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sábado, 10 de outubro de 2009
Uma reflexão sobre «Baraka» (filme de Ron Fricke, 1992)
«Baraka» («espécie de poder espiritual hereditário», para certos sectores islâmicos do continente africano) é um ensaio multimedia arrojado, que coloca em perspectiva a diversidade e as contradições da natureza do homem, da natureza em si, e da natureza das relações humanas.
Expõe diferentes dinâmicas e ritmos do Universo, através de uma estética e sonoplastia poderosas (a música de uns Dead Can Dance não será um incidente, a ausência de um guião literário é uma virtude). Confronta-nos, ainda, com um dilema da estética: por um lado, a beleza da exaltação dos fenómenos naturais e dos ritos e rituais humanos, por outro, a beleza do apocalipse e da mecanização. Neste sentido, «Baraka» poderá ser um objecto artístico perigoso, se o receptor da mensagem não reflectir, não discernir, dentro da sequência de beleza compulsiva, uma qualquer moralidade, por vezes secundada pela estética. O desafio está, para o espectador mais exigente, nessa procura. O deslumbramento não chega para disfrutar, porque cega.
Há imagens marcantes, neste «documentário» amplo sobre a vida, o Homem, a sociedade, as religiões, as crenças e a economia, que petrificam: os loops do homem a trabalhar as máquinas, como se fosse exactamente uma máquina, como se o processo alucinante de produção industrial se confundisse com o processo de maquinização do homem; os pintaínhos a serem tratados como um qualquer produto de consumo desenfreado e descartável, espécie de peluches comestíveis; o hipnotismo, o mistério e a sincronia audiovisual de alguns rituais de tribos em paisagens remotas e quase virgens; ou a imagem da penúria e da procura de alimento, por vacas junto a mulheres e crianças, no meio de uma lixeira astronómica; a queda de uma árvore a devastar, a desequilibrar parte considerável do ecossistema circundante.
Enfim, «Baraka» é um buraco fundo, por descobrir e cobrir.
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4 comentários:
Um "documentário" notável, verdadeiro soco no estômago das consciências mais acomodadas, acompanhado por um curto mas incisivo texto interpretativo, suficientemente lúcido e perspicaz para nos fazer pensar no desconcerto do mundo que habitamos e do qual nos mantemos tão alheados: o mundo da miséria extrema, que uma vez exposta de forma nua e crua fere como punhais.
Obrigado por esta dádiva, Tiago.
Para evitar equívocos (que talvez eu tenha suscitado):
Carlos, obrigado pelo comentário, mas, atenção!, o «Baraka» não se cinge a esta «montagem» de meia dúzia de minutos, redutora, aliás, por mostrar apenas a face mais azeda e «desumanizante» da Humanidade. O filme tem cerca de 2 horas.
Um abraço.
Já agora fica a sugestão, se gostaste deste filme vê também a triologia Qatsi, sobretudo o Koyaanisqatsi, (no qual o realizador de Baraka colaborou, 10 anos antes).
(A banda sonora de toda a triologia, de Philip Glass, também é muito boa )
Um Abraço
Diogo Neto
Diogo, agradeço as recomendações. Vou anotar e procurar.
Obrigado pela participação.
Tiago
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