Ora cá estamos nós a pré-falar do Mundial de Futebol 2018. O país está a começar a ficar em êxtase. Está escrito nas estrelas que isto vai mesmo em frente. Reparem que esta questão foi falada há uns meses e só agora é que teve algum desenvolvimento. Os Senhores da Bola quiseram aproveitar o efeito Cristiano Ronaldo. È mais fácil falar ao País quando andamos anestesiados com alguma coisa. O terreno fica mais fértil pensamos menos. Nada disto foi por acaso.
Não sinto o País preparado para receber o Mundial. Dizem que é só em 2018. Só faltam 9 anos! Este tipo de projectos, num País como o nosso, é o prolongamento natural de um país que está à deriva, que quer viver permanente em festa e que se recusa a aprender com os erros e com as dificuldades porque passamos diariamente. Não nos esqueçamos que no momento que estamos a começar a discutir, a pré-candidatura, há jogadores de futebol que não recebem os salários e muitos clubes em pré-falência. Ainda não ouvi a Federação Portuguesa de Futebol a dizer quanto custa. Entendo que seria necessário fazer antes de avançar e se comprometer: estudar o assunto, avaliar vantagens e desvantagens. O fio condutor dos comentários a favor é um: FESTA. Também não percebi o papel do Governo, por um lado o secretário de estado do desporto envia uma carta a dar força à candidatura, por outro temos o ministro das finanças e até o Primeiro-Ministro a meter água na fervura. Isto de jogar nos dois campos traz-nos sempre custos. Obviamente se repararem os diários desportivos, os mesmos das telenovelas futebolistas, se encarregarão de fazer páginas de apoio ao Mundial.
Até parece que já nos esquecemos do Euro 2004. Eu não me esqueci até porque passo todos os dias no Estádio Municipal de Aveiro. Dos 10 estádios 5 estádios não servem para quase nada (Loulé, Aveiro, Leiria, Boavista, Coimbra), completamente vazios. Aveiro manifestamente ficou a perder, e muito. Houve festa em Aveiro, houve. Houve gente a ganhar dinheiro, houve. A economia local animou, animou. Mas, mais cedo ou mais tarde teríamos uma factura para pagar. As facturas em Aveiro não se pagaram e ficámos a saber das dificuldades dos fornecedores da Câmara para receberem.
Criou-se um equipamento com custos elevados de manutenção. A capacidade de uso desportivo foi sobredimensionada.
A candidatura ao Mundial está aí. Eu até sou um Ibérico convicto mas neste caso sou frontalmente contra.
6 comentários:
Inteiramente de acordo. Não se pode ter memória curta sobre os efeitos devastadores do Euro 2004 na economia nacional. Os "elefantes brancos" (falo dos estádios às moscas, não de qualquer elefante em viagem, do Saramago...) deviam ser um grito de alerta à consciência dos portugueses e, sobretudo, dos governantes.
O novo-riquismo caseiro quis fazer o Euro apenas em Portugal, quando países bem mais evoluídos, como a Suíça e a Áustria, promovem iguais eventos em conjunto, como forma de repartir despesas. A megalomania provinciana nacional teimou em fazer 2 estádios em Lisboa, quando em Itália, dois colossos como são o Inter e o Milão, utilizam apenas um mesmo estádio para disputar os seus jogos. Nunca aprendemos com os bons exemplos.
Como se tudo isto não bastasse, convém reter na memória a triste incongruência dum governo que, à data, nos acenava com ganhos miríficos de uma regionalização tendente a reduzir as assimetrias entre o interior e o litoral e, ao mesmo tempo, definia que todos os estádios seriam construídos apenas... no litoral!
Bem prega Frei Tomás...
Em Portugal foi quase sempre assim, quando se trata de grandes projectos com implicações sérias na economia nacional. Não há chispa, como diria o Eça. Pensa-se pequenino, sem "golpe de asa". Sempre a mesma apagada e vil tristeza...
Sobre Portugal, o Mundial, a «vampirização» e a «socialização do êxito Ronaldo», a opinião de António Barreto: http://o-povo.blogspot.com/2009/01/os-melhores-do-mundo-e-os-piores.html
O derrotismo não é saudável.
A megalomania cega.
O futebol, que é magnético, aliena.
Os políticos-estrategas - Laurentino Dias e quejandos - sabem bem disso.
O meio-termo não te serve, Portugal, Portugal?
«Nem tanto ao mar, nem tanto à terra»?
Não: 8 ou 80. E o 80 é o Mundial. O Sonho.
Portugal diz imenso mal de si, mas não admite que o estrangeiro e o crítico o diga, quando acabou de o fazer corrosivamente.
Eu cá sou um estrangeiro nada dado a chauvinismos - um estranho sem nacionalidade - por acaso nascido num país chamado Portugal, à «beira-mar chamuscado».
Portugal: Bela fisionomia, saborosa gastronomia, com potencial marítimo e turístico, uma vaga brisa de mobilidade e empreendedorismo, trafulhice e chico-espertismo enraizado, com um problemazão estrutural chamado Educação. País ancorado ao passado das Caravelas. Preso aos títulos que já não detém («Coimbra, a cidade do conhecimento»...). É constrangedor... Como aqueles amigos que não queremos ver a «afundar-se» em apresentações públicas...
O patriotismo português é «tesão de mijo» de circunstância, irracionalidade ou mero atavismo bafiento. E eu sou um mal-dicente português, contraditório.
Temos um Mundial de nacionalidades e etnias todos os dias em Portugal - uma riqueza e potencialidade, diria eu... Resposta generalizada e popular ao Mundial de Nacionalidades (Multiculturalidade, longe da Interculturalidade): xenofobia a rodos, racismo a rodos... medo dos negros, medo do amarelo, medo do diferente,
medo dos outros... O medo dos outros não será, antes, um medo de si?
Portugal é Egofóbico?
Portugal segue, egofóbico, mas confiante, para a candidatura de um Mundial.
Viva, Portugal!
Odeio-te!
PS: Amo-te!
Concordo. Pequenos no tamanho e tacanhos de memória.
Uma ressalva acerca de Coimbra, quem mais, uma das meninas dos meus olhos. Vivi 15 anos nesta cidade e o "estádio" que ela tem, de vazio é certo. Mas a vida polula nas infra-estruturas que o suportam, tal como um furacão. Foi (re)construido sem depravar espaço, e foi possivel colocar num mesmo espaço físico, várias modalidades desportivas (e o futebol é uma apenas), apartamentos, e outros tantos acessórios aos consumidores. O centro está privado mas é cá fora que gira a vida.
Nuno
Passando ao lado de conhecimentos com muito mais propriedade dou-me ao luxo de partilhar uma visão:
Sexta à noite, 22h00 e qualquer coisa....no regresso a casa de um programa de casa reparo em todos os cafése pastelarias de uma avenida, depois de outra cidade, depois de uma vila, 30 minutos de viagem bastam para ficar farta das evidências: homens e futebol, frente a frente, em escrãs, conversas e balcões.
Invade-me uma tristeza tremenda, uma decepção com o meu país, um país onde, infelizmente, uma noite de sexta-feira bem passada passa também pelos comentários ao árbitro e se colam os olhos aos televisores. Tristeza. E pensar que havia tanta vida para além daqueles ecrãs...a ria, o teatro, as ruas, a família, os amigos, a conversa do país que podemos ajudar a construir....
enfim...
Carlos,
Infelizmente é este o nosso País.O Medina Carreira em tom provocatório costuma fazer esta pergunta: Mas que País é este? É um facto que Portugal tem vivido quase sempre num ambiente caótico, sem ética, sem ordem, sem regulação, sem planeamento, sem estratégia e sem concertação nos grandes projectos. O Futebol não é excepção. Agora que se façam os estudos, e se verifique qual o montante de investimento, em milhões de euros, que o nosso país terá de fazer com a candidatura a 2018 ou 2020, para que os portugueses não sejam enrolados numa aventura tipo EURO 2004. Eu cá não preciso de esperar pelos estudos para dar o meu grito de alerta.
Tiago,
Agradeço a sugestão do texto do António Barreto. Retribuo essa simpatia com o ponto de vista, do José António Saraiva, muito interessante. http://sol.sapo.pt/Blogs/jas/default.aspx
Nuno,
Por acaso vi um jogo do Euro 2004 em Coimbra. Apesar das infra-estruturas que se criaram à volta do estádio, e bem, infelizmente não dão para pagar as contas. O Estádio de Coimbra é um bom exemplo (não é o melhor porque para isso temos Aveiro) de se ter criado um equipamento com custos elevados de manutenção e capacidade de uso desportivo sobredimensionada. Repara que ainda há pouco tempo o Presidente da Académica defendeu, em Assembleia Geral, a construção de um novo Estádio para a Briosa por incapacidade do clube pagar as contas de manutenção. Passados cinco anos as dificuldades são enormes e eu não quero passar pelas dificuldades que passo agora.
Catarina,
O Futebol gera paixões. Eu sou um amante do futebol, tu sabes disso, mas não sou amante dos jogos da bola. Infelizmente há mais jogos da bola do que jogos de futebol no nosso País. Para mal dos nossos pecados os cafés estão cheios e os estádios vazios. Espero que não usem e abusem do argumento que 2018 vai trazer mais gente aos estádios. Esse já foi usado no euro 2004 e o resultado está aí.
Enviar um comentário