Em plena campanha eleitoral, Paulo Portas - um eficaz estratega político - vai capitalizando votos com as suas declarações populares sobre casos como o do Bairro da Bela Vista (alguém sabe ao certo o que se passou ali?). O simplismo com que trata um problema de «guetização», de pelo menos 3 décadas, ajudado por alguns media que gostam de «manipulação-versão-filme-de-acção-fogo-de-vista-da-realidade», é alarmante, mas é-lhe sobretudo útil e oportuno.
A estratégia deste senhor parece-me, à minha vista, a seguinte: Alarmar e aproveitar alguns casos pontuais de desordem para destacar o seu partido, colocando-o na «vanguarda» - mediática - do combate a um certo tipo de crime, menosprezando a raíz dos problemas, confundindo o «leitor» da realidade mais distraído com equívocos e armadilhas (as fáceis generalizações e o recurso ao tema das minorias étnicas e dos imigrantes também lhe são queridos). Acredito que a sensatez de qualquer pessoa que páre um pouco para reflectir sobre estes temas a leve a uma conclusão de que, na infância, a delinquência, a prostituição e outros flagelos sociais não serão, porventura, os sonhos dos que enveredam por aí.
Imagino uma resposta do senhor a este post: este tipo ou é de uma «extrema-esquerda lírica», ou é de um PS «incompetente» ou dum «PSD mole», no que toca à sua resposta à criminalidade em «bairros problemáticos» (Conotações entre-aspas atribuídas, de facto, por Portas ao espectro político português).
Pois, responder a um problema estrutural (criado por políticas de exclusão e isolamento social) apenas com «músculos» e com repressão há-de combater alguns actos ilícitos e, especialmente, os problemas sociais [ler ironia]... Aliás, não é preciso ir ao PNR para ouvir declarações a favor da eliminação e/ou expulsão de determinadas pessoas do país ou de regresso à ideia de justiça popular. Também se pode explicar este fenómeno sem se ser formado em Sociologia.
Gostava de ver os media a mostrarem, com semelhante pujança como o fazem com o «espectáculo do terror e do crime», outras vistas destes bairros, isto é, o outro lado, onde existem artistas a fazerem trabalhos muito meritórios (caso do festival Alkantara), a solidariedade, instituições de sócio-culturais muito dinâmicas (ex: Associação Cultural Moinho da Juventude, na Cova da Moura). Gostava de «ver» menos condomínios fechados (quer de ricos, quer de pobres), que, hoje, reflectem uma sociedade fortemente dividida e fragilizada, porque excessivamente assimétrica (os responsáveis pelos tiros na chamada classe média serão mesmo os beneficiários do RSI?). Gostava de ver os políticos a debaterem, em nome do bem comum, políticas de integração e de desmantelamento de bairros sociais (como o fizeram, e bem, com o Casal Ventoso). Gostava de ver mais oportunidades (não ilusões, como as do crédito fácil a curto-prazo, nas últimas duas décadas), mais futuro, mais formação profissional e educação, mais injecção de confiança e estima, salários compatíveis com o custo de vida - para quem está dentro e fora de bairros sociais, para as crianças, os jovens, para os adultos, para os desempregados.
Algum comentário - menos lírico ou mole ou incompetente, como este - sobre as Belas Vistas do país?
Sem comentários:
Enviar um comentário