Deixei de ver bicicletas na Palhaça (é um exagero, claro!). Quando passava em vários locais da freguesia, lojas, adro, fábricas ou terras de cultivo, via um amontoado de bicicletas. Agora vejo carros. Em pouco tempo adquirimos hábitos francamente sedentários. Normalizámos a vida a motor. Preocupa-me esta mudança repentina para a vida sedentária. Não será difícil perceber que para haver mudança é necessário sensibilizar as pessoas, educando-as para a necessidade urgente de adopção de hábitos de vida mais activos, como forma de transmissão de conhecimentos para a prevenção da saúde e bem-estar de toda a família. Apesar dos contributos e vantagens numa prática regular de actividade física serem do conhecimento geral da população, isso não impede que Portugal continue a apresentar um índice de participação desportiva bastante baixo e inferior à média da União Europeia.
Um dos maiores desafios, na prevenção das doenças que surgem pela inactividade física e alimentação desajustada, é conseguir que as pessoas no seu dia-a-dia assumam hábitos saudáveis. A generalização dessas práticas exige a recuperação de atitudes, comportamentos, gostos e gestos que no fundo deveriam ser adquiridos ao longo da vida e que se foram perdendo. Não me parece difícil (re)adquirir hábitos antigos.
Diariamente temos muitos exemplos fáceis para ser-se activo: ir às compras de bicicleta ou a pé, carregar o lixo até ao contentor também pode fazer-se a pé, realizar passeios nos caminhos de saibro, subir e descer escadas, andar/correr nas ruas asfaltadas da freguesia, etc.
Para aqueles que quiserem realizar uma actividade desportiva mais formal também pode fazê-lo nas instalações desportivas da ADREP. Encontram campo de futebol 7 relvado, polidesportivo descoberto onde pode jogar ténis, pavilhão coberto, ginásio, piscina e corredor de atletismo. No caso de gostar de andar de bicicleta btt/estrada existem vários grupos da Palhaça a mexerem-se ao Sábado e Domingo.
Deixo esta frase em jeito de pensamento: “Desfrutamos de um dos estilos de vida mais luxuosos da Terra: abundância de alimentos, trabalho automatizado, prazer sem esforço. Mas é exactamente este estilo de vida que nos está a matar.” (National Geographic Portugal, 2004).
4 comentários:
(Pondo-me também em causa, partilho algumas reflexões e diagnósticos)
Um retrato: andar de bicicleta em Amesterdão (uma das capitais mais progressistas e uma das com melhor qualidade de vida da Europa) é uma prática cultural e socialmente assimilada (uma tradição já com bastantes décadas, não abandonada mesmo quando o nível de vida dos holandeses é bastante apreciável). Não estamos a falar de uma mera moda «ecológica», uma coisa do momento. Vêem-se pela cidade, inclusive, executivos a irem para as empresas de bicicleta. Carros? Quase nem vê-los, tirando alguns táxis e meia dúzia de carros privados.
É certo que o urbanismo desta cidade é propício a tal actividade física, mas também é certo que a Palhaça, mesmo não tendo ciclovias, nem um urbanismo programado para tal, não é, de longe, hostil aos ciclistas e ao trânsito de bicicletas.
Em Portugal, num país onde a mentalidade e os cultos da aparência e do comodismo «parecem» (?) estar demasiado enraizados, fico com a ideia de que a bicicleta, em contraposição ao carro (símbolo de «aparente» poder), é visto como um meio de transporte «menor», que envergonha.
Que factores poderão estar na origem desta mudança de hábitos, que eu julgo que na Palhaça começaram a acentuar-se nos anos 80/90?
O sonho do novo-riquismo (qual «american dream» versão mingada e a curto-prazo) sobre rodas e carbonizado, a obsessão pela ostentação e aquisição de habitação e carros, o fácil acesso ao crédito bancário?
Quanto ao exercício físico, sei que existem também palhacenses que fazem caminhadas regulares a pé - diurnas ou nocturnas - e que existe um núcleo de ciclistas que se junta habitualmente ao domingo para umas pedaladas. Bons exemplos, também os há, felizmente.
Pedro, fiquei com a ideia de que existem percursos muito agradáveis à vista e ao olfacto de se fazerem a pé ou de bicicleta na Palhaça. Podes dar umas dicas? Porque não aliar o exercício físico ao encontro social e ao (e)conhecimento do património campestre mais recôndito da Palhaça (fauna e flora)?
T.
Alertei para o facto de sermos cidadãos fisicamente activos. Não abordei a questão ambiental e ecológica que está inerente a este problema. Felizmente, para nós, ainda não temos os problemas de Jacarta que o público publica: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1356046&idCanal=92
Ouvi hoje de manhã o Secretário Geral da ABIMOTA (Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins) com sede em Àgueda, a defender a baixa do IVA ou dedutível em sede de IRS na compra de biciletas.Gostei desta ideia. Se há dedução na compra de painéis solares, porque são amigos do ambiente, porque não um incentivo à compra de bicicletas?
Pedro, para desfazer eventuais equívocos, quando falava em «moda ecológica» não me dirigia a ti. Aludia apenas à cultura da bicicleta em Amesterdão não como coisa circunstancial, nem recente, mas como uma tradição longínqua e preservada.
Mesmo as modas ecológicas, para mim são bem-vindas, apesar de as considerar insuficientes, porque a curto-prazo e voláteis...
Tiago
Quando disse "não abordei a questão ambiental e ecológica inerente a este problema", queria dizer hoje. É um facto que para além de uma questão de saúde deve ser também encarada a questão ambiental.
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