terça-feira, 6 de junho de 2017

OS CARTAZES DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Aproximam-se as eleições autárquicas. Acelera o regime de funcionamento do campo político. Aparecem os primeiros cartazes, ou não vivêssemos na civilização da imagem. Nela, o cartaz, meio de comunicação por excelência, ocupa um lugar especial enquanto elemento gráfico.

Dos cartazes já colocados na Palhaça, um do Partido Social Democrata e outro do movimento Unidos por Oliveira do Bairro (UPOB) merecem a nossa reflexão. Nem um nem outro parecem suficientemente conseguidos. Em nenhum deles as regras básicas de comunicação parecem cumprir o seu objectivo essencial: uma descodificação da mensagem pelo receptor, capaz de ir ao encontro daquilo que o emissor pretendeu transmitir.

Comecemos pelo cartaz do PSD, que nos apresenta a seguinte frase: “A confiança em quem se conhece”. Ora quem a população da Palhaça conhece à frente dos destinos da freguesia, nos últimos oito anos, é Manuel Augusto Martins. A tendência é para se evocar o passado recente e não o passado mais remoto, embora em qualquer dos casos só possamos recordar partes do que já passou. Podemos recordar o passado mais antigo, mas a luz que nele incide não alcança tudo, há uma parte que pertence já ao mundo das trevas. Acontece que Manuel Augusto Martins é o candidato do UPOB à Junta de Freguesia da Palhaça, depois de ter desempenhado essas funções ao serviço do PSD.

O candidato do PSD – Manuel Carvalho – também já foi Presidente de Junta e nem sequer está em causa a sua dedicação ao serviço da freguesia. Acontece que a marcha do tempo é inexorável, na medida em que há uma incessante mudança do presente em passado. Ao fim de oito anos sem o protagonismo que teve enquanto gestor autárquico, deixou de estar iluminado pelos holofotes da publicidade e, quando assim acontece, começa a tecer-se o inevitável e por vezes injusto manto do esquecimento. “A confiança em quem se conhece” parece não surtir o efeito desejado: remete mais para aquilo que o PSD hoje rejeita do que para aquilo que lhe interessa promover.

Passemos ao cartaz do UPOB, onde as coisas parecem ser ainda mais complicadas. O cartaz apresenta-nos o topónimo Palhaça com o texto invertido. Já há quem fale, com algum desagrado, em “Palhaça do avesso” e em “Palhaça de pernas para o ar”. E nestas coisas, sabemos bem, o bairrismo conta muito, o bairrismo ainda é o que era.

O efeito visual deste cartaz até é conseguido, pois permite chamar a atenção e provocar algum espanto. E também faz passar a ideia positiva de que o UPOB quer virar a página, mudar as coisas para melhor. Mas o problema não é esse. O problema é que um cartaz bem concebido – e, nessa medida, bem conseguido – não é só o que consegue captar a atenção daqueles a quem se destina: é também o que transmite a informação que se pretende. E é precisamente aqui que o cartaz parece falhar. Vejamos porquê.

Em primeiro lugar, os eleitores palhacenses não têm da sua terra uma imagem de pernas para o ar. Têm dela – e os restantes munícipes do concelho também - a imagem de uma terra de gente dinâmica, progressiva, que se desmultiplica em actividades e não regateia esforços para a tornar cada vez mais apetecível. Uma terra com uma sala de visitas – que é a Praça de S. Pedro – sempre embelezada e apreciada pelos forasteiros, cada vez mais a fervilhar em actividades comercias e de restauração; uma terra com duas feiras mensais que continuam a resistir aos cânticos de sereia da modernidade que desagua nos supermercados, hipermercados e outras superfícies comerciais; uma terra que conta com o envolvimento empenhado da sua Igreja e da comunidade local e é capaz de nos brindar com a belíssima representação da Paixão de Cristo; uma terra que preserva os seus correios, o serviço local de saúde e agências bancárias, instala o pólo de leitura, assegura o acolhimento dos mais novos e dos mais velhos nas suas instituições de solidariedade social e possui uma zona industrial em expansão; uma terra que conta com o dinamismo das suas associações (Grupo de Escuteiros, ADREP, Grupo de Cantares) e que promove actividades tão variadas como teatro, quinzena cultural, cortejo dos reis, marchas populares, festival da canção e outras mais), uma terra destas não é uma terra de pernas para o ar. Manifestar intenção de fazer melhor é louvável, mas esse desejo não pode suprimir o mérito do que já foi feito e muito menos de quem o fez.

Em segundo lugar, transmitir a ideia de que a Palhaça está de pernas para o ar e que o UPOB se propõe inverter esse ciclo, pode suscitar, nos eleitores, uma reflexão sobre as duas seguintes hipóteses:

Primeira hipótese:  a Palhaça já estava de pernas para o ar quando, há oito anos, Manuel Augusto Martins assumiu os destinos da freguesia. A ser esta hipótese verdadeira, então forçoso é concluir que durante os últimos oito anos do seu mandato o actual candidato do UPOB se mostrou incapaz de inverter a situação.

Segunda hipótese: a Palhaça ficou de pernas para o ar durante a gestão de Manuel Augusto Martins, o que, se fosse verdade, em nada abonaria a favor da sua capacidade para gerir os destinos da freguesia.


Dito isto, pode concluir-se que nenhum dos cartazes aqui analisados difunde uma mensagem publicitária inspiradora ou motivadora. Qualquer cartaz em que as pessoas não entendem o que se pretende comunicar, ou em que o mesmo provoca o efeito contrário do pretendido, será sempre um cartaz inútil.

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