Numa época em que a democracia representativa anda pelas ruas da amargura, um programa televisivo (antes, rubrica confinada a meia dúzia de minutos) como o «Nós Por Cá» (SIC, 19H) - goste-se ou não do estilo - surge como um balão de oxigénio para o cidadão ignorado pelo poder, um livro de reclamações muitas vezes de acesso interdito a quem vive no «país real», país esse que José Sócrates e outros políticos-de-bancada (da direita à esquerda) não auscultam ou auscultam pouco, senão em período eleitoral e/ou em acções de propaganda e/ou em inaugurações.
Pela mediatização e pela publicitação dos «pontos negros» de um país frágil, um mero programa televisivo parece ter mais impacto - real - sobre o poder local e municipal do que as denúncias de anomalias ou burocracias que o cidadão comum faz junto das supostas entidades responsáveis por tais atropelos. Há, por vezes, efectivas resoluções de problemas, depois da divulgação de imagens comprometedoras. Infelizmente, «nós por cá» temos alguns agentes políticos a despertarem para acção apenas a posteriori da pressão mediática.
Apesar de ser também uma manobra televisiva de fidelização de públicos (quando é útil para o exercício da cidadania e para a resolução de problemas, a questão estratégica não me causa urticária, admito), louvo o mérito do programa ( apresentado por Conceição Lino) de fazer o cidadão comum (re)equacionar os seus direitos e deveres, ter uma voz mais activa, e de questionar o país que temos cuidado ou descuidado. Além do mais, é possível assistir ainda a mini-entrevistas sobre «o estado da Nação» (Medina Carreira ou Mário Zambujal já passaram por lá, mas também cidadãos anónimos, como bombeiros, cabeleireiros, etc.). Nesse sentido, estamos perante um programa menos elitista e mais transversal, mais «construtivo» do que «destrutivo».
Familiar ao «Nós Por Cá» nos propósitos, o programa «Sociedade Civil», na «RTP2» (transmitido, diariamente, a um horário vedado ao comum cidadão-trabalhador preso aos horários tradicionais de labuta), aborda também assuntos de cidadania, embora com maior profundidade, com mais pluralidade de vozes e mais debate.
1 comentário:
Esqueci-me dizer que os problemas não são só da responsabilidade do poder, das instituições, como é óbvio (e algumas instituições funcionam bem).
O cidadão comum também poderá ter um papel relevante, não só na detecção e denuncia de problemas, mas também na precaução de eventuais problemas e no zelo do património partilhado e público...
Enviar um comentário