portugal - da irracionalidade.
E mesmo os direitos dados como adquiridos, depois de lutas corajosas, se não vigiarmos por eles, facilmente nos podem escapar(ex: Basta fazer um périplo por certas empresas cá do burgo e ouvir «gritos mudos» de assalariados ou de «falsos recibos verdes», que se vêem vulneráveis e desprotegidos na negociação, quase nula, com a entidade patronal)
No caso da mutilação genital, falamos de uma tradição que repugna pelo acto em si (criminoso, indigno, desumano), pelas mortes ou mazelas físicas e psicológicas consequentes, por partir de uma cultura de discriminação com base no género, de uma cultura de coerção e violência sobre o outro, de uma cultura assente na ideia de que o corpo de uma mulher é propriedade de um homem... Falamos de um crime contra a emancipação e contra a própria natureza sexual da jovem, da mulher, do ser humano.
Recomendo, a propósito deste tema, a leitura de um dossier do «Público», assinado pela jornalista Sofia Branco, versada neste tema. Ao passar os olhos por este dossier, fico paralisado ao ler coisas como estas, vindas de um deputado português: «O deputado do CDS/PP Miguel Paiva considera que a importância do clítoris é "algo subjectiva" (ver PÚBLICO de ontem). Resposta: Teria as mesmas dúvidas se a discussão fosse sobre a relevância do pénis? Não se sentiria o senhor deputado afectado nas suas "funções vitais" se a integridade desse seu órgão fosse atingida?».
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