“... É esta freguesia um agregado populacional constituído por seis lugares principais – Vila Nova, Palhaça, Roque, Rebolo, Arieiro e Albergue – e três outros de menor importância – Fonte do Bebe-e-Vai-te, Pedreira e Tojeira. Está situada no extremo Norte do concelho de Oliveira do Bairro, a que pertence, e confina com os concelhos de Aveiro e Vagos. Primitivamente, este agregado populacional fez parte da freguesia e concelho de Soza, da qual foi desmembrado em 1804, data em que foi criada a freguesia da Palhaça, e data também em que ficou a pertencer ao concelho de Oliveira do Bairro.
Em 1869, como corressem rumores insistentes que ia ser extinto o concelho de Oliveira do Bairro, o que efectivamente sucedeu em 21-11-1895, reuniu o povo desta freguesia conjuntamente com a Junta, ficando resolvido pedir a Sua Majestade que esta freguesia fosse anexada ao concelho de Aveiro, o que realmente sucedeu, em 4-12-1872. Esta freguesia pertenceu ao concelho de Aveiro até 13-1-1898, data em que foi restaurado o concelho de Oliveira do Bairro. Pertenceu esta freguesia à Comarca de Anadia até 4-12-1872, passando nesta data para a Comarca de Aveiro, a que ainda hoje pertence.
Diz a tradição que, já na segunda metade do século XVIII, este agregado populacional lançou a ideia da sua emancipação da freguesia mãe – Soza – sendo o óbice principal para esse fim, por parte dos poderes constituídos, a ausência de rendimentos para a sustentação do Culto. E foi assim que um benemérito desta freguesia, Manuel de Oliveira, e sua esposa legaram todos os seus bens à corporação de S. Pedro, erecta no lugar de Vila Nova com o encargo da manutenção das despesas do Culto, inclusivamente com a obrigatoriedade de todos os anos fazer a festa ao Orago da freguesia – S. Pedro. Foi esta corporação que há mais de cem anos criou e explorou o mercado mensal no dia 29 de cada mês.
A Junta de Freguesia de então, como não tinha outros rendimentos, a não ser os resultantes dos covatos, colectava a confraria de S. Pedro nas importâncias disponíveis por aquela para a manutenção do Culto e isto ao abrigo do artigo 324 do Código Administrativo então em vigor.
Em Janeiro de 1871, foi superiormente extinta a Confraria de S. Pedro por ilegal, sendo a Junta de Freguesia incumbida superiormente de administrar todos os rendimentos da dita Confraria e com os mesmos encargos que àquela tinham sido legados pelo testamento. Em 1869 começou a funcionar a primeira Escola Primária nesta freguesia, sendo o seu primeiro Professor o Reverendo Joaquim Rodrigues de Seabra. Em 1885 foi construído pela Junta o cemitério desta freguesia. Em 12 de Janeiro foi criada a primeira feira dos 12 e foi nesta mesma data que os dois mercados, 12 e 29, começaram a ser frequentados tanto por gado suíno como bovino.
Em 1912, a comissão concelhia de administração dos bens da igreja, e por ordem da comissão central da Lei de Separação, pretendeu apoderar-se dos bens e rendimentos que a Junta nessa data possuía e administrava. A Junta protestou contra esta usurpação e por despacho de Sua Excelência o Ministro da Justiça, como consta do ofício emanado daquele Ministério de 29 de Novembro de 1912 (Parecer n.º 690, sob o n.º 3346) foi esta Junta confirmada na posse dos citados bens e administração de todos os seus rendimentos.
Em 1914, como o terreno então existente para os mercados já era deficiente, a Junta comprou uma parcela de terreno contígua à feira dos cereais. Em 1916, em virtude do desmoronamento da torre da actual igreja, a Junta comprou um pedaço de terreno para o adro e procedeu à reconstrução da dita torre. Em 1919, como o cemitério se tornasse pequeno em virtude do aumento crescente da população da freguesia, a Junta procedeu ao seu primeiro alargamento.
Com o advento da Revolução Nacional (1926), não ficou esta freguesia insensível à onda de melhoramentos que, de então para cá, têm coberto Portugal de lés a lés e assim, em 1928, comprou a Junta o terreno onde hoje se encontram edificadas as Escolas Primárias, o edifício dos Correios e telégrafos e a sua Sede.
Apesar de a Junta de então pretender, primeiro, construir o edifício das Escolas, teve de dar prioridade à construção do edifício dos Correios, pois que esses serviços funcionavam em casa arrendada e nas piores condições e a Direcção Geral dos Correios e Telégrafos exigiu que para a manutenção daqueles serviços na freguesa fosse aqui construído um edifício próprio, o que a Junta fez em 1929. Em 1930 deu, porém, início à construção, que se prolongou por três anos, devido à sumptuosidade do edifício das Escolas, com todas as suas dependências, que ficou sendo, naquele tempo e para o efeito, o melhor Edifício Escolar do Concelho e um dos melhores do distrito.
Prosseguindo na sua obra de melhoramentos e saneamento da freguesia e, como tanto a feira do gado suíno como a do gado bovino se realizavam no centro da povoação, comprou, em 1933, a Junta terreno em local próprio para a feira do gado suíno e em 1936 para a feira do gado bovino.
Em 1934 procedeu a Junta à captação de águas e construção de lavadouros, com seu respectivo coberto de zinco da fonte da Palhaça. Em 1935 e 36, comprou a Junta terreno para s coradouros da fonte dos Carregais procedendo também à captação de águas e à construção de lavadouros com o seu respectivo coberto de zinco. Ainda em 1935 e 36, para evitar as curvas e contra-curvas existentes na desembocadura da estrada do Rebolo, procedeu a Junta à compra de terreno para uma nova estrada e ao seu respectivo empedramento.
Em 1936 procede ainda a Junta à compra de terreno para o segundo alargamento do cemitério, tendo este alargamento sido feito para Nascente do cemitério primitivo, pois que o primeiro alargamento foi para Poente.
Em 1937, com o auxílio da Câmara Municipal, procede a Junta à electrificação da freguesia, construindo por sua conta a cabine e fornecendo todos os postes, posteletes e consolas e a mão de obra de todo o pessoal auxiliar para a mesma electrificação.
Em 1938 e 39 procede à construção da fonte e lavadouros do Albergue e à construção dos muros e terraplanagem do cemitério novo, ficando este concluído em Dezembro de 1940. Em 1941 constrói a Junta a sua Sede. Em 1942 e 43 procede à cobertura dos lavadouros do Albergue e à construção dos lavadouros de Vila Nova, do Bebe-e-Vai-te, com as suas respectivas coberturas.
Em 1947 faz a reconstrução a maquedame dum troço da estrada da Pedreira e compra em Vila Nova um edifício para nele instalar o Pároco da freguesia, em virtude da dificuldade que existia de se conseguir, por arrendamento, casa apropriada para aquele fim. Em 1948, em comparticipação com a Câmara Municipal, procede à reconstrução da estrada do Arieiro à Azurveira. Em 1948, 49 e 50 subsidia a Igreja para a construção dum salão Paroquial e de vários outros melhoramentos e reparações na mesma.
Como as barracas existentes na feira se tornassem inestéticas e parte delas ameaçasse ruir, despendendo a Junta todos os anos uma verba considerável na sua reparação, desde há muito que se impunha a sua demolição, o que se fez em 1949. Neste mesmo ano foi construído pela Junta no largo da Feira um coreto, tendo subjacente quatro compartimentos e suprajacente um depósito de água que abastece três fontenários, encimado este depósito por uma estátua ao Padroeiro da freguesia, S. Pedro. Anexo a este “Monumento” foi construído um poço que alimenta aquele depósito de água. Em 1953 constrói a Junta uma fonte na Chousa com os seus respectivos lavadouros.
Como depois do alargamento do cemitério a capela antiga nele existente ficasse em local inestético, constrói a Junta em 1954-55 uma nova Capela e procede ao ajardinamento da parte do mesmo cemitério destinado à construção de capelas particulares, montando também uma rede de canalização em todo o cemitério, não só para rega do mesmo como para limpeza das campas.
Em 1955 procede à arborização do Largo da Feira, pois que aquele local, depois do desaparecimento das barracas, ficou com um aspecto árido. Neste mesmo ano procede à grande reparação na residência Paroquial. Em 1956 constrói a betuminoso a estrada ao Sul do Largo da Feira e dá um novo aspecto a este Largo, não só rodeando-o com um lancil de cimento, como ainda orientando as barracas móveis nos dias de feira no sentido Norte-Sul”.
(1) Dr. Manuel Ferreira Rebolo, "Junta de Freguesia da Palhaça", Jornal da Bairrada, Ano VII, n.º 165, 17.08.1957
(2) A primeira feira dos 12 foi criada em Janeiro de 1903. Ver O Nauta, 18.01.1906
2 comentários:
Existe alguma razão para não ser referenciado, pelo autor, o lugar da Chousa no ano de 57?
Apenas um apontamento, a Fonte da Palhaça é a actual Fonte do Areeiro.
Boa pergunta, Pedro. Não me tinha apercebido da não nomeação da Chousa, nem conheço explicação para essa omissão. Pode ter sido um lapso.
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