Do teu corpo floriu o gesto inesperado:
deste-me cravos rubros
de Abril
colhidos em qualquer sementeira.
Lembrei a clara madrugada
em que começou a tecer-se a liberdade
de dizer não à mordaça
e à cegueira.
Nesse dia, tinha vinte e um anos.
Não podia ficar em casa,
amor,
aquartelado em cobardias.
De arma na mão
lá fui afinar o coração
ao compasso das mais belas melodias.
Trinta anos depois, os cravos que me deste
rescendem a frutos maduros
e queimam
como desafios sempre acesos.
No gesto anunciaste mais
que a própria liberdade,
driblaste silêncios e medos...
A dizer-me que para o amor não há degredos,
mas sim a redentora claridade.
25.04.2004
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