domingo, 8 de março de 2009

Perfeitamente de acordo...

Direito à honestidade

Se o desonesto conhecesse as vantagens de ser honesto,seria honesto ao menos por desonestidade.Sócrates (filósofo grego)

OS PORTUGUESES usufruem, felizmente, de um imenso rol de direitos. A leitura da Constituição é suficiente para termos essa certeza. Outros diplomas, das Cartas europeia e universal à lei avulsa, garantem esses mesmos direitos, alargando-os, desenvolvendo-os e dando-lhes tradução prática. Nem todos esses direitos são realmente garantidos e direitos há, os direitos sociais especialmente, cuja eficácia real é duvidosa (direito ao emprego, direito ao alojamento digno, direito à cultura, etc.), mas que encontram, no Estado, obrigações derivadas (subsídios de desemprego e social de inserção, etc.). Entre outras lacunas, um direito faz falta aos cidadãos: o direito à honestidade dos seus dirigentes políticos, económicos e empresariais.

A HONESTIDADE é um valor em decadência há muito tempo. Não que tenha sofrido, como muitos pensam, da avalanche moderna que se traduz na frase feita: “Hoje, já não há valores”! Aconteceu simplesmente que outros valores mais altos se levantaram. Há muitas pessoas que, com saudades de um qualquer tempo que recordam com doçura, acreditam com ansiedade nessa falsa verdade. Pensam que a “crise de valores” reside no desaparecimento dos ditos. Ora, tal não é verdade. Nos dicionários, por exemplo, os significados de “valor” que consistem em qualidades intrínsecas, em atributos como o bom, o belo, o verdadeiro e o digno e em crenças morais respeitadas, vêm muito depois de outros significados mais terrestres, como sejam os preços, as quantidades, os valores nominais e reais, etc. Na classificação dos valores, a moral, o belo, a verdade e a dignidade não estão à cabeça. (...) para continuar a leitura do artigo aqui.

«Retrato da Semana» - «Público» de 8 de Março de 2009 por António Barreto

8 comentários:

Pedro Carvalho disse...

Este post tem dedicatória especial e vem a propósito de uma recente conversa que tive com dois amigos Palhacenses. É verdade que a honestidade é um valor em decadência há muito tempo mas há gente interessada em mudar o rumo das coisas. Não somos todos iguais. Basta querer ser diferente.

Andreia disse...

concordo totalmente Pedro. acredito que se cada um fizer a sua parte, conseguiremos mudar o rumo das coisas. ser honesto em vez de aproveitador.. é como aquelas promoções que se vêm nos hipermercados.. estão a oferecer qualquer coisa que nem me interessa ou até nem gosto, mas como é de graça encho os bolsos!! que figura tão triste, não é?
estou nessa!!!

TPC disse...

Bom texto, o do António Barreto, sobre a hierarquia dos valores, sempre discutível.


Uma pergunta retórica ou não:

Uma Manuela Ferreira Leite, tal como outros políticos da nossa praça (da esquerda à direita), quando insistem na tecla da honestidade, da «Verdade», inclusive em slogans, não poderão ser interpretados ao contrário?

Pode ser vista nessa «Honestidade» - como estratégia, um marketing especial (um marketing que se diz anti-marketing) - como uma desonestidade? Não era suposto os nossos representantes serem NATURALMENTE honestos?

Talvez os políticos até representem e reflictam, na índole, a variedade de índoles das pessoas que os elegeram...

O nível a que se desceu nesta semana no Parlamento (falo, p.e., do episódio entre dois deputados do sempre muito bem comportado Bloco Central, com insultos pelo meio) talvez seja um exemplo de cair da máscara dos políticos supostamente diplomáticos e ditos moderados... O político que afinal também é um ser humano, vulgar e elementar quando traído pelo impulso... desce do hemiciclo ao café.

Uns mais honestos do que outros, uns mais agarrados ao poder e ao material do que outros... Se calhar, estamos lá todos representados.

Voltando aos detentores da VERDADE, pergunto: não deveria esta ser natural, emanar das acções e não repetida até à náusea nos media, até perder o sentido?

E será isso realmente possível, sendo a política também uma construção, umas vezes mais sólida e credível do que outras?

Nota: Com isto, não estou a fazer um branqueamento de promessas quebradas do executivo de Sócrates... Mas sejamos honestos, a senhora Leite não saberá que nós também já a apanhámos a desconsiderar-nos, com «não-verdades» (para ser simpático)? O senhor Jerónimo de Sousa não saberá que nós sabemos que na Coreia do Norte, um país-modelo segundo as últimas Teses do seu partido, os direitos humanos são espezinhados sem freio, enquanto o ouvimos defender os direitos humanos em Portugal?


Tiago

Anónimo disse...

A honestidade não deve ser falada deve ser praticada. Nenhum partido deve assumir-se como o paladino da honestidade. Nenhum mesmo! Desde a extrema-esquerda (BE) à direita portuguesa (PP)todos têm telhados de vidro. Mas também só temos 30 anos de democracia.

Rui M.

TPC disse...

Concordo consigo, Rui. Nenhum partido, e, acrescento, nenhuns paladinos das «grandes» ideologias (as mais amadas já mostraram provas de fracasso - vide comunismo ortodoxo ou capitalismo de Estado, vide neoliberalismo), e nenhum cidadão (também temos responsabilidades e não vivemos em função exclusivamente dos erros dos partidos).

Penso que o importante é termos a ousadia de admitir erros, para avançar para outra ordem, dialogar sempre que possível.

Quanto às ditas extremas do espectro político português, as nossas até que são pouco extremadas. Mas esta questão dava pano para mangas...

Pedro Carvalho disse...

Ó Tiago,
"Quanto às ditas extremas do espectro político português, as nossas até que são pouco extremadas."

Não te esqueças que o BE (nome giro, não é?) Teve origem numa coisa chamada PSR - Partido Socialista Revolucionário.

Mas como tu dizes isto dava pano para mangas. Prefiro mais dicutir valores que propriamente ideologias, se é que elas existem, dos partidos.

Anónimo disse...

Pedro, dizes: «Prefiro mais dicutir valores que propriamente ideologias, se é que elas existem, dos partidos». Mas é precisamente esse o ponto. Não existem, e isso não é nada bom. As ideologias, para o mal e para o bem, eram programas de transformação da sociedade. O que agora os partidos têm são estratégias de sobrevivência - daí que, em relação ao bem comum, zero! Com efeito,a genaralidade dos políticos hoje são realistas, ou seja, cínicos; trabalham para o presente umbilical do próprio partido (leia-se, a sua manutenção dentro do mesmo); o futuro melhor já não lhes interessa, a utopia é para eles uma infantilidade...

Paulo C.

TPC disse...

Se nos centrarmos na génese dos partidos (um bem da democracia, por mais que os critiquemos) com assento parlamentar, facilmente chegaremos à conclusão de que alguns políticos militantes provieram das extremas, inclusive os ditos moderados (Vejo a radicalização como reacção e sintoma das «dores de crescimento» de Portugal, quer nos anos de ditadura cinzenta, quer no PREC vermelho - os excessos não terão sido reacções a défices?).

Sugiro-te, Pedro, um exercício de memória, em nome da multilateralidade e do possível sentido de História. A sensatez dir-nos-á que a História não é estanque, muito menos a dos partidos. Eles vão-se construindo, transformam-se, confrontam ideologias com a realidade, como os seus membros , e como os próprios independentes.

Transformados, entretanto, ou não, os partidos nasceram assim:

CDS: gente de gene democrático, cristãos assumidos, adeptos do liberalismo económico, mas também herdeiros das bandeiras salazarista e marcelista;

PSD: democratas liberais ou conservadores, ex-comunistas (maoístas ou estalinistas), Carneiristas, simpatizantes do Marcelismo e de Salazar (terão havido realmente social-democratas , ideologicamente de esquerda, na génese do partido?);


PS: socialistas, sociais-democratas, republicanos, anti-fascistas, ex-comunistas;

BE: adeptos da social-democracia nórdica, democratas, movimentos civis independentes (pós-Maio 68 e Primavera de Praga, LGBT, mulheres, ambientalistas), ex-comunistas, ex-socialistas, anti-capitalistas, anti-estalinistas, e união de partidos trotskistas e maoístas;

PCP: sindicalistas revolucionários, anarco-sindicalistas, anti-fascistas, republicanos, marxistas-leninistas, soviético-vergados.

Corrija ou complete esta mini-História quem tiver mais e melhor informação.

Conclusão: todos os partidos têm manchas no currículo, em episódios de resistência ou de reformas.

Agora, penso que, mais do que falar do PSR ou no Salazar, é mais importante olhar em frente e procurar respostas para a conjuntura económica e social, dentro e fora dos partidos.