Belíssimo, o poema de Jorge de Sena aqui deixado pelo Paulo Carvalho. Assenta como uma luva nos efeitos que a globalização provoca e que já se fazem sentir um pouco por todo o lado. A mensagem é de uma actualidade desarmante.
Versos que nos salvam. Versos que nos interpelam. Perante as ameaças, que temos feito para tornar o mundo melhor e mais humanizado? Como travar a globalização da pobreza e a concentração da riqueza num número cada vez mais restrito de pessoas? Queremos melhorar ou destruir o mercado? E o progresso, passa pelo mercado global? Tantas perguntas ... quantas respostas?
Por mim, não acredito em soluções alternativas que suprimam a democracia. Parte da solução residirá, assim, no seu aprofundamento. A intervenção cívica dos cidadãos não pode limitar-se ao exercício do direito de voto de quatro em quatro anos. Mais democracia significa aprofundá-la no domínio económico, social, cultural e ambiental. Importa formar e estimular uma verdadeira opinião pública mundial, própria de cidadãos e não de súbditos, capaz de contrariar a lógica actual da globalização que sobrepõe o lucro à protecção dos cidadãos.
O que é preciso é globalizar a paz e não a guerra, mas tendo presente que a paz não é a ausência de guerra. O que importa é promover a felicidade e não a miséria mais extrema. A globalização deve estar ao serviço do homem e não dos que tudo fazem para o aniquilar. Só assim a humanidade se reconcilia consigo mesma.
Governar bem, a favor dos que mais precisam, será assim tão complicado ou difícil? Salazar, imbuído da mística do sacrifício, costumava dizer: se soubésseis o que custa governar, gostaríeis de servir toda a vida. Mais terra a terra, mas particularmente lúcido e objectivo, o poeta popular António Aleixo lá ia encontrando razões para os desconcertos da governação:
Há tantos burros mandando,Versos que nos salvam. Versos que nos interpelam. Perante as ameaças, que temos feito para tornar o mundo melhor e mais humanizado? Como travar a globalização da pobreza e a concentração da riqueza num número cada vez mais restrito de pessoas? Queremos melhorar ou destruir o mercado? E o progresso, passa pelo mercado global? Tantas perguntas ... quantas respostas?
Por mim, não acredito em soluções alternativas que suprimam a democracia. Parte da solução residirá, assim, no seu aprofundamento. A intervenção cívica dos cidadãos não pode limitar-se ao exercício do direito de voto de quatro em quatro anos. Mais democracia significa aprofundá-la no domínio económico, social, cultural e ambiental. Importa formar e estimular uma verdadeira opinião pública mundial, própria de cidadãos e não de súbditos, capaz de contrariar a lógica actual da globalização que sobrepõe o lucro à protecção dos cidadãos.
O que é preciso é globalizar a paz e não a guerra, mas tendo presente que a paz não é a ausência de guerra. O que importa é promover a felicidade e não a miséria mais extrema. A globalização deve estar ao serviço do homem e não dos que tudo fazem para o aniquilar. Só assim a humanidade se reconcilia consigo mesma.
Governar bem, a favor dos que mais precisam, será assim tão complicado ou difícil? Salazar, imbuído da mística do sacrifício, costumava dizer: se soubésseis o que custa governar, gostaríeis de servir toda a vida. Mais terra a terra, mas particularmente lúcido e objectivo, o poeta popular António Aleixo lá ia encontrando razões para os desconcertos da governação:
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.
Termino com o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht. As suas palavras são balas dirigidas à realidade da Alemanha hitleriana, mas são também intemporais. Aplicam-se a qualquer outro tipo de governação onde a “tolice com cabeça de touro”, como dizia o Eça, costuma assentar arraiais e desculpar-se com a DIFICULDADE DE GOVERNAR.
ITodos os dias os ministros dizem ao povo
como é difícil governar. Sem os ministros
o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
nunca mais haveria guerra. E atrever-se-ia a nascer o sol
sem autorização do Fuhrer?
II
É também difícil, ao que nos é dito,
dirigir uma fábrica. Sem o patrão
as paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
ele nunca chegaria ao campo sem
as palavras avisadas do industrial aos camponeses.
Quem,
de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
III
Se governar fosse fácil
não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Fuhrer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para portas
não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes.
IV
Ou será que
governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
são coisas que custam a aprender?
1 comentário:
Actualíssimo, Brecht:
O ANALFABETO POLÍTICO
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.
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NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
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Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem
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