quarta-feira, 10 de junho de 2009

«Direita ganha, mas Europa perde»

««1. Muita coisa estava em jogo nestas eleições europeias. O desencanto crescente dos eleitores com a Europa e com as elites políticas que os governam e que a governam. A medida da revolta e da incerteza provocada pela crise económica e financeira e pelas suas pesadas consequências sociais. A crise foi o princípio e o fim de todas as campanhas, foi ela que as "nacionalizou" e que ajudou a apagar a bandeira europeia. A oportunidade para os partidos dos extremos e as correntes populistas conquistar espaço na carta política nacional e europeia. Com os resultados disponíveis nos 27 países da União Europeia, a primeira conclusão possível é que o centro-direita foi, de uma forma geral, o vencedor destas eleições. Esta vitória, que permitirá ao Partido Popular Europeu (PPE) manter a posição confortável de maior partido do Parlamento Europeu, é tanto mais relevante quanto 21 dos 27 governos europeus são liderados por partidos conservadores. A noite correu particularmente bem para os governos dos dois países centrais da integração europeia. Na França, Nicolas Sarkozy não pode, de modo nenhum, queixar-se dos resultados. Na Alemanha, Angela Merkel, mesmo perdendo alguma coisa em relação às últimas europeias, conquistou uma confortável posição de partida para as eleições de Setembro. Nos dois casos, qualquer dissabor foi largamente compensado pela sorte dos dois principais rivais do centro-esquerda. O PS de Martine Aubry confirmou amargamente nas urnas que não consegue afirmar-se como alternativa à UMP do Presidente. Sofreu a suprema humilhação de empatar com a Europe-Ecologie de Daniel Cohn-Bendit. Na Alemanha, o SPD, que é o partido júnior da "grande coligação", não também conseguiu afirmar-se como uma alternativa capaz de desafiar a chanceler. Perdeu pouco, é verdade, mas os cerca de 20 por cento que obteve são largamente insuficientes. A noite eleitoral também correu bem a Sílvio Berlusconi e à sua "Casa das Liberdades". Nenhum escândalo, e foram vários, parece conseguir desmoralizá-lo aos olhos dos eleitores italianos. Deixou muito longe os Democratas de Prodi. O seu discurso radical contra os imigrantes e contra a insegurança continua a dar frutos.

2. Houve, naturalmente, governos conservadores penalizados e partidos sociais-democratas na oposição premiados. Os sociais-democratas suecos e dinamarqueses ganharam as eleições. São partidos de centro-esquerda tradicionalmente fortes. O PASOK grego ficou muito à frente dos conservadores da Nova Democracia que governam desde 2007. Mas isso não impede a segunda conclusão: que a crise foi mais adversa para os partidos de centro-esquerda no poder. Foi essa a regra em Londres, Madrid ou Lisboa, mas também em Budapeste ou em Viena. Nem todas as derrotas têm a mesma dimensão. No Reino Unido, os resultados de Gordon Brown arriscam-se a ser o prego que faltava para o seu enterro político. Mas, se chegou a haver a convicção de que esta crise, ao pôr fim ao domínio da ideologia liberal, seria uma oportunidade para o centro-esquerda, os resultados destas estas eleições não o demonstraram.Parecem revelar outra coisa: que o medo e a incerteza podem ser mais facilmente aproveitados pelo discurso anti-imigrantes, anti-Europa e anti-sistema. Na Holanda, na Áustria, em Budapeste nas suas versões mais xenófobas e radicais. Noutros países em versões mais tradicionais.

3. A Europa é também um grande derrotado das eleições europeias. Não apenas por ter estado em boa medida ausente das campanhas eleitorais, mas porque uma maioria de eleitores decidiu não ir votar. Desde 1979, nas primeiras eleições directas para o PE (quando a Europa era apenas a Nove), que os eleitores se vêm afastando cada vez mais das urnas, de cada vez que são chamados a elegê-lo. Desta vez, a abstenção parece ter atingido um valor recorde.Na França ou em Portugal esse valor foi mesmo o pior de sempre. A média europeia de afluência às urnas não ultrapassa os 40 por cento. O desinteresse (ou o protesto) parece ser ainda maior nos países da Europa Central e de Leste, que entraram em 2004, que foram duramente afectados pela crise e cujos sistemas políticos são mais frágeis e mais voláteis. Na leitura dos números, não é fácil distinguir entre o que resultou da decepção em relação à Europa e o que representa a desilusão bastante generalizada com as elites políticas nacionais. O receio do futuro, a percepção de que Bruxelas teve um fraco papel na reacção à crise, a ausência de um discurso europeu que faça sentido para os tempos de hoje, em que tudo está em mudança, podem ajudar a explicar muita coisa. Não inibem os líderes europeus de tirar também dos resultados nacionais algumas conclusões europeias».

[Artigo de opinião de Teresa de Sousa, in Público]

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